VINTE E DOIS

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       Wang Yibo

    Saio do quarto antes que a vontade de começar tudo de novo vença.

Porra.

Eu sabia que seria bom, mas ter Xiao Zhan totalmente entregue, foi fodido em tantos aspectos que não sei nem o que pensar.
Perfeito.
Meu estômago ronca e só então percebo que já é tarde.
Perdidos no nosso próprio mundo, nem nos lembramos de jantar.
Preparo um sanduíche para mim e outro para ele, mas quando abro a porta do quarto, o encontro dormindo, enrolado no lençol.
Lindo.

Vou para o computador, mas não consigo me concentrar em nada.
Jogo o número que Zhan me entregou, aquele que seu amigo anotou antes de morrer, em alguns sistemas de vigilância e nada aparece.
Uma senha, coordenada, até agora não temos ideia do que seja.
Merda.
Espero que a visita ao Sanctuary traga as respostas que precisamos.
É quase uma da manhã, quando finalmente resolvo tentar dormir.
Levanto-me para apagar a luz do quarto, quando escuto um som baixinho.
Um choro.

Caminho a passos apressados em direção ao seu quarto e o encontro chorando em meio a algum pesadelo.
É de cortar o coração.

— Moreno... acorde — chamo, tocando seu ombro e sentando ao seu lado na cama.
— Está tudo bem, foi só um sonho — digo quando ele finalmente desperta.

Olha-me ainda assustado e então me abraça, forte.
— Estou aqui...
— É a mesma droga de sonho. Estão sempre atrás de mim, mas... eu não consigo ver quem é... — explica com a voz falha.

— É só um pesadelo — tento confortá-lo.
— Eu sei...
— O que foi?
— Depois que você saiu do quarto... eu...
— Diga, Zhan.
— Fiquei me sentindo culpado — retruca e seus lábios tremem.
— Culpado?
— Sim, eu... YuBin morreu e eu estou aqui, transando, me divertindo.
Deus, me sinto mal... — lamenta, olhando para suas mãos.

— Olhe para mim, moreno. Se tem algo que eu aprendi, é que cada um tem uma forma de lidar com o luto. Uns vão chorar, dias, semanas, meses. Outros não derrubarão uma lágrima sequer. Cada pessoa é de um jeito. O fato de termos fodido, não afeta em nada a forma como você se sente sobre o seu amigo, ou o quanto ele era especial para você — digo, colocando seu cabelo atrás da orelha.
— Ele era... — funga.
— Não o conheci, mas tenho certeza de que era um cara fantástico e não ia querer te ver assim.

Lágrimas escorrem por seus olhos e as seco com meu polegar.
Abraça-me forte e, porra, quero tirar toda esta angústia dele.
— Se tem alguém para culpar, culpe a mim.
— Como assim?
— Eu que te amarrei naquela cama — digo, dando um sorriso.
— Sim, e eu fiz um belo trabalho resistindo — retruca, sorrindo.
— Nunca resista! — Miro seus olhos. — Se entregue a mim.
Esta investigação só trouxe mais um motivo para nós, mas a verdade é que com ela ou sem, eu queria você.
Deposito um beijo suave em seus lábios e ele acaricia meu rosto.
— Obrigado, senhor.
— Aqui, agora, sou apenas eu, Yibo.
Levanto-me da cama e caminho até a porta.
— Yibo! Será que você poderia ficar mais um pouco aqui, comigo?
Até eu dormir — pergunta, meio sem graça.

— Com certeza, moreno — concordo, voltando para junto dele e me deitando ao seu lado.
Aconchega-se na curva do meu braço e aproveito para acariciar seu cabelo, enquanto olho para o teto.
Não sei quanto tempo passa ou quem dormiu primeiro, só sei que é a primeira vez, num bom tempo, em que não tenho pesadelos.
Encontrei minha paz!

          ❍❍❍❖❍❍❍

Desperto e a primeira coisa que vejo é que não estou no escritório, e a julgar pela forma como minhas pernas estão entrelaçadas com as de Xiao Zhan, eu dormi pesado.
Sinto a fragrância do seu cabelo e fecho os olhos, apenas curtindo a sensação boa que é estar aqui, com ele.
Ignoro a sensação de opressão no peito, que vem junto e que não sei explicar.
Respiro fundo e decido ficar aqui mesmo e cochilar mais um pouco.
Levantar agora só iria despertá-lo, e a julgar pela escuridão, ainda falta um pouco para amanhecer.
Fecho os olhos e aproveito o momento.
Um leve movimento na cama me faz despertar e me deparo com Xiao Zhan, tentando sair dela, , sem fazer barulho.
— Bom dia moreno! — digo, me espreguiçando.
— Aiiii! Desculpe te acordar, mas eu realmente preciso ir ao banheiro— diz, tentando caminhar até o banheiro sem tropeçar . Ele meio que se escondia por estar nú.
Quero lembrá-lo de que já vi absolutamente tudo ali, mas apenas sorrio com a cena.
— Já é mais do que hora — retruco. — Eu acabei pegando no sono também... — digo, pulando da cama.
— Vou ligar a cafeteira. — Caminho em direção à porta.
Estou quase saindo, quando o escuto me chamando.
Apenas o rosto para fora da porta do banheiro, um sorriso lindo no rosto.
— Eu gostei de dormir com você, Yibo — solta, antes de encostar a porta e me deixar sorrindo de orelha a orelha.

Eu também gostei... pra caralho.
Estou terminando de passar manteiga em umas torradas, quando ele entra na cozinha.
— Uau, você já fez praticamente tudo.
— Se divirta. — Dou uma piscadinha lhe servindo uma xícara cheia de café.
—Obrigado.
— Amanhã, você ajeita o café.

— Deixa comigo — rebate —, mas não é só por isso. Obrigado por ficar comigo ontem à noite, eu... precisava daquilo.
— Não foi um sacrifício, moreno. Se você roncasse, aí teríamos um problema — brinco.
— Eu estou falando sério — retruca, revirando os olhos.
— Coloque na sua cabeça que estou aqui para você. Somos amigos, lembra?
A palavra sai com gosto amargo da minha boca.
— Sim, amigos — repete Zhan, desviando o olhar e focando a atenção no seu café.
— Qual será a programação de hoje?
— Preciso só ver umas coisas para o Tristan, e então podemos ir comprar roupas para você e almoçar fora.
— Roupas? Já compramos o suficiente, não precisa se preocupar, Yibo.
— Você precisa de roupas especiais para irmos na casa do Max e no Sanctuary.
— Nossa, não tinha pensado nisso, mas você tem razão, minhas roupas não são para sair, muito menos, ir em qualquer festa ou balada. Vou ligar para a gerente do banco...
— Não se preocupe com dinheiro, Zhan. É presente meu.

— Yibo, você já tem me ajudado demais. Eu tenho dinheiro, só preciso que ela aumente meu limite, até meu salário cair.

— Quando receber, você paga algo, mas hoje sou eu que pago tudo.
Você é meu convidado. Além disso, não são roupas que você poderá usar em qualquer lugar.

Olha-me, curioso, mas fico em silêncio.
Mal posso esperar para ver sua reação.

— Você vai me deixar curioso?

— Daqui a três horas saímos e você terá suas respostas — informo, caminhando em direção ao escritório.

— Três horas? Você está de brincadeira comigo!

Apenas sorrio, permanecendo em silêncio.

— Sem coração — grita da cozinha.

E eu não resisto, caio na risada, pensando que a roupa é o menor de seus problemas, quero ver quando descobrir o que tenho planejado para nosso passeio.

(....)

DestemidoOnde histórias criam vida. Descubra agora