Perdi a droga do juízo

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Point of View Marília.

Eu precisava encontrar o cliente.

Era o que eu repetia para mim mesma, pelo menos. Fazia seis meses que não ia pessoalmente à Green Homes, e essa era uma empresa sólida. Uma visita rápida a caminho de casa hoje à noite não era nada de extraordinário. O fato de o escritório ficar no centro da cidade, a dois quarteirões do Royal Hotel, era só uma coincidência.

E os estacionamentos estavam sempre cheios naquela área. Portanto, não era incomum eu ter estacionado em um deles a três quarteirões da empresa e passar pelo Royal depois da reunião.

Às seis da tarde.

Tinha sido um dia de agenda cheia.

Eu não acreditava muito em coincidência. Era mais de ação, de fazer as coisas acontecerem. Mas o fato de estar na frente do Royal Hotel... puro acaso.

Casualidade.

Sorte.

Tanto faz.

Abrir a porta do saguão? Não, isso não era coincidência. Essa merda era curiosidade morbida.

Olhei por todo o saguão, posicionada intencionalmente atrás de uma coluna larga de mármore para poder ver tudo sem ser observada. Estava bem tranquilo, para um começo de noite. À esquerda ficava a recepção. Um hóspede era atendido, enquanto outros funcionários trabalhavam na área atrás do balcão. À direita havia um hall de elevadores vazio. Bem na frente, do outro lado de uma grande fonte circular, ficava o bar do lobby. Tinha umas dez pessoas sentadas. Procurei o rosto dela.

Nada.

Maraisa havia saído do escritório às quatro e meia da tarde, devia estar aqui agora. Eu torcia para que estivesse no restaurante, pedindo o que tinha de mais caro no cardápio, cortesia do embuste, em vez de ter sido levada para um quarto lá em cima.

O relacionamento ruim de Maraisa não era da minha conta. Eu devia ter me virado e ido embora. Não era problema meu.

Coincidência.

Curiosidade morbida.

Essas foram as razões que me levaram a entrar no saguão.

E o motivo para me dirigir ao bar, em vez de sair dali?

Estava com sede. Por que não podia beber alguma coisa?

O bar era em forma de L. Sentei no canto mais afastado da entrada, perto das garrafas, onde garrafas de bebida e o elegante caixa de antiquário me escondiam da maioria das pessoas que passassem pelo saguão. Dali eu conseguia ver claramente as portas do restaurante. O bartender pôs um guardanapo na minha frente.

— O que vai querer?

— Uma cerveja. Ou melhor, um chopp.

— Ok.

Quando voltou, ele perguntou se eu gostaria de ver o cardápio. Não quis, ele assentiu e começou a se afastar, mas eu o chamei.

— Por acaso viu uma morena? — Apontei com as duas mãos para a minha cabeça. — Muito cabelo ondulado e preto. Pele de mármore. Grandes olhos castanhos. Se estava com um homem, talvez parecesse deslocada, perturbada.

O bartender assentiu.

— Ele vestia um suéter Mister Rogers. Ela fica bem alta naquele salto alto.

— Viu para onde eles foram?

Ele hesitou.

— Você é a namorada ou alguma coisa assim?

— Não. Só um amiga.

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