Era o álcool falando

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Marília.

— Maraisa? É muito bom te ver.

O homem que tinha acabado de entrar na sala para participar da reunião se aproximou dela e a abraçou. Vi a mão dele descer até bem perto da curva do começo da bunda quando os braços a enlaçaram, uma atitude que talvez não fosse considerada apropriada para uma relação de trabalho.

— Roan? — Ela se soltou do abraço. — O que está fazendo aqui?

— Sou o novo vice-presidente de Criação da Star Studios. Saí da Century Films e comecei aqui há uma semana. Só vi seu nome na agenda de hoje esta manhã, ou teria entrado em contato com você antes.

— Uau — ela reagiu. — Bem, é bom ver um rosto conhecido. Tudo bem?

— Sim. Tenho me mantido ocupado com o trabalho. Enquanto isso, continuo me aperfeiçoando na produção de vinho. A primeira safra completa foi colhida na última semana na fazendinha que comprei no ano passado. Talvez tenha que telefonar para seus pais para pedir umas dicas.

— Que ótimo. Eles vão adorar ajudar. Você vai ter que organizar uma degustação quando as primeiras garrafas estiverem prontas.

Eu estava ao lado de Maraisa, acompanhando toda a conversa. Embora o sommelier, ou sei lá qual é o nome de um produtor de vinhos, não desviasse o olhar da mulher diante dele, Maraisa lembrou de repente que eu estava ali.

— Ah. Roan, essa é Marília Mendonça. Marília e eu trabalhamos juntas na Foster, Burnett e Wren.

Apertei a mão do sujeito e dei uma olhada nele. Alto, aparência até que boa, sapatos engraxados, um bom aperto de mão.

— É um prazer, Mari.

Normalmente, eu corrigia quem abreviava meu nome e me chamava de Mari, mas nunca fazia isso com um cliente. Clientes podiam me chamar de babaca, tudo bem, desde que fechassem o contrato. Mas alguma coisa nessa intimidade imediata sempre me incomodava. Você não é meu amigo. Não te chamei de amigo nem te convidei para tomar uma cerveja. Acabamos de nos conhecer. É Marília... isso não vai te custar mais caro.

— Vamos nos sentar? Acho que estão todos aqui — ele disse.

Antes de eu conseguir sentar na cadeira ao lado de Maraisa - sabe, para passar uma ideia de empresa unida - Roan puxou a cadeira na minha frente para ele mesmo.

Como não queria causar uma cena, passei para a próxima cadeira disponível, que ficava do outro lado da mesa.

O vice-presidente de Produção começou a reunião com uma apresentação dos objetivos comerciais da empresa e seu público-alvo. Eu fazia anotações enquanto ele falava e, na maior parte do tempo, tentava prestar atenção. Mas, de vez em quando, olhava para Maraisa. Enquanto ela fazia anotações, vi duas vezes Roan cochichar em seu ouvido. A mesa de reuniões devia ter pouco mais de um metro de largura. Queria saber se conseguia alcançá-la com o pé por baixo dela.

Após o término da apresentação formal, cada funcionário da Star acrescentou alguma coisa. Quando chegou a vez de Roan falar, descobri que ele podia ter ficado quieto, porque suas colocações não acrescentavam nada de importante. Aparentemente, o cara só gostava de ouvir a própria voz pronunciando palavras de impacto e sem sentido. E aproveitava a desculpa para tocar Maraisa.

— Então, eu sou o novato aqui na Star, é óbvio. E hoje a equipe fez um excelente trabalho apresentando não só quem somos, mas a marca que prevemos nos tornar no futuro. Uma coisa que posso acrescentar é que a sinergia é importante. Nosso logo, nossa mensagem de marketing, nossa equipe, nossos alinhamentos estratégicos, tudo isso serve de ingrediente para fazer muita massa de biscoito. Exclua a pitada de sal ou as gotas de chocolate, e o que você tem? Provavelmente, ainda um biscoito, mas não tão gostoso como poderia ter sido. Coesão é o nome do jogo, e a campanha que vai nos conquistar é aquela que se misturar bem com todo o resto e fizer a massa do melhor biscoito.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora