Vinte e Oito

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Namjoon se agachou no convés da barcaça. Diante dele, a costa se aproximava, preta e verde na luz fraca do amanhecer. Hoseok estava ao lado dele, seu cheiro torcendo e girando em torno dele. Atrás deles os Jungs aguardavam.

— Você tem certeza? —Hoseok perguntou.

— Sim. Nos separaremos a partir daqui. Se eu derrotar Aranha, a Mão enfraquecerá.

Mas para chegar até Aranha, ele precisaria de uma distração e os Jungs seriam essa distração.

— Não morra — ele sussurrou.

— Eu não vou.

Namjoon o puxou para si e o beijou, o gosto dele tão forte e vívido que quase doeu. Então era isso. Namjoon sabia que era bom demais para ser verdade. Ele o teve e agora o perderia.

A barcaça balançou perto da margem. Namjoon saltou, atravessando o trecho de seis metros de água e disparou para a floresta. Vinte minutos depois, ele pousou no topo da colina atrás da Poça do Cachorro Afogado. O sol havia nascido, mas o dia estava cinzento e escuro, o céu nublado. Na luz fraca, os riscos de tinta verde, cinza e marrom em seu rosto se misturavam com a densa cobertura das moitas dos arbustos de frutos verdes. Ele se moldou na colina tão profunda que sentiu o gosto de lama nos lábios. Estava quase invisível para os agentes de Aranha ocupados lá embaixo.

A colina margeava a lagoa em forma de lua crescente irregular, caindo em um penhasco íngreme, seu solo encharcado e escorregadio com a chuva recente. Arbustos e pinheiros cobriam a colina, mas nada crescia perto da lagoa, exceto um cipreste solitário. A árvore se erguia acima da água, suas raízes nodosas antigas e calejadas de incontáveis tempestades. A água da lagoa abaixo era tão escura que não refletia a imagem do cipreste nela.

Todo o lugar emanava uma calma estranha e ameaçadora. A chegada dos agentes da Mão fez pouco para perturbar o local, não mais do que um coveiro teria feito a serenidade de um cemitério.

Namjoon moveu-se ligeiramente para manter a circulação fluindo em seus braços. Ele se escondeu acima da margem norte da lagoa, longe o suficiente para ficar fora da vista dos agentes, mas perto o suficiente para conseguir ver a movimentação. A sacola do Espelho forneceu-lhe uma lente que lhe permitia ver a distância e que agora usava sobre o olho esquerdo como um tapa-olho. A lente o possibilitava ver os agentes tão perto que podia contar as espinhas nos rostos deles.

Um metro a frente, o solo terminava abruptamente, e a colina mergulhava oito metros direto na água escura como breu da lagoa. Aranha não deu muita atenção a colina, colocando apenas dois guardas a postos. Os guardas estavam em solo firme, o mais próximo a apenas quinze metros de onde Namjoon se escondia. Nenhum dos dois seria um problema quando chegasse a hora. No lugar de Aranha, Namjoon teria feito o mesmo, qualquer ataque vindo do Leste, sobre a colina, teria terminado na turfa, e seus instintos gritavam para ele ficar bem longe daquela água escura.

A maioria dos agentes de Aranha estavam concentrados ao redor da lagoa. Uma juba de cabelos brancos chamou a atenção de Namjoon.

Karmash.

O enorme agente gritou uma ordem para uma mulher morena e forte. Ela jogou o cabelo para trás e foi até uma corrente caída na lama. Os músculos de suas costas nuas incharam. Algo se moveu sob a pele da mulher, como uma mola enrolada, e ela pegou o emaranhado de corrente e o carregou sem esforço aparente em direção aos outros agentes, que desembaraçavam cordas presas as raízes de cipreste. Eles estavam montando um sistema de polia nos galhos do cipreste para puxar a Urna.

Esperto, Aranha.

Um agente explodiu da água lamacenta, a criatura era todo feita de tendões e tentáculos, gotejando lama, e arremessou uma cobra se contorcendo para longe da margem. A cobra girou no ar, longe do grupo principal de agentes. Uma mulher saiu de trás de uma pilha de madeira. O braço dela brilhou e a cobra caiu no chão, cortada ao meio, se contorcendo na lama.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora