Algumas cicatrizes não merecem cura

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Maraisa.

Fiquei parada e de boca aberta, olhando para a paisagem.

Como Marília e eu não morávamos longe uma da outra, imaginei que ela também vivesse em um apartamento de cinquenta metros quadrados e sacrificasse espaço pela boa localização. Mas o West Hill Towers, pelo menos o apartamento onde eu estava neste momento, não sacrificava nada. A área aberta da cozinha e da sala de estar devia ter o dobro do tamanho do meu apartamento inteiro. E, quando eu olhava pela minha janela, via o prédio vizinho. Marília tinha uma vista fabulosa da Baía de San Francisco e da Golden Gate com as montanhas ao fundo.

Ela me serviu uma taça de vinho e parou ao meu lado, enquanto eu apreciava a paisagem.

— Hum... você rouba bancos nas horas vagas?

Ela sorriu. Levou a taça à boca.

— Sou bonita demais para ir para a prisão.

— Tem uma sugar mommy?

Ela balançou a cabeça.

— Ganhou na loteria?

O mesmo gesto negativo. Ela podia simplesmente me contar qual era a situação. Já me conhecia o suficiente para saber que eu não ia desistir do assunto sem uma resposta.

— Pais ricos? Você usa roupas e sapatos caros.

— Meu pai era carteiro. Minha mãe era secretária em um escritório de advocacia.

— Sei que, em média, nosso salário é muito bom, mas isso... — Estendi as mãos para a paisagem. — Isso seria meio insano.

Marília deixou o vinho em uma estante próxima, depois pegou a outra taça da minha mão e a colocou ao lado da dela.

Em seguida, ela enlaçou minha cintura com os dois braços.

— Não me deu um beijo de oi.

— Acho que me distraí com a paisagem.

Os olhos dela percorreram meu corpo.

— Também estou bem distraída com a paisagem no momento.

Senti aquele aperto no estômago.

Ela se inclinou.

— Me beije.

Revirei os olhos como se fosse um fardo beijar essa mulher linda, depois disse "oi" com um selinho rápido. Quando tentei recuar, Marília me segurou pelo cabelo. O beijo rápido se tornou mais que um "oi". A outra mão de Marília escorregou até minha bunda, e ela me puxou contra o corpo. Senti sua ereção na barriga.

Ah, oi.

Ela terminou o beijo mordendo meu lábio inferior. Eu estava sem ar.

— Oi. — disse.

Sua boca se distendeu em um sorriso. Marília ajeitou meu cabelo atrás da orelha.

— Oi, linda.

Ficamos nos olhando, sorrindo como duas adolescentes bobas que tinham se pegado pela primeira vez. Marília usou o polegar para limpar o batom borrado do meu lábio inferior.

— Sofri um acidente há muito tempo. Recebi uma indenização. Investi parte do dinheiro no apartamento.

Demorei um segundo para entender sobre o que ela estava falando. O beijo tinha me deixado atordoada.

— Ah. Lamento, espero que ninguém tenha se machucado.

Marília me devolveu a taça de vinho.

— Vou dar uma olhada na massa.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora