QUARENTA E OITO

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         Xiao Zhan

   Recebo alta do hospital no início da noite.
Graças a Deus são só uns pontos, uns roxos e uma costela trincada, nada que repouso, alguns analgésicos e antibióticos não resolvam.
Podia ser bem pior, bem pior.
O que mais está me incomodando é esta tatuagem no meu braço. Uma lembrança constante daqueles monstros.
Chegamos a Dortmund de madrugada, dormi o trajeto inteiro sob os efeitos dos remédios e agora viro de um lado para outro na cama.
Sem sono.

Penso em Ava... e no que ela passou, e quero chorar.

Quando saí do hospital, seus pais e irmã já estavam lá.
Ela ainda vai ficar mais uns dias em observação. Bateram bastante nela e ainda que as feridas físicas estejam cicatrizando, as que marcam nossa alma, são profundas.
Espero que ela encontre todo suporte e ajuda que precisa.
Sei que é forte, ela sobreviveu, como eu.
E no que depender de mim, manteremos contato.

Desisto de tentar encontrar uma posição para dormir.
No momento, não tenho dor, mas não consigo relaxar.
Estou alerta, mesmo sabendo que todos foram presos, exceto Morte, que encontrou seu próprio fim.
Seria poético, se não fosse trágico.
Escuto Yibo conversando com alguém. Deve estar no celular com um dos caras da USC.
São quase quatro horas da manhã.
Será que está tudo bem com Zanjin?
Com toda esta loucura, após o fim do torneio, nem perguntei sobre a missão, espero que ele esteja em segurança.

Gostaria de visitá-lo. Ele é sozinho, como eu.
Resolvo buscar um copo de água e saio do quarto, na ponta dos pés.
Não quero que Yibo fique preocupado, eu vejo no seu olhar como ele está aflito em me ver todo roxa.
Isso passa, estas marcas saram.
Eu estou bem! Quantos não tiveram a mesma sorte?

— Não tem mais motivo, cara. A investigação acabou.
Travo no corredor ao ouvir esta frase.
— Acho que só fica mais uns dias. Espero que sim — continua e sei que está falando de mim.
Só pode ser isso, faz todo sentido, nossa investigação acabou.
Eu não tenho mais motivos para estar aqui.
Na casa dele.
Eu sabia que este momento chegaria, mas ainda assim, é difícil ouvir isso.

Sei que é errado e que eu nem deveria estar escutando a conversa.
Desnorteado, volto para o quarto antes que ele me encontre vagando pela casa.
Apoio minhas costas contra a porta e sinto as lágrimas escaparem.
Eu fui tolo.
Eu sabia que era tudo de mentira.
Tudo entre nós atendeu a um propósito, encontrar os culpados pela morte de YuBin, me ajudar.
Amigos com benefícios, Xiao Zhan. Lembra?
Você que sugeriu!
Ele cumpriu com sua promessa.
Te ajudou...
Encontrou os culpados e, de quebra, te salvou.

Só levou meu coração com ele.
Pego meu notebook e faço o que já deveria ter feito, logo que saí do hospital.
Hora de voltar para casa.

— Dormiu bem, Zhan?
— Sim — confirmo, tentando me manter inteiro enquanto estou aqui.

— Ontem, fiquei até tarde com Yizhou, resolvendo uns rolos, quando fui até seu quarto, você já estava dormindo... fiquei com receio de que estivesse com dor, mas não quis te acordar.

Ele foi me ver...
Isso não significa nada.
Sim, ele é seu amigo. Se preocupa, com você.

— Estou bem, tomei o analgésico antes de dormir. Obrigado, Yibo.
— Você está bem, moreno?

Oh Deus. Não me chame de moreno.
— Claro — desconverso.
— Novidade sobre Zanjin?
—A missão encerrou, Yizhou está puto com isso.
— Como assim?
— E eu que sei? Ele só me disse que é uma irresponsabilidade.
— Será que ele ainda está em perigo?
— Não se preocupe, Zhan.  Yizhou está de olho nele. Você tem que se preocupar com você.

DestemidoOnde histórias criam vida. Descubra agora