Capítulo 25

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Sanches

Estico a seda na minha perna, passando o dedo por cima pra deixar rente do jeito que eu quero. Deslizo a palma por cima, ouvindo o atrito no papel e me inclino pro lado, pegando a erva in natura, colocando dentro do dichavador, fecho e trituro até soltar toda a erva pronta pra enrolar. Pego a seda, passando a língua pela ponta, jogando a erva dentro do pequeno córrego, começando a enrolar bem fininho, mas sem apertar muito pro ar passar fácil. Olho pra frente, vendo meu reflexo na televisão presa no suporte e desvio pro chão, passando a língua mais uma vez, colando a última parte a ser enrolada.

Pressiono o polegar e o indicador no comprimento do baseado, deixando tudo retinho, quando fica do jeito que eu gosto, eu pego o isqueiro e acendo, deixando a chama laranja queimar tudo, até o cheiro forte subir na sala toda. Coloco na boca e dou a primeira tragada, deslizando meu corpo sobre o sofá, ouvindo o choro de criança ficando mais próximo de mim. Passo a língua pelos lábios, puxando a fumaça pra dentro e vejo a Duda chegando perto de mim, ela me olha chorando e fica entre as minhas pernas, mas eu não faço nada.

Viro o rosto pro lado, soprando a fumaça que cobre todo meu rosto, deixando a mão apoiada no joelho, vendo o baseado queimar. Escuto ela chorando sem parar e me inclino pra frente, ficando com o rosto próximo do dela.

Eu: Tá chorando por que? - ela faz um bico, eu olho o narizinho vermelho e os cílios molhados, vendo ela suspirar, ficando quieta por um tempo - Precisa chorar desse jeito, princesa?

Ela faz bico de novo, começando a chorar e eu dou risada, vendo ela deitar o rosto na minha coxa. Levanto a mão, colocando o baseado na boca e desço de novo, pegando ela no colo, deixando sentada na minha perna, com as costas encostadas no braço do sofá.

Leproso: Patrão, a coisa lá em baixo tá feia - eu olho pra trás, ouvindo ela soluçando do choro e ele se aproxima da porta de entrada, apoiando a mão na lateral amadeirada - Quem atirou nos moradores foi o Tatilon, aquele valor que a gente comentou na semana passada.

Eu: Tô lembrado pelo nome não, já bateu? - ele confirma, batucando na madeira e eu me viro pra frente - Então tá tranquilo, se teve problema com alguém, manda resolver e a surra eu quero que grave, não é pra bater e ficar por isso não, manda postar em tudo quanto for lugar, porque é exemplo pra outro otário pensar duas vezes antes de fazer.

Leproso: Já tá circulando nas redes, só vim te comunicar isso, papo foi feio lá em baixo e a Natasha tá aí - eu confirmo, balançando a Duda na minha perna - O Tatilon é ex da sua princesa, pô.

Eu: Ex da Tiana? - ele confirma, ajustando a bandoleira do fuzil e eu arqueio as sobrancelhas, trazendo o baseado pra boca - Manda descer uns 6 pra ficar nas duas esquinas e manter a rua no controle, porque o problema todo é aquela parte do morro.

Leproso: Papo reto, povinho briguento da porra, foi só pancadaria e ainda tinha plateia - ele bate a Kenner vermelha no chão, indo pra trás - Sua princesa ainda queria brigar de novo, quase brigou com uma encostada que vive na janela, tá ela e a tropa toda, o pior é que a rua é toda dela.

Eu: Briga de mulher é mais tranquilo, só não deixa acontecer, bater boca é o de menos - ele confirma, me encarando com os olhos pretos - Ameaça cortar o cabelo delas e elas param, a Tiana é de outro jeito já, mas a amiga começa a chorar.

Leproso: Isso nós já tá ligado, não é de hoje que elas arrumam confusão aqui não, briga com todo mundo que mexe com elas e ainda tem apoio - eu engulo a saliva, olhando minha sobrinha deitar o rosto, no meu peito, sem camisa - Mas é foda, porque a gente ameaça, mas aí a amiga dela abraça o Bacu e ele passa a mão na cabeça dela, quase ficou duro lá na rua.

Bacu: Fale nada não, seu leproso - ele grita lá fora e eu volto a fumar, olhando minha mão tatuada segurando o baseado - Levei sarradinha de frente e fiquei tonto mermo, vai me julgar por isso?

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora