Senti a decepção

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Maraisa.

Eram oito da manhã, e eu já estava no escritório havia horas.

Ontem, no voo de volta, tinha redigido um resumo das informações que oblive na reunião da Star e mandado por email para os três membros da equipe, dois da Wren e um da Foster Burnett, pedindo que lessem minhas anotações e se reunissem para uma sessão de brainstorm hoje de manhã, na primeira hora.

Quando cheguei ao escritório, às cinco horas, a porta da sala de Marília estava fechada, mas a luz estava acesa. Depois de uma hora pondo os e-mails em dia, fui pegar café e notei que a porta da sala dela estava aberta e a luz, apagada. Imaginei que ela tinha feito o que sempre fazia: chegou ao escritório cedo, trabalhou um pouco e saiu para ir correr. Não tivemos nenhum contato desde que a deixei apagada no meu quarto de hotel ontem de manhã e, embora a curiosidade sobre como ela lidaria com o que havia acontecido estivesse me corroendo, hoje eu não tinha tempo a perder.

Justamente quando minha reunião estava começando, Marília passou pela sala dos funcionários. Ela deu um passo para trás ao nos ver lá dentro. Estava de cabelo molhado e segurava um copo grande da Starbucks.

— O que está acontecendo aqui?

— Estamos começando a trabalhar no orçamento da Star Studios. — respondi.

Os olhos dela estudaram as pessoas na sala, e pensei que questionaria o fato de eu ter escolhido pessoas para trabalhar comigo na campanha sem falar com ela antes. Mas, em vez disso, quando nossos olhares se encontraram, ela só acenou brevemente com a cabeça e seguiu seu caminho.

Eu e meus escolhidos para a equipe trabalhamos juntos durante o resto da manhã. Eu tinha uma dezena de conceitos soltos na cabeça antes de começarmos, e reduzimos essa lista a duas ideias, que depois expandimos, além de adicionarmos mais duas que apareceram durante a sessão. Nosso plano era cada uma passar um tempo sozinha, revendo os quatro conceitos, e depois descobrir o que surgia quando nos reuníssemos de novo em alguns dias.

Quando estava voltando para minha sala, parei na de Marília. Ela estava de cabeça baixa, desenhando alguma coisa.

— Conseguiu pegar o voo? — perguntei.

Ela se encostou na cadeira e jogou o lápis em cima da mesa.

— Consegui. Felizmente tive condições de programar o alarme, acho.

Hum... não, não teve.

Ela continuou:

— Não lembro muita coisa daquela noite depois que terminamos de jantar. Eu te acompanhei até o quarto e apaguei no chão, ou alguma coisa assim?

— Não lembra de ter ido bater na minha porta?

— Aparentemente não. — E franziu a testa. — Por que eu bati na sua porta?

— Para pedir desculpas pela maneira como se comportou no jantar. — E dizer por que agiu daquele jeito.

— É raro eu tomar mais de uma ou duas doses de bebida destilada. Sou mais de cerveja. — Ela riu. — Espero que não tenha abusado de mim.

Senti a decepção. Ela não se lembra. Eu sabia que era bem possível que ela esquecesse a noite inteira, mas não esperava me sentir magoada por ela não lembrar as coisas que tinha dito.

Mas, é claro, era melhor assim.

— Você ficou confusa, errou de quarto e apagou enquanto eu fui vestir um suéter para te levar ao seu quarto.

Senti o rosto começar a esquentar por causa da mentira. Merda.

— Preciso ir. Falo com você mais tarde. — Saí apressada e fui me esconder atrás da porta fechada do meu escritório antes que ela notasse.

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