Capítulo 31

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Sanches

Coloco o celular em cima da minha coxa, olhando a visão da fazenda grande, vendo a entrada cheia de coqueiro de cada lado da passagem, onde o carrinho de golfe passa, levando meu pai e o Bacu pra outra parte da fazenda, enquanto eu fico sentado na parte de fora da casa grande, esperando um retorno sobre a doutora. Não tinha visto, mas ela já tinha me mandado mensagem antes, só não tá respondendo agora que eu quero falar com ela.

Tiro o celular da coxa e olho pra tela de novo, olhando umas mensagens subindo, fazendo as mais antigas sumirem. Ela já tinha mandado mensagem sobre o presídio ter notificado ela com relação à tornozeleira, mesmo não tendo mais contato comigo, já que a gente encerrou o contrato. Então, eu já sou declarado oficialmente como foragido, só não comuniquei a ninguém ainda.

Luiza: Sanches, já tá tudo pronto pra você ir na plantação - levanto o olhar pro dela, vendo ela ajeitar o cabelo castanho, enquanto me olha - O helicóptero tá descendo, só falta a gente ir lá pra quadra.

Eu: Quero passar na plantação de coca e maconha, as outras não importa - falo baixo, levantando da cadeira de madeira, indo até ela - E ainda tem o galpão, só quero saber o levantamento de dinheiro mermo, tô falindo a cada dia que passa.

Luiza: Tá falindo tanto que o dinheiro morfa, porque não tem lugar pra botar - ela me olha rindo e eu franzo o nariz, ouvindo a risada dela, me acompanhando até a quadra - Não sei a quantidade exata, mas esse ano perdeu muito dinheiro, as cédulas tudo morfaram nesse calor.

Eu olho pra frente, passando pela passagem de pedra no meio dos coqueiros, enquanto vou conversando com ela, sabendo de tudo o que anda rolando aqui. Tem mais ou menos 9 anos que eu não piso aqui, porque 8 foi só de cadeia, então não sei de muita coisa, o básico eu fico sabendo da boca do Bacu e mais nada, o dinheiro só pinga na minha conta e já era Sanches, tem muito papo não. Ainda perco dinheiro pra caralho, justamente porque não tem onde botar, mas isso eu resolvo hoje.

Olho o helicóptero todo preto lá na frente e estreito os olhos, sentindo o vento forte batendo no meu corpo, fazendo a vegetação abaixar toda, devido à força das hélices prateadas. Me abaixo um pouco e corro até a porta aberta, entrando junto com a Luiza, ainda sem ouvir nada, por causa do barulho alto que faz aqui dentro. Pego o abafador de som e coloco no ouvido, sentindo a audição suavizando aos poucos.

Fartiz: Caralho, tu tá a mesma coisa, meu patrão - me inclino pra frente, fazendo um toque com o piloto - A cara de velho é a mesma, mudou nada, se possível tá mais gostosinho do jeito que elas gosta.

Eu: A viadagem não muda nunca também - volto pro banco, ouvindo a risada dele e aponto pra frente - Tô com quase 38 anos e tô solteiro, depois de velho que eu fico sozinho, tá fácil não - tiro o celular do bolso, sentindo o helicóptero subindo - Coroa precisando de cuidado e a mulher dando dor de cabeça.

Fartiz: Só vi tua mulher uma vez na vida, era novinha na época - olho pro lado, vendo a vista do lado da Luiza e ela me olha - Mulher é só dor de cabeça mesmo, a minha virou lésbica, tô sozinho também.

Luiza: Você tá solteiro porque quer, tem tanta mulher querendo um homem que banque do jeito que você banca - eu passo a mão na corrente de prata e dou risada, olhando pra baixo - E o Fartiz é daquele jeito, por isso ele foi trocado por mulher.

Eu: Foda - passo a mão pela camisa, tirando uns fios de cabelo de boneca, quando eu tava brincando com minha sobrinha - Não tá ruim não, ainda tô achando que não termino o ano solteiro, mas tô me segurando.

Eu sou um cara muito consciente, não vou ficar negando o óbvio, porque eu faço jus aos meus 37 anos e a fase de tá negando é coisa de moleque, tenho muita noção das coisas que acontecem na minha vida. Não tô pensando em relacionamento, porque acabei de sair de um casamento de 8 anos, mas não descarto a possibilidade de me envolver mais e mais com a Tiana e acabar rolando alguma coisa, até porque a carne é fraca. Quero ver quem se envolve com uma pessoa por tanto tempo e não desenvolve sentimento, ainda não conheci esse.

Por uma BucetaOnde histórias criam vida. Descubra agora