Vulnerável

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Point of view Marília.

Me pergunto por qual motivo somos tão sensíveis? Menos eu, claro.

Reli o e-mail dos Recursos Humanos pela terceira vez.

Marília,

Como sabe, a recente fusão tem deixado muitos funcionários aflitos em relação ao futuro de seus empregos aqui na Foster, Burnett e Wren. Por isso, colocações da supervisão podem ser analisadas pelos funcionários de um jeito como não acontecia antes. Dessa forma, pedimos que você, bem como todos os gerentes de nível sênior, atente para a sensibilidade das respostas que dá aos seus funcionários. Evite críticas, tais como dizer a um subordinado que ele "cria muito problema por tudo" ou sugerir que "chupe essa manga". Embora nenhuma queixa formal tenha sido apresentada, esse tipo de comentário pode ser considerado assédio e produzir um ambiente de trabalho difícil.

Obrigada,

Mary Harmon

Eu sabia exatamente quem havia reclamado. Finley Nia. O nome já não sugere que é uma pau no cu? Isso tudo era culpa de Maraisa. Finley era um transplante da Wren, é claro. Ninguém da minha equipe jamais tinha procurado o RH. Caramba, na semana passada falei para o Ricelly que eu não ia ligar se ele tivesse que chupar o pau do cliente, mas que ele seria demitido se o CEO da Monroe Paint não saísse da sala de reuniões sorrindo como o idiota da porra que era, quando nossa reunião acabasse.

Balancei a cabeça. Maraisa e sua bendita codificação por cores e seu espírito de equipe. Provavelmente, ela chora junto com as pessoas que tem que demitir. Aliás, onde ela estava? Eu não a via desde ontem na hora do almoço, quando atendi a ligação do arremedo mal-acabado de ex.

Talvez, de agora em diante, eu devesse começar a dizer e fazer o oposto de tudo que pensava perto dessa gente da Wren. Na próxima vez que Finley passar meia hora reclamando de que um cliente não gosta dos designs feitos de acordo com as exatas especificações que ele deu, em vez de falar para ela chupar essa manga e voltar ao trabalho, vou perguntar como ela se sente por ter um cliente infeliz com seu trabalho. Talvez enquanto tomamos um chá.

E Maraisa... quando ela me perguntar o que acho sobre seu suposto tempo, em vez de ser honesta e responder que o babaca do ex quer enfiar o pau em uma boca que não é a dela, vou explicar que é normal esse babaca desejar um período de separação de vez em quando, e que aposto muito dinheiro e uns donuts que ele vai voltar mais feliz e bem-ajustado por causa da compreensão dela.

Porra, acorda, pessoal.

Comecei a redigir uma resposta para a Mary do RH, mas pensei melhor. Em vez disso, fui procurar a Srta. Luz do Sol, que ainda não tinha mandado o texto para a nossa reunião com o Jake amanhã.

A porta da sala de Maraisa estava aberta, mas ela mantinha a cara enfiada na tela do computador. Bati duas vezes para chamar sua atenção, depois entrei.

— Antes que eu diga alguma coisa, está gravando a conversa para mandar para o Recursos Humanos? Se estiver, vou voltar ao meu escritório e vestir minha calcinha de renda cor-de-rosa.

Ela levantou a cabeça, e tive a sensação de ser atingida no meio do peito por uma marreta.

Chorando.

Maraisa estava chorando. Ou esteve recentemente. Sem perceber, passei a mão do lado esquerdo do peito como se sentisse uma dor surda.

O rosto dela estava vermelho e inchado, manchado de preto do rimel borrado.

Irresistível | G!POnde histórias criam vida. Descubra agora