Kunikuzushi

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Sei lá. Tava sem o que fazer.

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Pés e pernas. Mãos e braços. Ele tinha um corpo e uma cabeça. Sua pele era branca e delicada como porcelana.

Ele era como uma pessoa normal, sabia andar e falar, podia sentir raiva, tristeza e alegria, como qualquer ser humano. Tinha emoções, eram verdadeiras, emoções reais como as de qualquer pessoa. Ele tinha sentimentos, sentimentos fortes, fortes até demais.

Sua mãe o amava, o amava muito. Mas chegou um momento em que seu amor se tornou uma mistura de coisas. Ela era uma deusa, ah, como ela era bela, seus longos cabelos roxos eram macios, pareciam algodão, ela cuidava bem deles, sempre os escovava todas as noites e durante o dia os deixava presos em uma longa trança. Ele adora os cabelos de sua mãe, gostava de ajudar ela a escová-los todas as noites, era um momento especial, ele sentava junto a ela, pegava sua escova e começava.

Ela era forte, muito forte, e ele admirava isso nela.

Ele era seu sucessor, foi criado com esse propósito. Mas sua mãe não queria mais isso. Ele era como um garoto, mesmo que seu corpo houvesse sido feito com pedaços de outros materiais. Mesmo não tendo o corpo de um garoto normal, ele podia ter a vida como um. Ele tinha sentimentos e emoções como um humano, então... era o que importava, certo?

Ele ainda era muito jovem quando teve sua primeira traição. Ele era tão inocente, não entendia o motivo daquilo ter acontecido, por que sua mãe o abandonou? Ela não o amava mais? Ele fez algo errado?

Quando abriu os olhos, ele estava em frente ao que parecia ser um enorme templo, a grama era verde e macia e haviam inúmeras flores que iluminavam tudo, era lindo. Mas ele estava sozinho, abandonado, sem sua mãe em um lugar desconhecido.

Mas ele continuou andando, não sabia para onde exatamente estava indo, mas ele continuou andando, até encontrar um jovem, um homem de cabelos castanhos, ele tinha uma expressão gentil. Esse homem o ofereceu ajuda e ele imediatamente aceitou.

Ele passou a viver com aquele gentil homem. Começou a trabalhar junto a ele, passou a aprender mais sobre viver com outras pessoas, e ele gostava, era novo, era divertido, ele tinha alguém que de importava com ele outra vez. O tempo passou, e o jovem garoto teve sua segunda traição.

Foi difícil de aceitar e entender. Ele apenas sentiu um aperto enorme em seu peito, algo queimava ali dentro. Ao abrir a porta daquela casa, ele encontrou o corpo do seu amigo. Um sentimento de traição, mágoa e raiva tomando seu corpo. Ele se sentiu abandonado por alguém que acreditava ser seu amigo, acreditava que os dois passariam a vida juntos.

Ele fugiu, correu o máximo que pôde.

Quando parou, já estava em um lugar completamente diferente. Ele continuou andando, o véu que usava em sua cabeça caiu e foi em direção a alguns pedaços de madeira, ele se aproximou, pegou e quando levantou, seu olhar se encontrou com o de um garoto, uma criança.

Ele era pequeno, magro, tinha uma expressão gentil e inocente. Ele estava sozinho, morava em uma casa abandonada naquela região. Os dois estavam sozinhos. Passaram a viver juntos. Protegendo um ao outro. Prometeram cuidar e ficar juntos, nunca abandonar o outro. Mas a criança tinha um segredo, ele tinha uma doença e o garoto não sabia disso.

Ele começou a trabalhar para conseguir dinheiro e poder comprar comida para a criança. Ele ganhava pouco, mesmo assim conseguia o suficiente para sustentar a criança. Depois de um bom tempo trabalhando, o garoto conseguiu dinheiro suficiente para comprar alguns tecidos e algodão, o suficiente para conseguir fazer um boneco de pano para dar de presente ao outro.

Tudo estava bem, os dois continuavam juntos. Foi quando então, a terceira traição veio.

Ele havia saído para colher algumas frutas, mas quando voltou, tudo o que encontrou foi o corpo da criança já sem vida. Ele correu até o corpo e o segurou em seus braços. Um líquido estranho se formou em seus olhos, pequenas gotas escorreram por seu rosto e molharam as roupas da criança.

— Não. Você não pode fazer isso. Você prometeu que seríamos uma família.

Pela terceira vez, ele foi traído. Não sobrou mais nada além de raiva.

— Vocês são todos iguais.

Aquilo foi a gota d'água. O fogo da raiva não queimava apenas em seu peito, mas por toda casa. Destroços caíam no chão, não só a casa não estava mais em pé, mas o velho Kunikuzushi também não.






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