Capítulo 13

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Sanches

Eu: Beatriz - falo com a voz grossa e ela não me responde, só sinto os tapas no meu rosto - Ela acordou, vai dar comida pra ela, eu tô cansado - ela resmunga e se vira pro outro lado, só fica eu e a neném acordados - Tu é foda, vai dar comida pra ela, eu não sei fazer não.

Beatriz: Eu tenho faculdade logo cedo, Sanches - ela fala baixo e eu estalo a língua no céu da boca, coçando meus olhos - Levanta e vai você, depois eu dou banho nela - ouço a risada da menina e me levanto, tateando os móveis do quarto - Já foi? Adiante, meu filho.

Eu: Fale direito comigo, tá estressada? Eu vou te acordar daqui a pouco, dorme tranquila que já já tu vai ter surpresa - ela dá risada e eu pego a Duda no colo, saindo no meio do quarto escuro - Meter a zero nesse teu cabelo de bruxa, ainda boto na doação.

Duda: Pai - ela bate no meu rosto e eu abro a porta, fechando os olhos pela claridade do sol - Pai, desenho - eu olho pra ela, vendo a cara toda amassada e a pele branquinha bem rosada - Pai - eu resmungo e ela fica me olhando, batendo palma - Pai, água - ela começa a falar árabe e eu não entendo mais nada, só vou caminhando com ela no colo.

Eu olho as comidas, vejo que tem como fazer comida pra criança, mas eu não sei fazer. Olho ao redor e tem tudo, problema é eu não saber fazer, tem como olhar na internet, só que eu não sei mexer nesse iphone, é muito difícil. Pego ele em cima da bancada da cozinha e entrego pra ela.

Eu: Bota no YouTube - ela segura o celular com as duas mãos e fica me olhando - Desenho, coloca aí pra tu assistir - ela começa a abrir e fechar a boca, fazendo barulhinho pela baba.

Ela demora um tempinho, mas mexe no meu celular e coloca no YouTube, agora eu consigo mexer e já coloco nos vídeos pra fazer comida de criança, sei cozinhar tudo, menos isso porque eu não tenho contato com criança. Ela fica no meu colo e eu faço o gogó dela, só tá eu e ela aqui, agora eu tô feito mermo.

Procuro um chiclete e vou pra varanda enorme da casa do meu pai, aqui dá visão pra Vila Cruzeiro inteira, me sento na cadeira de madeira e deixo ela tomando o gogó, enquanto eu olho as mensagens. Procuro os contatos e vejo uma mensagem da doutora querendo falar comigo, ainda tem essa. Se for sobre o vídeo, eu espero que não dê problema pra mim, não posso tá sendo exposto desse jeito, já tô errado de botar o pé na favela, isso é uma coisa que eu não posso fazer, mas faço.

Olho a perna dela, vendo os pontos na frente e nas laterais tem um curativo todo branco, ela tira a chupeta da mamadeira da boca e me mostra tudo vazio, eu tiro da mão dela, vendo ela sorrindo pra mim. Ajeito o body rosa e ela fica mexendo na corrente fina que eu tô usando. Olho pro lado, vendo as canetas que eu trouxe e ela aponta pro tubo colorido de cada caneta.

Duda: Pai - ela aponta e eu olho, vendo as canetas balançando por causa do vento forte, ainda tá amanhecendo - Pai, desenho - eu sento ela na minha perna e pego uma caneta roxa, que parece um pincel, eu acho que é canetinha - Pai, au au - o cachorrinho aparece e sai correndo atrás da bolinha no canto da varanda.

Eu: Não sabe falar outra palavra não, né? - ela me olha e eu dou risada, abrindo a tampa da caneta, sentindo o cheiro de álcool - Vou desenhar no teu curativo, olha como tu vai ficar linda - ela fica quietinha e eu começo a desenhar no espaço branco.

Desenho no curativo todo e ela fica olhando cada coisa, eu me inclino pra frente e termino o desenho de princesa, vendo a carinha que ela faz.

Duda: Pai - ela aponta pro desenho e eu fico olhando pra ela, que segura a chupeta amarrada no pano rosa - Pai, olha - eu olho e me levanto com ela, indo pra dentro de casa - Pai.

Eu: Chama de tio - ela me encara e coloca a chupeta na boca, deitando no meu ombro - O tio Sanches vai comprar uma boneca pra você, tu vai cuidar dela? - ela se levanta do meu ombro e fica me olhando sem falar nada - Aquelas grandona.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora