DEZESSETE

285 69 8
                                    


 Xiao Zhan

Deixo a água quente cair em minhas costas, não sei nem por quanto tempo.

Fecho os olhos e faço uma retrospectiva das últimas horas e não posso acreditar em tudo que aconteceu.

Não sei nem como agradecer.

Desde que eu o encontrei, é como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros.

Claro que todos foram muito atenciosos, mas Yibo... me faltam palavras.

Eu confio nele, mesmo sendo oficialmente a segunda vez que nos vemos pessoalmente. O quão louco é isso?

Ele me levou ao shopping, comprou roupas para mim, itens de higiene. Deus, o homem me trouxe para sua casa. Como vou pagar por toda esta ajuda?

Ainda mais agora, que não tenho mais emprego.

Não liguei para meu chefe, mas imagino que comigo do outro lado do oceano, será impossível.

Há tanto a fazer, que não sei nem por onde começar.

Respire, Xiao Zhan. Agora você tem ajuda profissional.

Primeira coisa é comer, pois meu estômago queima, depois já quero conversar com Yibo e ver o que iremos fazer sobre a investigação.

Ainda não mostrei para ele os documentos que tenho na minha mochila e espero que seja útil.

Depois de devorar uma caixa de Yakisoba, o cansaço vem com tudo.

É pouco depois das dezenove horas, mas com toda esta mudança de fuso e estresse, luto contra o sono.

— Vou tomar um banho e já volto. Aí podemos falar mais sobre a investigação e os papéis que você mencionou, se quiser — diz e imediatamente me animo.

— Quero, sim.

— Já volto, moreno. — Ele segue na direção do quarto.

Moreno.

Eu não deveria, mas meu coração acelera cada vez que o escuto me chamando desta forma.

Minha única preocupação deveria ser a investigação e encontrar os responsáveis pelas mortes, mas sou humano.

Yibo me afeta, mais do que eu gostaria de admitir.

Espero resistir ao seu charme, tudo que não preciso é de um coração quebrado.

Já tenho problemas suficientes para lidar.

Encosto a cabeça no encosto do sofá e fecho os olhos apenas uns instantes. Tento tirar tudo da mente e focar apenas nos sons à minha volta, o barulho do chuveiro, a televisão baixinho em alemão.

A sensação de relaxamento que me invade é tão boa, que me entrego a ela.

Desperto todo suado no meio da madrugada.

A imagem do YuBin caído no chão e as vozes dos assassinos têm sido presença constante nos meus sonhos.

A angústia e o medo são reais.

Sento na cama king size, e só então me dou conta de que estou no quarto e nem me recordo como vim parar aqui.

Fecho os olhos, tentando puxar na memória.

Lembro-me de estar na sala, esperando Yibo, de ter fechado os olhos uns segundos, enquanto ele não retornava.

Deus, adormeci no sofá!

Vergonha me atinge, ao pensar nele me carregando até o quarto.

Não faço ideia de que horas são, mas preciso muito de um copo de água, assim, levanto e caminho na direção da cozinha, tentando não fazer nenhum barulho.

Tudo que eu não preciso é acordar Yibo.

O apartamento está todo escuro e a porta do quarto/escritório está fechada.

Sigo para a cozinha e quando chego à sala, sou surpreendido com a visão de Yibo na varanda.

Calça de moletom, sem camisa, revelando um peitoral musculoso, que como eu imaginava é coberto de tintas.

Deus, é muito errado eu querer passar meus dedos por cada uma delas?

XIAO ZHAN!

Minha alma volta ao corpo e fico em dúvida se retorno para o quarto ou sigo para a cozinha.

Quarto, definitivamente!

Começo a dar meia-volta, quando sinto seu olhar em mim.

— Moreno — diz e caminha na minha direção.

— Oi, eu...

— Está tudo bem?

— Sim, eu... estava com sede.

Difícil pensar assim, tão perto dele.

Jesus.

— Gelada ou fresca?

— Ah?

— A água.

— Ah, sim. Fresca, por favor.

Aceito o copo de água e foco meu olhar em qualquer outra parte da cozinha, que não seja no homem à minha frente.

Preciso voltar logo para o quarto.

— Obrigado por me levar para o quarto — digo, após tomar um gole.

— Não por isso, saí do banho e você estava dormindo pesado. Não quis te acordar.

— Eu estava dormindo bem, até...

— Pesadelo?

Aceno que sim, pois não há por que negar.

— Ninguém vai te machucar, Zhan.

— No sonho, eles sempre me encontram e me mat...

— Nem diga isso — me interrompe e se aproxima no processo.

Fecho os olhos e respiro fundo.

— Sei que não adianta dizer para esquecer, mas lembre-se de que estou aqui para você.

— Obrigado, Yibo, eu realmente não sei o que seria de mim sem a sua ajuda. — digo, mirando seus olhos.

— Queria ter estado lá por você — ele confessa e meu coração se aperta ao ouvir isso.

— Você está aqui agora — sussurro, apoiando a mão sobre o seu peito.

Choque corre pelo corpo e arregalo os olhos, assustado.

Afasto-me e quebro o contato.

— Eu... vou tentar dormir — balbucio, de repente atrapalhado. — Boa noite!

— Boa noite, moreno!

É o que escuto antes de fechar a porta atrás de mim.

(....)

DestemidoOnde histórias criam vida. Descubra agora