Algumas regras básicas

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Marília.

Merda. Saí da estrada na rampa seguinte.

Juro, tinha tomado banho e me vestido com a intenção de encontrar os amigos para beber alguma coisa no centro da cidade. Mas, na metade do caminho para o O'Malley's, decidi mudar os planos.

E, agora que estava mais perto, comecei a hesitar de novo. A Vinícola Henrique não era só a casa dos pais dela - também era um cliente.

Por outro lado, isso parecia bem apropriado. Maraisa era a última pessoa que eu deveria estar perseguindo. Então, por que não ir atrás dela na casa de um cliente? O que poderia dar errado?

Tudo.
Qualquer coisa.
Mas... foda-se.

Fui convidada. Maraisa tinha dito que o convite de Almira se estendia a mim. Eu não estava invadindo a festa.

Saí da longa estrada de terra quando o sol começava a se pôr. Havia uns dez carros estacionados na frente da vinícola, inclusive aquele idêntico ao meu. Estacionei e olhei o celular pela última vez. Seria horrível se ela estivesse ali com alguém. Mas eu não conseguia imaginar que ela fosse o tipo de pessoa que saía com alguém poucas noites depois de ter dormido com outra.

Inferno, eu era esse tipo de pessoa, e não teria conseguido, depois da noite que tivemos.

Entrei na loja quando Almira Henrique saía da adega da vinicola.

— Marília! Fico feliz por ter melhorado e decidido vir, afinal.

Melhorado? Não discuti.

— Foi só uma coisa boba de vinte e quatro horas — respondi.

— Maraisa e Maiara estão lá embaixo. Vou pegar outra porção de queijo. Desça! Todo mundo está adorando a nova safra.

— Vou te ajudar com o queijo.

— Bobagem. Vá se divertir. Tenho certeza de que minha filha vai adorar te ver.

Eu não teria tanta certeza.

— Ok. Obrigada.

A adega tinha quatro alcovas com mesas de um lado e um grande balcão do outro. Dei uma olhada nas mesas e vi pessoas que não reconheci. Mas, definitivamente, reconheci as costas de uma mulher sentada no penúltimo banco do balcão. Ela olhava para o outro lado, não tinha nem ideia de que eu estava ali.

Respirei fundo e comecei a me aproximar dela. A mulher sentada a seu lado me viu. Coloquei um dedo na frente dos lábios e, com a outra mão, toquei as costas de Maraisa.

Abaixei para cochichar perto da orelha dela.

— Melhorei e decidi vir.

Ela virou tão depressa que perdeu o equilíbrio e quase caiu da cadeira.

— Marília?

A mulher ao lado dela levantou uma sobrancelha.

— Marília? A gostosona do escritório?

Estendi a mão.

— Em carne e osso. Marília Mendonça. É um prazer te conhecer. Imagino que seja a Maiara?

— Sou. — Maiara olhou de mim para Maraisa e para mim de novo. — Bem, essa é uma bela surpresa. Não sabia que Marília também viria.

Maraisa parecia agitada.

— Nem eu.

Maiara sorriu e olhou para mim esperando uma explicação. Falei a verdade.

— Ela está me evitando há dois dias. Além disso, tenho aqui no meu bolso uma calcinha que achei que ela podia querer de volta.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora