Hoseok debruçou-se sobre as águas cor de chá do Lago Horseshoe. Em torno dele, enormes ciprestes do pântano pareciam soldados antigos em posição de sentido, os tentáculos nodosos de suas raízes estendendo-se sobre a água. O Mire nunca ficava em silêncio, mas nada fora do comum interrompia o coro familiar de pequenos ruídos, um sapo coaxando em algum lugar à esquerda; o leve farfalhar de esquilos do Edge na copa acima dele, o gorjeio persistente do tentilhão...
Ele enrolou a calça jeans e se agachou, cantarolando uma habitual ladainha
— ♪ Onde você está Nellie? Onde está a minha boa menina? Nellie é a melhor rolpie de todos os tempos. Aqui, Nellie, Nellie, Nellie. ♫
A superfície do lago estava completamente plácida. Nem mesmo um respingo.
Hoseok suspirou. Uma longa mancha úmida flanqueada por golpes de patas com garras marcava a lama a um metro e meio dele. A trilha de Nellie. Quando Hoseok tinha quinze anos, rastrear rolpies pelo pântano era uma aventura. Tinha vinte e quatro anos agora e caminhar penosamente pelo Mire no meio da noite, tropeçando na água e afundando até os tornozelos na lama era muito menos divertido. Ele poderia pensar em maneiras muito melhores de passar o tempo. Como dormir em sua cama quente e agradável, por exemplo.
— ♪ Aqui, Nellie! Aqui, menina. Quem é a boa menina? É Nellie. Oh, Nellie é tão bonita. Oh, Nellie é tão graciosa. Ela é a rolpie mais graciosa, fofa e estúpida de todos os tempos. Sim ela é.♫
Sem resposta.
Hoseok ergueu os olhos. Bem acima, um pequeno pedaço de céu azul piscou para ele através da trança de galhos de cipreste e videiras do pântano.
— Por que você faz isso comigo?
O céu se recusou a responder. Na verdade, nunca havia respondido, mas Hoseok continuava falando com ele de qualquer maneira. Um chilrear ecoou acima, e uma bola branca de cocô de pássaro despencou dos galhos. Hoseok esquivou-se e rosnou para o céu.
— Isso não foi legal. Nem um pouco legal.
Era hora de medidas de emergência. Hoseok encostou a espada na raiz de um cipreste, prendendo a bainha na lama, mudou de posição, puxou a mochila dos ombros e enfiou a mão na bolsa. Tirou de lá de dentro uma emaranhada coleira de couro. Projetada para cobrir o focinho de um rolpie. A alça extra, travada atrás de sua cabeça, garantia que o animal não conseguisse arrancar. Hoseok esticou a coleira na lama para facilitar o acesso e tirou da bolsa um abridor de latas e uma pequena lata.
Hoseok estendeu a lata e bateu nela com o abridor de latas. O som de metal contra metal rolou acima do lago. Nada.
— Oh, olha o que tenho aqui? Atum!
Uma pequena ondulação enrugou a superfície cerca de dez metros para fora.
Peguei você.
— Hummm, gostoso, delicioso atum. Vou comer tudo sozinho. — Ele travou o abridor de lata na lata e apertou, quebrando o lacre.
Uma cabeça malhada saiu da água. A rolpie cheirou o ar com um nariz preto emoldurado por longos bigodes escuros. Grandes olhos negros fixos na lata com alegria maníaca.
Hoseok apertou o topo da lata, deixando um pouco do suco do peixe escorrer para o lago.
A rolpie acelerou através da água e se lançou para a beira. Do rabo ao pescoço, ela parecia uma foca magra, armada com uma cauda longa e quatro patas largas emolduradas por nadadeiras achatadas. Nos ombros, o corpo da foca se estendia em um pescoço longo e gracioso, com uma cabeça de lontra na ponta.
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Série Na Borda - Livro 2 - Lua do Pântano
FanfictionSérie: Na Borda Livro: 02 O Edge fica entre mundos, na fronteira entre o Broken, onde as pessoas fazem compras no Wal-mart e a magia faz parte só dos contos de fadas, e o Weird, onde os nobres Sangue azuis governam, os metamorfos vagam, e a força de...