Três

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Namjoon encostou-se na parede de sua casa. As duas pessoas no pátio o observavam. Se acharam estranho seu exército de bonecos de ação, guardaram para si.

A fera dentro dele esbravejou e rosnou, arranhando suas entranhas com garras afiadas. Namjoon o segurou. As imagens de crianças mortas abriram uma velha ferida, mas a raiva não lhe serviria de nada agora.

Durante seu tempo na Legião Vermelha, Namjoon encontrou algumas vezes os agentes do Espelho. As regras não se aplicavam a essas pessoas, e ele aprendeu rapidamente que virar as costas para elas não era uma boa ideia. Se alguém quisesse ferrar com esses caras, seria por sua própria conta e risco, sabendo que sua próxima respiração poderia ser a última.

Namjoon não sabia o que esses dois eram capazes de fazer ou por que vieram procurá-lo, então os observava como um lobo observa um urso se aproximando, imóvel, atento e silencioso. Ele não estava com medo, mas não tinha motivos para provocá-los. Se dessem um único motivo, não hesitaria em arrancar suas gargantas.

Os agentes do Espelho também não se mexiam. Erwin estava à esquerda. Dos dois, ele parecia a maior ameaça. A maioria das pessoas esqueceria Erwin um minuto depois de conhecê-lo. De altura média, compleição média, tinha um rosto normal e cabelo curto, loiro escuro ou castanho claro. Voz suave, modos despretensiosos e seu cheiro estava tão saturado de magia que tudo ao seu redor fedia como uma confeitaria na véspera do Dia de Ação de Graças. A maneira como ele se portava, à vontade, enganosamente despreocupado, também não era um bom presságio.

A mulher ao lado de Erwin era bem mais velha. Baixa, magra, reta como uma vareta, com a pele da cor de café, usava um vestido azul como se fosse uma armadura. A saia do vestido se dividia nas laterais, mostrando calças cinza e botas flexíveis, permitindo que a mulher se movesse rápido se precisasse. Seu cabelo trançado estava em uma confusão complexa em sua cabeça. Seu rosto chamava a atenção. Ela tinha olhos escuros, negros, penetrantes e implacáveis. Os olhos o observavam com uma intensidade assustadora. Era como ser rastreado por uma ave de rapina, fria e pronta para matar. Namjoon filtrou o cheiro da mulher, separando as várias camadas do perfume dela, amora, vetiver, laranja, alecrim, rosas. O cheiro da mulher era um aviso, um comunicado. Ela estava no comando e queria que as pessoas soubessem disso.

Erwin era poderoso, e a maneira como pairava perto da mulher o denunciava. O homem era o seu guarda-costas. E já que não tinha armas visíveis, Erwin tinha que ser um Flasher. Qualquer pessoa com magia poderia aprender a canalizar seu poder em um flash, um fluxo concentrado que parecia um chicote de raio, e se fosse incandescente o suficiente, queimava como um raio também.

Namjoon se moveu, uma leve transferência de peso de um pé para o outro, e escondeu um sorriso quando Erwin ficou tenso em resposta.

Como todo metamorfo, Namjoon não tinha flash, mas havia passado anos suficientes em uma unidade cheia de Flashes metidos a besta. Se o flash de Erwin brilhava em azul ou branco, provavelmente ele era um Sangue azul ou extremamente talentoso, como Rose. Se seu flash brilhasse em verde ou um amarelo, Erwin provavelmente não fazia parte do topo da cadeia de comando.

Quanto mais intenso o flash de Erwin fosse, mais alto a mulher era na escala de comando. Não faria sentido desperdiçar um bom Flasher para proteger uma funcionária burocrata qualquer.

— Você é um Flasher? — Namjoon perguntou.

Erwin ofereceu-lhe um sorriso suave.

— Ele quer saber com quem está lidando — disse a mulher. — Tem minha permissão para demonstrar.

Erwin inclinou a cabeça para ela e olhou para Namjoon.

— Dê-me um alvo.

— Ninho de vespas, seis metros à esquerda, no carvalho. Segundo galho acima.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora