Dois

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Hoseok debruçou-se sobre as águas cor de chá do Lago Horseshoe. Em torno dele, enormes ciprestes do pântano pareciam soldados antigos em posição de sentido, os tentáculos nodosos de suas raízes estendendo-se sobre a água. O Mire nunca ficava em silêncio, mas nada fora do comum interrompia o coro familiar de pequenos ruídos, um sapo coaxando em algum lugar à esquerda; o leve farfalhar de esquilos do Edge na copa acima dele, o gorjeio persistente do tentilhão...

Ele enrolou a calça jeans e se agachou, cantarolando uma habitual ladainha

— ♪ Onde você está Nellie? Onde está a minha boa menina? Nellie é a melhor rolpie de todos os tempos. Aqui, Nellie, Nellie, Nellie.

A superfície do lago estava completamente plácida. Nem mesmo um respingo.

Hoseok suspirou. Uma longa mancha úmida flanqueada por golpes de patas com garras marcava a lama a um metro e meio dele. A trilha de Nellie. Quando Hoseok tinha quinze anos, rastrear rolpies pelo pântano era uma aventura. Tinha vinte e quatro anos agora e caminhar penosamente pelo Mire no meio da noite, tropeçando na água e afundando até os tornozelos na lama era muito menos divertido. Ele poderia pensar em maneiras muito melhores de passar o tempo. Como dormir em sua cama quente e agradável, por exemplo.

Aqui, Nellie! Aqui, menina. Quem é a boa menina? É Nellie. Oh, Nellie é tão bonita. Oh, Nellie é tão graciosa. Ela é a rolpie mais graciosa, fofa e estúpida de todos os tempos. Sim ela é.

Sem resposta.

Hoseok ergueu os olhos. Bem acima, um pequeno pedaço de céu azul piscou para ele através da trança de galhos de cipreste e videiras do pântano.

— Por que você faz isso comigo?

O céu se recusou a responder. Na verdade, nunca havia respondido, mas Hoseok continuava falando com ele de qualquer maneira. Um chilrear ecoou acima, e uma bola branca de cocô de pássaro despencou dos galhos. Hoseok esquivou-se e rosnou para o céu.

— Isso não foi legal. Nem um pouco legal.

Era hora de medidas de emergência. Hoseok encostou a espada na raiz de um cipreste, prendendo a bainha na lama, mudou de posição, puxou a mochila dos ombros e enfiou a mão na bolsa. Tirou de lá de dentro uma emaranhada coleira de couro. Projetada para cobrir o focinho de um rolpie. A alça extra, travada atrás de sua cabeça, garantia que o animal não conseguisse arrancar. Hoseok esticou a coleira na lama para facilitar o acesso e tirou da bolsa um abridor de latas e uma pequena lata.

Hoseok estendeu a lata e bateu nela com o abridor de latas. O som de metal contra metal rolou acima do lago. Nada.

— Oh, olha o que tenho aqui? Atum!

Uma pequena ondulação enrugou a superfície cerca de dez metros para fora.

Peguei você.

— Hummm, gostoso, delicioso atum. Vou comer tudo sozinho. — Ele travou o abridor de lata na lata e apertou, quebrando o lacre.

Uma cabeça malhada saiu da água. A rolpie cheirou o ar com um nariz preto emoldurado por longos bigodes escuros. Grandes olhos negros fixos na lata com alegria maníaca.

Hoseok apertou o topo da lata, deixando um pouco do suco do peixe escorrer para o lago.

A rolpie acelerou através da água e se lançou para a beira. Do rabo ao pescoço, ela parecia uma foca magra, armada com uma cauda longa e quatro patas largas emolduradas por nadadeiras achatadas. Nos ombros, o corpo da foca se estendia em um pescoço longo e gracioso, com uma cabeça de lontra na ponta.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora