Capítulo 17

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Sanches

Seguro na mão da Tiana, andando no meio da pista escura, ouvindo o barulho do jatinho lá atrás, vendo as luzes da cabine acesas. Olho pro lado, vendo que ela já calçou o salto de novo, mandei não usar mais, mas ela falou que sabe usar e tá andando com ele. Toda hora fica me puxando pra baixo, porque desequilibra e eu seguro ela.

Chego lá na frente, vendo a contenção me esperando do lado da McLaren, depois de ter voltado no jatinho. Um homem acabado? É o Sanches, não tem ninguém mais acabado que eu, tô tão destruído, que mal consigo andar. A porra da miopia e o astigmatismo acaba comigo, não consigo enxergar direito, forço a vista, aí dói tudo.

W7: Patrão, o Hariel chegou de viagem hoje pra completar a contenção - paro atrás da McLaren, segurando na mão da Tiana e confirmo - Ele tá vindo aí pra falar contigo e sobre aquele outro assunto, não deu pra resolver nada, caiu na rede não tem jeito - eu resmungo, vendo a resta dele perto de mim - Me julgou e fez igual.

Eu: Cuspi pra cima e caiu em mim mermo - solto a mão da Tiana e aponto pro carro - Sorte minha que eu não vou ver a menina mais - ele coça o nariz e franze o rosto - A menina que vazou no vídeo comigo.

W7: E eu pensando que era essa - ele aponta pra Tiana com a cabeça e eu nego, pegando a chave do meu carro - Melhor ainda, quando foi na minha vez, foi pior.

Eu deixo ele pensar que não foi com a Tiana, pra evitar assunto com o nome dela e também, porque eu sei como funciona a cabeça de outro homem. Então é melhor ser fingido pra colher o maduro, a vida tem que ser na base do fingimento, quando não tem jeito pra resolver de outra forma.

Entro no carro, ouvindo a Tiana resmungando baixo, tirando o salto do pé. Antes que eu fale alguma coisa, o Hariel aparece na janela do lado dela, o cara com o cabelo platinado olha pra ela e ela olha também. Eu percebo ela ficando diferente, mas rapidinho desvia o olhar, se abaixando pra tirar o salto...

Hariel: Boa noite, patrão - eu passo a língua pelo lábio, me inclinando pro lado, puxando a arma do porta luvas - Voltei hoje de lá e o resumo é o mesmo, a fazenda tá produzindo como no ano passado, mas a safra tá melhor ainda.

Eu: E a fiscalização tá de boa? - ele confirma e eu desvio o olhar pra Tiana, vendo ela digitar rápido no celular dela - As folhas de coca tá mais no fundo? Porque eu não quero elas expostas, se ficar na vista das outras fazendas, eu me fodo todo.

Hariel: Cultivo de coca tá tranquilo, tem gente tomando conta dessa parte - me encosto no banco, ouvindo ele tossir, voltando a falar comigo - Maconha tá em excesso, mas já tá resolvido, só o senhor aparecer lá pra dar uma olhada.

Eu confirmo, vendo ele bater na lateral do meu carro, olhando uma última vez pra Tiana, eu penso em perguntar pra tirar a dúvida, mas fico calado e só ligo o carro pra sair daqui.

Quando eu comecei, a primeira coisa que eu fiz foi me organizar pra não depender de ninguém, meu pai sempre ficava na mão de outros traficantes, justamente por ter que comprar droga. Faço diferente, não compro, eu vendo do preço que eu quiser, vai comprar? Bom. Tá caro? Bom também, é só procurar outro fornecedor e não querer taxar meus produtos, tenho muito papo pra negociar valor não, é aquilo e pronto. Na minha fazenda eu planto tudo, até soja tem, mas é só pra disfarçar o cultivo de coca e maconha.

Eu: Vai ficar em casa? - olho ela cruzando as pernas, reparo na cara de dor dela e nego com a cabeça - Falei pra não usar o salto, tu não sabe usar e agora tá cheia de dor - ela mexe no cabelo e dá risada, fechando os olhos no processo - Bota o pé aqui.

Tiana: Vou ficar em casa mesmo e o problema não é só o pé - ela dobra os joelhos e estica as pernas por cima das minhas, se ajeitando no banco dela - A piscina acabou comigo, tô toda assada.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora