Marília.
Não era ela.
Guardei o celular no bolso e tentei fingir que não estava decepcionada ao ver a mensagem de um amigo perguntando se eu queria sair hoje à noite para beber alguma coisa.
Mas você não consegue mentir para si mesma, não é?
Naquela tarde, quando voltei de Los Angeles e fui para o escritório, Maraisa já tinha ido para casa. Na quinta-feira, tive uma reunião fora do escritório de manhã e, quando cheguei, ela já havia saído novamente. Naiara disse que tinha surgido um compromisso de última hora.
E, na sexta-feira, vi o Audi idêntico ao meu saindo de uma vaga na frente do prédio da empresa às dez para as sete da manhã, e decidi mandar uma mensagem para ela. Várias horas mais tarde, ela mandou uma resposta curta dizendo que tinha chegado cedo para pegar umas pastas e ia trabalhar em casa.
Não era incomum que a equipe trabalhasse em casa um ou dois dias por semana. Tínhamos horários flexíveis e nenhuma obrigatoriedade de presença. Mas Maraisa nunca tinha tirado proveito dessa liberdade, e eu estava começando a sentir que ela podia estar me evitando.
Na sexta-feira à tarde, isso estava me devorando por dentro, então mandei outra mensagem perguntando se ela queria sair e beber alguma coisa. Maraisa não respondeu.
Agora era tarde de sábado, e eu pegava o celular como uma colegial cada vez que ele vibrava.
Vi Noah consultar o preço na sola de um tênis que ele estava olhando e devolvê-lo à prateleira.
— Gostou? — perguntei.
— Sim. — Ele deu de ombros. — É legal.
— Por que não experimenta? Vai precisar de tênis novos para a viagem à Disney, em algumas semanas.
— É muito caro.
— Vai pagar pelos tênis?
— Não.
— Então, por que está olhando os preços? — Peguei os tênis e acenei para um funcionário com o uniforme da Foot Locker, um garoto que não devia ser muito mais velho que Noah. — Pode trazer esse modelo no número quarenta e um?
— É claro.
— Só um minuto — disse ao rapaz. — Gostou de mais alguma coisa, parceiro?
Noah não respondeu.
— Noah?
Nada. Segui a direção do olhar dele para ver o que prendia sua atenção. Ri baixinho e falei para o garoto que nos atendia: — Só esse por enquanto, por favor.
A loirinha bonita de quem Noah não conseguia desviar os olhos levantou a cabeça e o pegou olhando para ela. Meio agitada, ela acenou sem jeito e olhou para o outro lado, para a parede de calçados em uma das laterais da loja.
Abaixei para chegar mais perto de Noah e sussurrei:
— Ela é bonitinha.
— É a Amélia Archer.
— Gosta dela?
— Todo mundo no sexto ano gosta dela.
— Não ia mudar de estratégia e gostar só das feias?
— Ela é bonita e legal. Mas não quer saber de menino nenhum.
— Bom, vocês têm só doze anos. As pessoas começam a prestar atenção umas nas outras em momentos diferentes. Talvez ainda não tenha chegado a hora dela.
— Não, não é isso. Há um mês, ela falou para o Anthony Arjnow que gostava do Matt Sanders, e Anthony espalhou várias fofocas sobre ela. Ele fez isso porque também gostava dela. Agora ela não fala mais com nenhum dos meninos.
As alegrias do início da adolescência.
— Ela vai superar. Por que não vai dar um "oi'? Mostre os tênis que vai experimentar, pergunte se ela gosta.
— Acha que devo ir?
Peguei o par de tênis da prateleira de novo e dei a ele.
— Com toda certeza. Você precisa tomar a iniciativa. As melhores não ficam sozinhas por muito tempo. Seja amigo dela. Provavelmente, ela precisa ver que nem todos os meninos são babacas. — Sorri. — Bom, muitas vezes eles são, mas você não precisa ser assim.
Noah pegou os tênis da minha mão e pensou um pouco. Tive um momento de tia orgulhosa quando ele respirou fundo e foi até lá. Vi como o constrangimento inicial da aproximação desapareceu e ele relaxou um pouco. Um ou dois minutos depois, ela ria.
Ele voltou com um sorriso de orelha a orelha.
— Ela é muito legal.
— Parece que ela gostou de você ter ido lá conversar.
Noah deu de ombros.
— Talvez. As garotas são confusas.
Esse menino era muito mais esperto do que eu tinha sido na idade dele. Achava que tinha compreendido todas elas, até fazer dezoito anos e perceber que não sabia nada.
Assenti.
— É verdade, são mesmo.
Noah acabou se decidindo pelo Nike de cem dólares. E também compramos algumas camisetas e material de artes, que ele contou que a avó se recusava a comprar por achar que a escola tinha que fornecer essas coisas, e depois ele pediu gel para cabelo e um desodorante Axe.
Gel para cabelo e Axe. Definitivamente, Noah tinha descoberto as garotas.
— Está esperando algum telefonema? — ele me perguntou quando andávamos pelo estacionamento do shopping a caminho do carro.
Olhei para o celular em minha mão.
— Não. Por quê?
— Porque não para de olhar o telefone.
Enfiei o aparelho no bolso.
— Nem percebi.
O merdinha riu.
— Está esperando uma garota ligar para você.
Foi dificil conter o sorriso. Apertei o botão no chaveiro para destravar a porta do carro e falei:
— Entra no carro, Casanova.
— Quem?
— Entra.
Meu celular vibrou justamente quando parei na frente da casa do Noah. Sem pensar, tirei o telefone do bolso para ver quem era. Noah deve ter lido minha expressão
—É claro que está esperando a mensagem de alguma garota. — Ele ria. Era inútil mentir.
— É. Desculpa se estive distraída.
Ele deu de ombros.
— Por que não liga para ela?
— É complicado, amigão.
Noah pegou as sacolas no banco de trás e abriu a porta. No ano anterior, ele disse para eu parar de levá-lo até a porta de casa, e agora eu só esperava no carro até ter certeza de que ele tinha entrado em segurança.
Ele saiu do carro e enfiou a cabeça de volta na fresta da porta, mantendo uma das mãos em cima dela.
— Tem que tomar a iniciativa, Marília. As melhores não ficam sozinhas por muito tempo.
O merdinha agora me fazia engolir o que eu mesma havia falado.
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Irresistível | G!P
FanfictionApós a fusão de duas grandes empresas de publicidade, Maraisa e Marília "duelam" pela mesma vaga de diretora criativa. Uma disputa irresistível se inicia: as cartas estão na mesa, que vença a melhor. "Talvez haja uma linha tênue entre o amor e o ódi...