DOZE

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            Xiao Zhan

Mal consegui dormir à noite, pensando em tudo que Celeste me disse.
Pelo menos, é domingo e posso enrolar na cama até as costas começarem a doer.
YuBin mandou mensagem ontem à noite, falando para eu ir lá, à tarde, então aproveito a manhã para dar um trato em casa, já que durante a semana a correria não permite.
Chego ao apartamento dele no horário marcado, se já sou ansioso normalmente, imagina com uma bomba dessas para contar.
Perdi a conta de quantos chocolates comi hoje de manhã, para acalmar os nervos.
O porteiro já me conhece e nem interfona, só libera o acesso.
Bato na porta e meu amigo me recebe com cara de quem acabou de acordar.
— Sério que você estava dormindo?
— Claro que não! — dispara.
— Ok, talvez eu tenha dado uma cochilada no sofá — complementa, dando uma piscadinha.

— Depois não sabe por que não dorme à noite. Fica dormindo à tarde, parece criança.
— Tenho que aproveitar o dia de folga para repor as energias. Os dias têm sido foda, tem um novo pica das galáxias que está solicitando um monte de relatórios, burocracia do caralho.
— Sei, tá com chefe novo?
— Exato, mais para chefe do chefe, né?!
— Logo, ele se ocupa de algum outro assunto, e esquece vocês — tento animá-lo.

— Se a fofoca for verdadeira, é pouco provável. O cara é tipo uma lenda na Superintendência. O que acha de já pedirmos algo para comer, deve demorar horrores esta hora e aí, já começamos a falar sobre o caso.

— Até que enfim, uma boa ideia, YuBin.
— Assim, você machuca meus sentimentos — debocha, fazendo beicinho.
— Vou colocar minhas coisas no chiqueiro que você chama de quarto de hóspedes — digo, caminhando na direção do espaço que ele usa mais como depósito.

— Ei... até que está arrumado — grita da sala.
Dizer que está “até arrumado” é forçar a amizade. A cama está com roupas e mais roupas empilhadas.
Há sacolas e coisas espalhadas por todo lugar.
É perigoso até se perder no meio de tamanha bagunça.
Acho um pequeno espaço vazio na cama e coloco a mochila com o notebook e minha bolsa.
— Consegui encontrar a saída — digo ao voltar para a sala.
— Nem estava tão ruim assim, vai. Faz duas semanas que a Jô não vem e a roupa acumulou.
— Sabemos que o problema ali não é só a roupa para passar, YuBin, deixa de fazer cu doce. Você é bagunceiro, assuma!

— Pizza de frango com catupiry ou calabresa? — pergunta, dando risada e já mudando de assunto.
Pensar nos sabores me faz salivar, já que comi apenas um grelhado e salada no almoço.
— Humm.
— Na dúvida, as duas! — rebate, agarrando o telefone e discando para a pizzaria.
Perfeito!
—  Pizzas pedidas ,  vamos ao que interessa. Lembra que você disse que não estava conseguindo achar o processo no site do Tribunal de Justiça?

— Sim! Eu tentei pesquisar de tudo quanto é jeito, com ponto, sem ponto. Não achava o número de forma alguma.
— Eu resolvi consultar o número no sistema que usamos na delegacia, às vezes podia ter dado uma merda nele e afetado o outro do tribunal, já que são integrados.
— Tá, o que você descobriu?
— Aí que está o problema, não descobri nada, pois o processo consta como “Bloqueado”.
— Bloqueado? Como assim? — pergunto, quase gritando.

— Sim, chamei até um colega do suporte e não era nada errado na minha máquina. Alguém com nível de permissão fodido, simplesmente, bloqueou o acesso. Ninguém consegue ver mais nada do inquérito.
— Nem os investigadores que estão no caso?
— Aí que está, eles não estão mais trabalhando no caso.
— Como assim? Ainda não descobrimos quem as matou!

YuBin nem terminou e já estou irritado com esta palhaçada.
— Ordens superiores, Zhan. De acordo com eles, aparentemente, algum engravatado pediu para priorizar os casos com investigações e pistas ativas. Toda esta merda sobre os índices de combate ao crime, que precisam ser divulgados para a imprensa.
Isto não parece certo!
— Eu nunca vi algo assim chegar a bloquear no sistema, mas talvez se alguma pista nova chegar, podemos tentar fazer o caso voltar à ativa, Zhan
— dispara, tentando me animar.

DestemidoOnde histórias criam vida. Descubra agora