Jantar e uma piscada

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Point of View Maraisa.

— Isso é muito bom.

Eu estava preparada para o pior quando entramos. Olhando de fora, o lugar era um buraco. A decoração no interior não era muito melhor. Iluminação ruim, mobília ultrapassada e um cheiro leve de cerveja azeda se espalhava pelo ambiente, cortesia de um ventilador atrás do balcão. Mas todas as mesas e todas as banquetas junto do balcão pareciam estar ocupadas por casais. E as pessoas eram muito felizes e simpáticas. Olhei em volta, e uma mulher sentada ao lado de um homem sorriu e piscou para mim. Era a segunda vez que isso acontecia nos trinta minutos desde que chegamos.

— Como encontrou este lugar? Fica fora da área de maior circulação e é horrível por fora.

— Ah. — Marília levou a cerveja à boca. — Que bom que perguntou. Encontrei este lugar por acidente. Eu namorava uma garota que morava a alguns quarteirões daqui e parei para tomar uma cerveja depois de terminar com ela. Ela não reagiu muito bem. O lugar é especial.

Olhei em volta de novo, e mais algumas pessoas sorriram para mim.

— A comida é muito boa, e todo mundo é bem simpático.

O sorriso de Marília ficou mais largo.

— É porque é uma casa frequentada por gente do swing.

Tossi enquanto engolia e quase sufoquei com a comida.

— O que foi que disse?

— É frequentado pelo pessoal do swing. — Ela deu de ombros. — Eu também não sabia na primeira vez que vim aqui. Mas todo mundo ficou feliz quando cheguei. Não se preocupe, ninguém vai te abordar. Se um casal se interessa, eles piscam. Se você piscar de volta, eles se aproximam para conversar.

Meus olhos estavam arregalados. Dois casais tinham piscado para mim, e eu poderia ter piscado de volta.

— Por que me trouxe aqui? — Dei mais uma olhada nas pessoas que estavam comendo. Algumas sorriram e, dessa vez, um cara piscou para mim. Virei a cabeça depressa. — Essas pessoas acham que somos um casal e que estamos procurando parceiros para... trocar.

Ela riu.

— Eu sei. Pensei que ia achar engraçado, depois do que me contou sobre ter levado um fora na faculdade do namorado que queria fazer swing.

— Tem alguma coisa errada com você. — Olhei em volta mais uma vez. De repente tive a sensação de que ocupávamos o centro do palco. E, aparentemente, éramos populares, porque vi mais duas piscadas.

— A comida é maravilhosa, e ninguém aborda ninguém, a menos que a piscada seja retribuída. É o lugar perfeito para vir quando quer ficar em paz e comer alguma coisa. — Acho que ela tinha razão. Apesar de ter pensado em me trazer aqui para se divertir com a história que eu tinha contado.

— E aí, por que não dirige com mais gente no carro? — Marília quis saber. — Fica nervosa ou alguma coisa assim?

Eu havia tomado um drinque antes do jantar, e estava de guarda meio baixa.

— Eu faço uma coisa que muita gente acha estranha, por isso prefiro evitar passageiros.

Marília derrubou no prato a batata frita que tinha acabado de pegar e se encostou na cadeira.

— Mal posso esperar para ouvir.

— Eu não devia contar. Contei a história do namorado que queria fazer swing, e você me trouxe aqui. Seu senso de humor é meio transtornado. Nem imagino como vai usar isso contra mim.

Ela levantou os braços para apoiá-los na mesa e os afastou.

— Se não me contar, vou começar a piscar para as pessoas, e elas vão vir aqui. — Ela olhou para a direita e sorriu, um sorriso luminoso. Segui a direção de seu olhar e vi um casal que parecia ansioso pela piscada.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora