No amor e na guerra, vale tudo

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Point of View Maraisa.

Eu tentei avisá-la.

Ontem à noite mesmo, quando terminamos de analisar nossas contas juntas, tentei mais uma vez abordar a apresentação de hoje para a Vinícola Henrique. Mas a babaca pretensiosa me interrompeu antes que eu pudesse explicar por que sabia que ela não tinha a menor chance de conquistar a conta.

Então, dane-se, espero que tenha perdido a manhã inteira com um espetáculo circense que nem era necessário.

Eu resmungava comigo mesma quando cheguei ao fim da rua de terra de menos de um quilômetro e parei ao lado do enorme salgueiro. Esse lugar sempre me trazia uma onda de paz. Ser recebida por fileiras e fileiras de parreiras plantadas em linha reta, salgueiros chorões e barris empilhados era como me encharcar de serenidade. Saí do carro, fechei os olhos e respirei fundo, exalando parte do estresse da semana.

Paz.

Era o que eu pensava.

Até abrir os olhos e notar um carro estacionado à direita, ao lado do grande e velho trator verde. E o carro era quase idêntico ao meu.

Ela ainda estava lá.

O horário de Marília era às dez da manhã. Olhei para o relógio para ter certeza de que não estava adiantada. Não estava. Eram quase três da tarde. Imaginava que ela teria ido embora havia muito tempo quando eu chegasse. Sobre o que poderiam estar falando durante cinco horas?

Afonso, o gerente do vinhedo, saiu da lojinha com uma caixa de vinho quando eu terminava de tirar as pastas do carro. Ele trabalhava na vinícola desde antes de as primeiras sementes de uva serem plantadas.

— Ei, Maraisinha. — Acenou.

Bati o porta-malas e pendurei a pasta de couro no ombro.

— Oi, Afonso. Quer que eu abra o porta-malas para você guardar meu estoque de garrafas para o fim de semana? — brinquei.

— Eu poderia deixar todas as garrafas no seu porta-malas, e o Sr. Henrique não se importaria, tenho certeza.

Sorri. Ele estava certo.

— Matteo está no escritório ou na casa? Tenho uma reunião de negócios com ele.

— Na última vez que o vi, ele estava percorrendo a plantação com uma visitante. Mas agora podem estar na adega. Acho que é uma visita completa.

— Obrigada, Afonso. Não deixe essa gente te fazer trabalhar demais!

A porta do escritório não estava trancada, mas não havia ninguém lá dentro. Deixei o material da apresentação em cima da mesa na recepção e fui procurar todo mundo. A lojinha estava aberta, mas ninguém respondeu ao meu chamado. Eu já me preparava para ir à casa principal quando ouvi o eco de vozes e passei pela porta entre a loja e a adega e sala de degustação.

— Oi? — Desci a escada de pedra com cuidado me equilibrando no salto alto.

Matteo falava em italiano, e a voz dele retumbava ao longe. Mas, quando terminei de descer, a única pessoa que encontrei foi Marília. Ela estava sentada em uma das mesas de degustação da alcova, com as mangas da camisa enroladas, e uma taça de vinho sobre a mesa, diante dela.

Havia mais umas três ou quatro taças vazias.

— Bebendo em serviço? — Levantei uma sobrancelha.

Ela cruzou os dedos atrás da cabeça e se reclinou arrogante.

— O que eu posso dizer? Os donos me amam.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora