Capítulo 22

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Tiana

Fim da minha mamata com o Tigrinho. Tristeza me resume, mas pelo menos eu cheguei na fase que sempre sonhei, quando criança: Triste e rica. Sim, agora eu tô triste, mas tenho dinheiro pra suprir essa ausência de felicidade, vai passar, é momentânea a minha tristeza.

Porém, não vou diminuir a minha ausência de felicidade com dinheiro, gosto de sentir minhas emoções. Sente, Tiana, sente que daqui uns dias o universo vai te recompensar. Tem sido assim, fui traída e Deus mandou um Tigrinho, foram 7 dias? Foram, mas foi equivalente a 1 ano com o Tatilon. Fui atropelada e o universo me mandou quem? Ele mesmo, o meu Tigrinho, mas o universo foi lá e tirou ele de mim.

Tristeza, tormento, lamentação, rancor, vazio e melancolia é o que eu tô sentindo agora.

O menino vira na rua de baixo, diminuindo o volume do som e eu percebo ele me olhando pelo espelho interno, sorrindo com os olhos. Reparo na sobrancelha com um risco, mas não é um risquinho normal, parece uma cicatriz, ele passa a mão pelo encaixe e regula o retrovisor, focando melhor os nossos olhares, até falar pela primeira vez.

Eziel: Queria falar nada não, por causa do patrão, tá ligada? - passo a língua pelos lábios, confirmando pra saber o que é, porque sou curiosa - Só queria falar que tu mandou muito lá na briga, aquela doutora é cheia de pose e não é porra nenhuma, bateu foi pouco, tive que separar por ondem do Sanches, mas minha vontade era de te ajudar.

Eu: Não sei se fico feliz ou preocupada com esse apoio todo - ele dá risada e eu me mexo no banco de couro, sentindo o cheiro do perfume do Tigrinho, porque eu passei o perfume que tinha lá no quarto dele - Ainda caí da laje, não tô sentindo nada, mas sei que o impacto vem após a adrenalina, se quebrou alguma coisa, eu vou pro presídio e faço seu chefe pagar, porque ela me odeio por causa dele - ele me olha pelo espelho e fica calado - Nunca vi uma advogada tão possessiva com o cliente.

Eziel: Sei de nada não - ele fala baixo e eu estreito os olhos pelo tom de voz, ouvindo ele falar novamente - Patrão é tranquilo demais, ninguém vê nada do que ele faz, por isso é respeitado, tem que ficar se aparecendo mermo não.

É por isso mesmo que eu jogo com ele, eu sinto o cheiro de homem sonso no ar, não que ele esteja errado, claro. Mas eu me dou o meu valor, não fico com ninguém que já tenha ficado com outra pessoa, no mesmo dia.  Por que, Tiana? Eu sou o que? Biomédica pra tá coletando saliva dos outros? Quero DNA de ninguém não, sou tão monogâmica que não compartilho três salivas de uma vez, apenas a dele, mas ele já tava misturado, por isso eu deixei sozinho mesmo. Ainda negou que ficou com outra, eu que não caio no conto do vigário.

Tava louca pra conseguir o vale do dia, ele falando naquela calma que me irrita, mas me instiga também, queria mesmo, mas infelizmente tenho amor próprio e não consegui separar os meus princípios morais dos meus princípios de jogadora.

Te odeio, às vezes, Tiana com princípios.

"Tá mais calma? Como vai ser hoje? Fala pro seu Tigrinho"

Quando ele se referiu a ele mesmo, como meu Tigrinho, ali eu fiquei só o vídeo da Alessandra Negrini tentando disfarçar o tesão.

Se ele me der corda, eu pego a corda e amarro nele todo pra ficar na minha cola, seria o meu Tigrinho domesticado, só meu, ia agarrar e ninguém tirava de mim, mas não é bem assim também. Deus ajuda, mas não dá asas à cobra e ele tá certo, porque eu ia me apossar do bicho listrado. Ia chegar de mansinho, conquistar a fera pra depois me apossar dela, o roteiro já tava todo pronto, mas alguém foi lá e tirou de mim.

Eziel: Se o Sanches ver isso aqui não vai dar bom não - eu saio dos meus pensamentos e olho pro lado, vendo a rua de casa cheia de gente de novo - Não consigo descer mais não, tem problema tu ficar aqui? O povo tá na rua e pra tirar só com a tropa toda, tô sozinho, pô.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora