Impacto

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Maraisa.

Li pela segunda vez a carta que tinha digitado para Jake. Ainda não me sentia preparada para entregá-la. Mas escrever me levava um passo mais perto disso. A sensação era de adequação, como experimentar um jeans que já não servia há anos, e de repente o zíper fechava. Fazia muito tempo que eu não tinha essa sensação de ajuste com nada na minha vida.

O telefone tocou em cima da mesa, e eu guardei a carta rapidamente em um envelope e joguei na gaveta. Imaginei que fosse Marília ligando da sala dela, duas portas distante da minha, gritando para eu me apressar, considerando que tinha dito que estaria pronta em dez minutos, e isso foi há meia hora.

— Maraisa Pereira. — Minha voz era quase melodiosa.

Mas, quando olhei para a frente com o telefone encaixado entre o ombro e a orelha, Marília estava parada na porta da sala. Eu sorri.

Até ouvir a voz do outro lado da linha.

— Maraisa? Oi. Achei que talvez ainda estivesse no escritório.

Hugo.

Não sei por que, mas entrei em pânico.

— Hummm... Sim. Ainda estou aqui. Espere um minuto. — Apertei o fone contra o peito e falei para a mulher parada na porta. — É minha mãe. Só preciso de alguns minutos.

Marília assentiu.

— Não tenha pressa. Me dá a chave. Vou trazer seu carro para a frente do prédio para a gente poder levar o material da sua apresentação quando acabar ai.

Peguei a chave dentro da bolsa, torcendo para ela não notar o rubor no meu rosto. Felizmente, acho que não percebeu. Só pegou as chaves e beijou minha testa antes de sair. Esperei, fiquei ouvindo os passos no corredor até ter certeza de que haviam se afastado e ainda esperei o barulho da porta abrir e fechar.

Depois aproximei o fone da orelha.

— Oi. Que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Liguei em uma hora ruim?

Encostei na cadeira. Havia um bom momento para um ex ligar do nada?

— Estava de saída. O que aconteceu?

— Ainda trabalha até tarde, pelo jeito. — Ele estava brincando, mas eu não queria saber de papo-furado.

— Estou saindo para ir jantar. Não tenho muito tempo, Hugo. O que aconteceu?

— Jantar tipo... encontro?

Isso me irritou. Eu bufei.

— Preciso desligar.

— Tudo bem. Tudo bem. Só queria avisar que vou participar do jantar com a Lanna e o Trent amanhã.

— Por quê?

— Porque quero te ver.

— Para quê?

Ele suspirou.

— Por favor, Maraisa.

— É um jantar de trabalho. Na última vez que me informei, você não tinha o menor interesse nos negócios da sua família.

— Ainda sou acionista. Estou ajudando na empresa há alguns meses, reformulando os textos do catálogo, essas coisas.

Os pais sempre quiseram que ele se envolvesse nos negócios da família, mas Hugo torceu o nariz quando eles sugeriram que se responsabilizasse por tudo que envolvesse redação nas empresas do império. Para ele, qualquer coisa que não fosse literatura era inferior.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora