As tábuas da varanda rangeram sob os pés de Lagar. A mansão inteira estava podre. O interior da casa cheirava a mofo, os painéis úmidos e viscosos, salpicados de manchas pretas de mofo.
Ele queria tanto essa mansão que se vendeu para a Mão por ela. Malditas aberrações. Lagar encolheu os ombros, tentando se livrar da memória da magia da Mão, escaldante e afiada, roçando contra ele como um monte de agulhas incandescentes. E tudo para quê? Por esta casa de merda.
A única razão pela qual Lagar queria a maldita casa era porque ela pertencia a Gustave. Gustave tinha de tudo... liderava a família e eles o idolatravam, era respeitado, as pessoas pediam conselhos a ele... E Hoseok morava na casa dele. Chad apareceu atrás da casa, as mãos segurando o rifle.
— O que foi?
— Não consigo encontrar Brent.
Lagar seguiu seu capanga ao redor da casa até um jardim coberto de ervas daninhas e azevinho. Uma pequena poça, escura como o vinho, brilhando na luz cinzenta do amanhecer, espalhava-se na lama, na borda dos arbustos. Sangue. Chad moveu-se de um pé para o outro.
— Eu vim para trocar de turno com ele...
Lagar ergueu a mão, calando-o. Listras compridas marcavam a lama úmida, formando uma trilha que se seguia ao longe. Em um determinado lugar havia uma pegada profunda, feita por um peso enorme. Mais pegadas se estendiam na trilha. Brent deve ter visto a trilha e parou naquele local. A pausa momentânea custou-lhe a vida. Algo saltou sobre ele e o carregou. Atrás dele, Chad continuava movendo-se aflito.
— Eu acho que talvez tenha sido um gato do Mire...
— Muito grande.
Lagar olhou além do emaranhado de ervas daninhas para a parede de pedra desmoronada que separava o pedaço de terra. Antigamente toda aquela área era coberta por pinheiros. Agora estava deserto e silencioso.
— Onde está o rifle? — Ele pensou em voz alta.
— Uh...
— O rifle, Chad. Brent tinha um. Por que um animal levaria um rifle?
Começou a garoar. A chuva molhava as folhas verde-acinzentadas dos azevinhos, as ervas-do-leite vermelhas, os arbustos altos de louro, que mantinham suas flores roxas presas nos galhos verdes contra a força da chuva. Umidade fria rastejou do couro cabeludo de Lagar, descendo por seu pescoço e pela testa. Ele não se incomodou em limpá-la.
— Formem duplas com os homens — disse Lagar. — A partir de agora, ninguém fica de vigia e nem sai sozinho. Envie Chrisom para a cidade e peça-lhes que comprem algumas armadilhas de Ervaurg.
— Do tipo abrigo ou trituradores?
— Trituradores. — Não havia necessidade de ser sutil. — Coloque um atirador no sótão para cobrir o jardim, faça três times de dois e vasculhem tudo. Vamos ver se encontramos esse rifle. Depois de terminar de vasculhar, feche o lugar.
Lagar acenou para ele e Chad partiu em uma corrida rápida. Lagar se agachou perto da trilha e estendeu a mão, medindo a distância entre as listras. As patas dianteiras tinham quase vinte e cinco centímetros de diâmetro. Lagar caminhou mais um pouco, seguindo a trilha. Lá estava, as pegadas profundas, marcando o lugar onde um animal havia se agachado. Ele olhou de volta para as marcas de garras. Sete metros.
Ele tocou as bordas das pegadas e mergulhou os dedos nas impressões para medir sua profundidade. Dedos redondos e grossos. Se fosse um gato, seria um macho, com três metros de comprimento e pesando uns trezentos quilos. Sua mente lutou para imaginar um animal tão grande. Seria algo do Weird? Por que viria aqui?
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Série Na Borda - Livro 2 - Lua do Pântano
FanfictionSérie: Na Borda Livro: 02 O Edge fica entre mundos, na fronteira entre o Broken, onde as pessoas fazem compras no Wal-mart e a magia faz parte só dos contos de fadas, e o Weird, onde os nobres Sangue azuis governam, os metamorfos vagam, e a força de...