Peva Sheerile sentou-se encostado no tronco de um pinheiro e observou a água escura. Em volta dele, folhas de samambaias cor de ferrugem, com pontas secas farfalharam suavemente, balançadas pela brisa noturna. À esquerda, uma coruja do mato piou, tentando tirar os musaranhos de seus esconderijos. Um velho ervaurg jazia na água como um tronco meio afundado.
Peva havia vigiado o riacho no início da noite. Hoseok estava sem tempo, e no lugar dele ele teria escolhido vir pela segunda via fluvial mais rápida de Sicktree para o Buraco-de-Rato. O infeliz tinha uma audiência no tribunal pela manhã, e como o córrego Ridge-Back era o caminho mais rápido para chegar ao Buraco-de-Rato e, portanto, o mais óbvio, e o riacho Priest's Tongue era muito sinuoso e lento, Hoseok escolheria essa via aqui. Como o pântano a noite era muito perigoso para viajar de barco, ele tentaria se esgueirar à primeira luz do dia, silencioso e sorrateiro, se achando muito esperto, mas na verdade ele se depararia com Vespa e suas flechas. Peva deu um tapinha no cabo de madeira de sua besta. Vespa estava com sede e Hoseok tinha muito sangue a oferecer.
Seria muito bom jogar o cadáver de Hoseok na porta do Buraco-de-Rato. Com a flecha dele ainda cravada nele. Peva tentou imaginar o rosto de Jang Uk... chocado pela dor, suas feições, habitualmente arrogantes, transformadas em uma máscara frouxa de incredulidade e sorriu. Já era hora daquele bastardo se lembrar de quem era. Um rato de lama, assim como o resto da ninhada de ratos da família Jung, que infestavam e se reproduziam na lama do Mire. Não havia um naquela família que prestasse. Eram um bando de vira-latas do Edge. Sim, já era hora.
Em sua mente, o rosto de Jang Uk de alguma forma se transformou no de Lagar. A alegria sumiu.
Merda.
Ele se perguntou o que veria no rosto de seu irmão quando mostrasse o corpo morto de Hoseok a ele.
Pensando bem, seria melhor se Lagar não visse o cadáver dele. Não havia necessidade. A coisa entre Lagar e Hoseok o intrigava. Não era como se Hoseok tivesse em algum momento aberto as pernas para seu irmão, ou fosse abrir. Inferno, não era como se Lagar tivesse tentado algo assim ou fosse tentar. Não houve presentes, flores ou qualquer uma dessas coisas que casais gostam. Mas bastava Hoseok passar na frente de Lagar e seu irmão olhava para ele de uma forma diferente. E ainda houve aquela maldita dança, quando os dois giraram ao redor da fogueira. Lagar bêbado, os olhos loucos, Hoseok sorrindo. Aquilo foi muito interessante.
Peva imaginou seu irmão e Hoseok juntos e teve que admitir para si mesmo que, se aqueles dois se reproduzissem, dariam uma bela ninhada.
Em outra vida.
Não, em outro mundo.
Mesmo se suas famílias não estivessem em guerra, seria um dia frio no inferno antes que sua mãe deixasse alguém como Hoseok entrar na família. A velha bruxa não gostava de competição. Por ela, nenhum deles jamais se casaria, a menos que fosse com uma retardada surda-muda.
Seria o melhor para todos, decidiu Peva.
Mate Hoseok rápido, jogue fora o corpo e diga a Lagar que tudo foi feito de forma limpa e sem dor.
Um leve movimento tremulou através da abertura estreita nas árvores, onde o riacho fazia uma curva acentuada. Peva se concentrou. Uma sombra mais escura do que as outras deslizava pela água. Um barco, e antes do amanhecer também.
Merda. O puto descarado tinha se arriscado a noite, afinal.
Instantaneamente seu corpo ficou quente, seu coração disparou, sua boca ficou seca. A excitação cresceu dentro dele. Ele se inclinou para frente, olhos alertas e fixos na silhueta escura que fazia a curva no riacho. Sua respiração desacelerou. Peva mirou. A pessoa no barco estava curvada. Cansada da noite sem dormir.
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Série Na Borda - Livro 2 - Lua do Pântano
FanfictionSérie: Na Borda Livro: 02 O Edge fica entre mundos, na fronteira entre o Broken, onde as pessoas fazem compras no Wal-mart e a magia faz parte só dos contos de fadas, e o Weird, onde os nobres Sangue azuis governam, os metamorfos vagam, e a força de...