Destemido

TRINTA E DOIS

                    Xiao Zhan

A casa dos pais de Yibo fica numa área residencial, são muitas casas e prédios baixinhos espalhados pelos quarteirões.
Parece ser um bairro bem tranquilo.
Desço do carro, tenso, mas Yibo segura minha mão, me lembrando de que está tudo bem, ele está aqui.
Leona e Joseph me recebem tão bem, que toda tensão vai embora.
É incrível ver esta outra faceta de Yibo, a forma como ele e seus pais se gostam e brincam uns com os outros.
Sabendo o que o menino de dez anos passou, é um alívio pensar na família que ele conseguiu.
Vejo os porta-retratos espalhados pela sala e só consigo admirar ainda mais o casal e tudo que construíram.
Quantas crianças não têm a mesma sorte.
O almoço estava divino, não sei pronunciar o nome do prato, mas era um bife à milanesa de carne de porco, com salada de batata.
Comi horrores e para completar, ainda tem bolo floresta negra de sobremesa.
Vou explodir se continuar assim, mas impossível resistir.
Estou a ponto de dar mais uma garfada, quando o brinquedo ganha vida e começa a vibrar dentro de mim.
Puta que pariu.
Pulo de surpresa, mas felizmente ninguém percebeu.
Olho na direção de Yibo, mas ele se faz de desentendido e continua comendo seu doce.
Começo a me acostumar com a vibração, quando o treco começa a inchar e vibrar mais rápido.
Oh Deus...

Fecho os olhos e apoio o talher sobre o prato, fazendo um esforço sobre-humano para não gemer na frente de todos.
— Não gostou do bolo, querido? — pergunta a mãe do Yibo.
E agora? Respire, Xiao Zhan .
— Oh... não... gostei, sim... Estou... — Olho para Yibo pedindo ajuda.
—  Zhan  come bem devagar mesmo, mãe. Ele gosta de apreciar as sensações — diz, colocando uma cereja na boca.
— Agora que você comentou, lembro-me de ter visto em algum programa de televisão sobre isso, ajuda na saciedade. A pessoa come menos.
Você deveria fazer isto, ao invés de devorar a comida.
— Sim, mãe, não se preocupe, vou comer devagar... — retruca, me devorando.
Não vou aguentar, não vou...
Sinto o rosto quente e meu coração bate acelerado. .

Respire, Xiao Zhan .

O plug para de vibrar, começa a diminuir de tamanho e solto o ar que estava segurando.
Yibo dá uma piscadinha na minha direção e no momento, estou dividido entre a vontade de dizer o quão louco ele foi, ou simplesmente pedir para que me coma.
Pelo amor de Deus, isso foi... intenso.
Quando minha frequência cardíaca volta ao normal, acompanho Leona até a cozinha, sob seus protestos.
Claro que vou ajudá-la com a louça.
Sem discussão.

Estou lá ensaboando um copo, quando o vibrador liga no máximo, me fazendo dar um pulo de susto.
O copo escapa da minha mão e estatela no chão.
Felizmente, o brinquedo para de vibrar e Yibo e seu pai chegam à cozinha.
— Está tudo bem por aqui? — pergunta, preocupado.
— Tudo bem, um copo escorregou da mão da  Zhan . Está tudo bem, querido. Esta semana quebrei um prato. Tem hora que parece que eles têm vida.
— Sinto muito, Leona — retruco.
— Pare com isso. Vou pegar a vassoura e já volto.
— Você se machucou? — questiona, segurando minha mão e me olhando com atenção.
— Estou bem... foi só um copo, e eu não estava esperando —
sussurro.
— Desculpe, moreno — diz, apoiando sua testa contra a minha.
— Não por isso — digo, apoiando a mão no seu peito.
Quando chega a hora de irmos, fico surpreso em como o tempo passou rápido.
— Xiao Zhan , querido. Foi um prazer te conhecer. Espero revê-la em breve.
— O prazer foi meu, sra... quero dizer, Leona — corrijo-me, a abraçando.
Sei que não vou revê-la, mas guardo essa parte para mim.
Adorei conhecer os pais de Yibo e não pude deixar de me lembrar dos meus. Quando me visitavam , nossos almoços eram sempre assim, animados.
Hora de irmos para o hotel e nos prepararmos para a ida ao clube.
Só de pensar nisso, um misto de emoções me invade.
Espero encontrar as respostas que precisamos e não perder meu coração no processo.
Somos amigos, apenas isso.