Pegar a estrada com a fera

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Maraisa.

— E a gostosa do trabalho? — Maiara perguntou antes de comer um pedaço do bife Wellington que tinha pedido.

Ela torceu o nariz enquanto mastigava. Não gostou. Fiquei com pena do dono do restaurante. Foi o terceiro contratempo, e estávamos só começando o prato principal. Primeiro, o garçom trouxe os aperitivos errados. Depois, quando Maiara pediu a carta de vinhos e recomendações, ele sugeriu as opções mais caras. A critica seria dolorosa.

— Gostosa? Bom, ela é uma babaca. Depois é fofa, mas tenta fingir que não é. Depois é muito babaca de novo. Não quero falar sobre ela.

Maiara deu de ombros.

— Tudo bem. Como vai todo o resto no trabalho, então? Gosta das pessoas no escritório novo?

Deixei o garfo no prato.

— Eu não entendo. Um dia ela se esforça muito para me ajudar, no outro é grosseira e me ignora. — Ela pegou a taça de vinho.

— Estamos falando sobre a gostosa?

— Sim, a Marília.

Ela fez uma careta e aproximou a taça dos lábios.

— Pensei que não quisesse falar sobre ela.

— Não quero. É que... ela é muito irritante.

— E esquenta e esfria com você.

— Ferve e gela, essa é a ideia. Na semana passada, fui jantar com o Hugo. Marília me seguiu até o hotel porque, de algum jeito, sabia que aquilo não ia acabar bem. E não acabou. Marília e eu fomos comer em outro lugar e ficamos conversando até meia-noite. Na manhã seguinte, encontrei com ela na sala de descanso dos funcionários e ela me tratou de um jeito distante, como se a noite anterior não tivesse acontecido.

Maiara deixou a taça sobre a mesa.

— Espere aí. Você foi jantar com o Hugo. Não recebi nenhuma ligação à meia-noite, nem uma visita no começo da manhã seguinte. E agora já comemos o aperitivo, já bebemos, e isso ainda não havia sido mencionado?

Suspirei.

— É. É uma longa história.

Ela empurrou o purê de batatas com o garfo.

— Minha comida foi servida fria, mesmo. Vamos começar do começo.

Contei que Hugo me convidou para jantar, afagou meu braço no restaurante do hotel enquanto dizia ter sentido saudade, mas recuou o mais depressa que pôde quando perguntei à queima-roupa se ele estava dizendo que queria reatar o namoro comigo. Também contei sobre o que Marília achava que Hugo queria comigo, como ela me preveniu sobre isso antes do encontro e como apareceu do nada para reparar os danos causados.

Maiara batia com a unha nos lábios.

— Basicamente, está dizendo que Marília é uma idiota, por isso consegue prever o que outros cafajestes estão querendo?

— Acho que sim. Mas o que não encaixa é que, se ela é tão cafajeste assim, por que tentou me avisar sobre  e ainda apareceu lá para me amparar, quando tudo que ela previu aconteceu? Uma cafajeste não se importaria com o que ia acontecer comigo, antes ou depois. Ela teria esperado o dia seguinte para me falar "eu avisei" no escritório, em vez de me deixar desabafar naquela noite.

O garçom se aproximou e perguntou como estava a refeição. Normalmente, Maiara devolveria o prato para ver como o restaurante lidava com isso, e daria outra chance ao lugar se eles agissem com profissionalismo. Em vez disso, ela forçou um sorriso para o garçom, disse que a comida estava boa e pediu outra garrafa de vinho. Eu tive a sensação de que nossa conversa a distraía de sua avaliação.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora