Vinte e Dois

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Hoseok sentou-se na grama. O corte em seu peito havia parado de sangrar. Estranhamente não doeu, não tanto quanto ele pensava que doeria. Seu sangue sempre coagulava rapidamente e ele geralmente se safava com uma bandagem onde outras pessoas precisariam de pontos.

A alguns metros de distância, Erian arrastou um cadáver pelos pés até a pilha crescente de mortos. Seu primo deveria ter ido cuidar dos próprios ferimentos, em vez de puxar cadáveres. Erian se virou para ele, virando o cadáver. Excitação iluminou os olhos dele, os dentes arreganhados em um sorriso rígido. Seu primo parecia perturbado, perdido em uma alegria maníaca.

O sangue jorrou da boca do cadáver. Erian riu, sua voz borbulhando em sua garganta. O deleite no rosto dele o perturbou profundamente.

Aquele não era Erian. Erian era calmo e tranquilo. Ele não ria da morte. Não se divertia com isso.

A guerra acabou, Hoseok disse a si mesmo.

Erian esperou por sua vingança por tanto tempo que o fim disso tudo pode tê-lo deixado um pouco perturbado. Os Sheeriles estavam mortos e, assim que limpassem o campo, Erian voltaria ao seu estado normal. Mas ele se lembraria daquele sorriso psicótico para sempre.

Hoseok suspirou e olhou para o corpo que ele arrastava. A cabeça pálida do cadáver saltou no chão e mais sangue escapou de sua boca. O rosto parecia familiar...

Arig.

Ele quase não o reconheceu sem aquele olhar malicioso. A morte apagou toda expressão do rosto dele, e agora o rapaz parecia apenas uma criança, tirada do mundo muito cedo.

Hoseok desejou ter sentido algo, algo diferente de desgosto. Os irmãos Sheeriles estavam mortos. A rivalidade acabou. Ele deveria estar comemorando, mas em vez disso se sentia vazio, desprovido de todas as emoções. Apenas o desgosto permaneceu. Tantas pessoas mortas. Que desperdício. Um desperdício de pessoas, um desperdício de vidas.

Se uma pedra caísse do céu e acertasse sua cabeça, matando-o, ele não se importaria. Estava exausto de qualquer maneira. Namjoon se jogou na grama ao lado dele.

— Foi uma boa luta.

— Sim. Você massacrou trinta pessoas sozinho.

— Eu quis dizer você e Lagar.

Hoseok suspirou.

— Se eu fosse meu pai, a família me seguiria para qualquer lugar, mas não sou. Eu tinha que provar que era bom o suficiente. Na próxima vez, posso ter de liderá-los contra a Mão e preciso que eles me sigam.

No centro da clareira, os homens amarraram o corpo de Lagar. Ele ficou pendurado em pé em um poste de madeira, e as pessoas empilharam turfa e lama ao redor da base do poste. Três baldes cheios de lama já esperavam ao lado do corpo. Jang Uk e Seokjin trouxeram uma grande caixa de plástico e a colocaram perto dos baldes. Namjoon olhou para o corpo.

— O que vão fazer?

— Vamos convidar um espírito do pântano para entrar no corpo de Lagar. Existem muitos espíritos no pântano. Eles costumavam ser Deuses, os Velhos Deuses das Antigas Tribos que fugiram para o pântano séculos atrás. Mas as tribos já se foram e agora seus Deuses são apenas espíritos. Há Gospo Adir, o espírito da vida e da morte. Vodar Adir, o espírito da água. Vou chamar Raste Adir, o espírito das plantas.

— Para qual finalidade?

Hoseok suspirou.

— Não sabemos para onde a Mão levou meus pais ou por quê. Precisamos descobrir onde eles estão e o que querem. As plantas têm muita vitalidade. O suficiente para reviver um cadáver. As coisas que estou procurando estão trancadas no cérebro de Lagar. Ele era um homem cuidadoso. Provavelmente sabia o que Aranha planeja fazer com meus pais, ou ele nunca teria feito um acordo com a Mão. Raste Adir tomará o corpo de Lagar e encontrará esse conhecimento para mim.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora