Vinte e Quatro

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Hoseok acordou. Seu quarto estava escuro. Demorou um segundo para reconhecer o som de uma respiração próximo a ele, e então se lembrou, Cotovia.

Explicar a Cotovia o que tinha acontecido com a mãe deles não acabou bem. Hoseok havia tentado o seu melhor, mas a única coisa que Cotovia ouviu foi que a mãe não voltaria. Nunca mais. A pobre menina quebrou e chorou. Ela chorou e chorou com desespero febril. A princípio Hoseok tentou acalmá-la, mas então algo estalou dentro dele e ele chorou também.

Hoseok pensava que ele não tinha mais lágrimas, mas não, chorou como Cotovia. Eles se amontoaram na cama e choraram de dor e injustiça. Finalmente Hoseok se obrigou a parar e segurou Cotovia, murmurando palavras tranquilizantes para ela e acariciando seus cabelos, até que sua irmã se enrolou em uma bola e adormeceu, choramingando como um gatinho doente.

Hoseok olhou para o teto. Nenhum ruído perturbou o silêncio. Ele não ouviu nada, não viu nada, mas algo deve tê-lo acordado. Sentou-se devagar e se virou para a janela alta que dava para a varanda. Um par de olhos brilhantes olhou através do vidro.

Namjoon.

Ele estava sem camisa. A luz do luar deslizando sobre seu pescoço e ombros, traçando o contorno dos bíceps esculpidos, deslizando sobre os músculos de suas costelas e abdômen. O cabelo dele caia sobre os ombros em uma juba escura.

Ele se levantou com uma graça fácil e predatória, lindo e aterrorizante, e o olhou com o mesmo desejo irresistível que Hoseok vira nele na casa do lago. A intensidade disso o deixou sem fôlego. Hoseok não tinha certeza se deveria desmaiar, gritar ou apenas acordar desse sonho. Ele se moveu e bateu na janela com os nós dos dedos. Não era um sonho. Ele apareceu e queria entrar. Hoseok balançou a cabeça.

Não.

Hoseok precisava tanto dele, quase doía, mas Cotovia precisava mais dele.

Ele ergueu os braços.

Por quê?

Hoseok se inclinou e muito gentilmente puxou o cobertor para baixo, revelando os cabelos despenteados de Cotovia. O rosto dele se entristeceu. Ele balançou para frente e bateu com a cabeça no vidro.

— Aaaa! — Cotovia se sentou. — Hobi! Hobi!

Hoseok colocou-se entre a irmã e a janela.

— O que foi?

— Um monstro, um monstro na janela!

Hoseok agarrou Cotovia em um abraço e se virou, mantendo o rosto de Cotovia longe do vidro. Namjoon arrancou as calças. O corpo dele entrou em uma convulsão, sacudindo-o, dobrando seus braços, torcendo seus ombros. Hoseok engoliu em seco.

— Não há nada aqui.

— Há um monstro! Eu vi.

Os músculos de Namjoon fluíram como cera derretida. Ele caiu de quatro. Pelo preto denso o envolveu. Ele estremeceu, e um enorme lobo negro sentou-se na janela, seus olhos brilhando como duas luas selvagens.

Ele não viu o que acabou de ver. Com certeza não.

Todos os pelos da nuca de Hoseok se arrepiaram. Ele engoliu em seco.

— Olha, bebê, não é um monstro, é apenas um cachorro. Veja?

Cotovia se afastou dele e olhou para a janela.

— De onde ele veio?

— É o cachorro de Namjoon.

O maldito lobo era do tamanho de um pônei. Namjoon deu uma patada no vidro da janela suavemente e o lambeu.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora