QUARENTA E NOVE

212 55 8
                                    

                 Wang Yibo

Ele foi embora.
Não posso acreditar, porra.
Sinto meu peito apertado e é difícil respirar.
Respire, caralho!
1, 2, 3...
Inspira...
Solta...
Alguém buzina, me fazendo voltar à realidade.
Xiao Zhan escolheu ir.
Não há nada que eu possa fazer a respeito.
Bato minha mão contra o volante, desejando poder socar alguma coisa.
Normalmente, eu iria até a casa de Yizhou, mas ele está todo enrolado e não quero levar meus problemas para ele.

Tristan atende à porta e nos cumprimentamos.
— Desculpe vir assim, sem avisar, Tris.
— Vai se foder... — xinga, direto como sempre.

— Está tudo bem? — pergunta Vivi, saindo da cozinha.
— Onde está o Zhan?

— Ele... foi embora — conto, como se fosse uma notícia banal e não algo que está me cortando ao meio. — Deve estar embarcando enquanto falamos.
— Mas que merda! Como você pôde deixá-lo ir?
— Ele que quis... Não posso forçá-lo a ficar.
— Você falou como se sente? — questiona, se aproximando.
O que respondo?
O caralho se eu falei alguma coisa... O que eu poderia ter dito?

— Eu sabia! — rebate, me dando um leve tapa no ombro.
— E eu que achava que você era o gênio da equipe — diz, inconformada.

Tristan assiste à mulher e ri sentado no sofá.
Mas que porra é essa?
— Ruiva... acho que Yibo veio aqui para conversar e não ser agredido
— diz, puxando-a para seu colo.
— É sério... não entendo como vocês homens podem ser tão lerdos — rebate. — Ele te ama, seu bobo — diz, voltando sua atenção para mim.
— Ele foi embora — rebato, seco. — Ele escolheu ir. Se me amasse, não teria ido.

Vivi revira os olhos e corre para a cozinha.
— Está quase pronto — grita. — Você vai ficar para jantar, Yibo?
— Não... eu já vou indo. Só vim conversar. — Levanto-me.

— Venha sempre que quiser, irmão! — diz Tristan, me puxando para um abraço. — Se vale de algo, esfrie a sua cabeça. Tenho certeza de que as coisas vão se ajeitar.

Queria acreditar nisso, porra.
— Valeu, Tris.
— Boa noite, Vivi — grito e caminho em direção à porta.

— Espere — grita, vindo ao meu encontro. — Desculpe se fui dura
demais com você, mas é tão óbvio o quanto se gostam. Só vocês não veem!
— Somos amigos, Vivi — replico o discurso de sempre, que é a maior mentira de todas.
— Aff, sem comentários... só vai embora, antes que eu esqueça que estou com dó de você e resolva pôr juízo na sua cabeça, na marra — diz, me fitando, séria, mas então me abraça.
— Não desista dele, Yibo — sussurra no meu ouvido.

Porra, ruiva, eu estou perdido aqui.

Saio da casa de Tristan e dirijo sem rumo.
Voltar para casa, está fora de cogitação.
Seu cheiro está lá... Suas roupas.
Porra.
Tudo lembra ele...

Quando percebo, vejo que estou no estúdio de tatuagem.
E até aqui as lembranças dela me atingem.
Um dos últimos lugares que estivemos juntos.

Sinto meu peito a ponto de explodir.
Foda-se esta merda.
Eu preciso fazer isso.
Marcar no meu corpo aquilo que já sei há muito tempo.
Todas as minhas tatuagens têm um significado e essa não é diferente.

— Yibo, você por aqui, mano? Não me lembro de termos agendado algo
— Otto, meu tatuador e amigo, diz, confuso, olhando sua agenda.
— Nós não temos, mas eu preciso da sua ajuda, cara — retruco e Otto sabe que eu não pediria isso se não fosse importante.
— O que você precisa?

Meia hora depois, está feito!
Porra, e ficou perfeita pra caralho.
Logo abaixo da palavra amo,  no meu pescoço, agora está tatuado “do Zhan” — meu moreno.

— Hey, Yibo, como você está, cara? Tinta nova? — diz Markus, outro tatuador, se esticando para espiar o resultado.
— E aí, cara? Só complementando uma antiga tatuagem.

— Caralho, que coincidência — comenta.
— O quê?
— Hoje cedo, atendi um moço, veio com uma tatuagem horrenda, ao invés de cobrir, ele pediu para melhorar, o que devo dizer, deu um trabalho da porra.
— Qual é a coincidência, caralho? — revido, impaciente.
— Ah sim, a tatuagem dizia: Propriedade da morte  e ele pediu para mudar o final para mestre Wl.
Puta merda... Não pode ser.

— Lembrei disso, pois o nome dele não é comum...
Fecho os olhos e respiro fundo. Eu já sei o nome.

— É Xiao Zhan — complementa Markus, ainda olhando para o meu pescoço.
— Quais as chances, hein? — diz, mas nem presto mais atenção.

Foda!
Eu o deixei ir...
Eu tive medo...
Fecho os olhos com uma única certeza.
Preciso trazê-lo para casa, de uma vez por todas.

Só espero que ele ainda me aceite.

(....)

DestemidoOnde histórias criam vida. Descubra agora