Vinte

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Aranha abriu os olhos. Estava submerso no fundo da piscina, nas profundezas frias e sombrias. Acima dele, um céu de água brilhava onde tocava o ar. Ele não sentia calor nem frio. Nada perturbava a água. Estava totalmente sozinho, flutuando sem peso, observando das sombras enquanto os raios de sol se filtravam através da água, deixando-a iluminada.

Se fechasse os olhos, poderia fingir que estava mergulhando nas águas translúcidas bem ao sul, onde uma cadeia de ilhas do Novo Egito se estendia da ponta oriental do continente até o oceano. Nadar ali, deslizar sobre os recifes de coral, rodeado de vida, feliz e livre da humanidade, trazia-lhe uma sensação de paz e a simples e emocionante alegria de estar vivo.

Infelizmente, ele não estava mergulhando no oceano agora. Aranha se permitiu um último momento de lamentação e emergiu silenciosamente com um único chute.

O ar estava desagradavelmente fresco. As dobras de pele na lateral de seu corpo se fecharam, escondendo os leques plumosos e rosados de suas guelras. Entre suas muitas alterações, esta era a menos útil, mas a mais agradável.

Aranha agarrou a borda da piscina e se levantou. Acima dele, o sol brilhava forte. O céu era de um azul claro e cristalino, mas apesar do raro sol, o pântano ainda parecia o mesmo, uma confusão primitiva de podridão e lama.

À esquerda, a mansão onde ele fez sua base se erguia entre as árvores, tentando bravamente ser elegante, mas falhando. Os olhos violetas de Veisan o cumprimentaram. O contraste entre as íris cintilantes e a pele vermelha de Veisan nunca deixou de surpreendê-lo. Ela olhou para ele com expectativa sincera. Como um cachorrinho, pensou Aranha. Um cachorrinho psicótico assassino, letal.

— Oi, meu senhor — sussurrou Veisan.

— Oi, Veisan.

— Sua pele se curou muito bem, milorde.

Considerando a quantidade de catalisador que ele despejou na água da piscina, o rápido progresso era esperado.

— Veisan, por que você está sussurrando?

Suas sobrancelhas se ergueram, fazendo-a parecer lamentável.

— Eu não sei, meu senhor — disse ela em voz um pouco mais alta. — Pareceu apropriado.

Ela ofereceu a ele uma toalha felpuda. Ele agarrou a borda de pedra da piscina, puxou-se para fora e se secou. O líquido deixou manchas rosa claras na toalha amarela. Passaram-se alguns meses desde que Aranha sofreu uma lesão grave o suficiente para exigir uma restauração subaquática. Ele tocou o próprio rosto, satisfeito com a maciez da pele de sua bochecha, onde as bolhas de queimadura estavam. Veisan trocou uma pilha de roupas meticulosamente dobrada por sua toalha e começou a se vestir.

— Alguma coisa vital aconteceu enquanto eu estava submerso?

— O juiz Dobe decidiu a favor dos Jungs. Os Sheeriles têm um dia para sair da Mansão Sene. A prorrogação expira amanhã de manhã. A advogada Malina Williams enviou aos Sheeriles uma carta detalhando suas desculpas. Ela pretende apelar.

Aranha encolheu os ombros.

— Ela não vai ganhar nada com isso. Os Sheeriles deveriam ter escolhido um defensor local. Os Edeges valorizam a familiaridade mais do que a habilidade.

— Recebemos uma mensagem de Lagar Sheerile.

Aranha fez uma careta.

— Deixe-me adivinhar, ele quer reforços para o ataque dos Jungs amanhã.

— Sim, meu senhor.

— Ele estará sozinho nessa. Não preciso mais dele.

Deixaria os ratos da lama lutarem entre si. Isso o pouparia do trabalho de cobrir o rastro dele quando fosse eliminá-los, além de poupar seus agentes de se ferirem. Claro que havia uma chance de Lagar matar Hoseok, mas considerando o quão bem a mãe dele estava progredindo, era improvável que eles precisassem do garoto. Aranha sacudiu o cabelo vigorosamente, secando-o. Ele pouparia alguns momentos de lamentação pela morte do moço, da mesma forma que alguém lamentaria a destruição de uma pintura premiada, Hoseok era representante de uma arte marcial esquecida, e seria uma pena perdê-lo. Mas no grande esquema das coisas, Hoseok era de pouca utilidade para ele.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora