Dezesseis

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Aranha ergueu as sobrancelhas. Sem explosão.

— Você estava certo — disse ele. — Eles se foram e levaram o corpo de Lavern com eles.

Foram para o Buraco-de-Rato. Atrás das Proteções, onde não podiam ser tocados. Aranha trançou os dedos, pensando.

Hoseok, Hoseok, Hoseok. Muito bom com o manejo de espada. Cada golpe uma morte, flash estendido sobre a lâmina, uma habilidade quase esquecida. Mas quem estava com ele? Quem era a segunda pessoa no barco?

— E agora? — Os olhos amarelos de Ruh o observavam.

— Poderíamos voltar para a base. — Aranha sorriu. — Mas há esse traço de sangue estranho na água. Havia três pessoas naquele barco. Um deles era Hoseok, sabemos disso. O segundo era o primo dele, o Thoas. A questão é... quem era a terceira pessoa? O Thoas sangrou e foi envenenado. Pelo que sabemos, provavelmente foi envenenamento por cobre, o que o roubaria a consciência. Hoseok não seria capaz de movê-lo sozinho. Ele teve a ajuda de seu acompanhante, que provavelmente era um homem forte. Eu quero saber quem ele é. Você não está curioso, Ruh? Estou curioso. É uma casinha tão bonita. Parece muito hospitaleira. Acho que vou visitá-los.


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Clara puxou o cobertor de lã, descobrindo os pés de Urow. Ele não conseguia dormir com os pés cobertos e geralmente se contorcia até que seus dedos com garras emergissem de debaixo do cobertor. O gesto dela não serviria de nada agora. Urow havia mergulhado tão profundamente em seu sono induzido por ervas que o rugido de um ervaurg em seu ouvido não o acordaria. Muito menos a sensação de lã em seus pés.

Ela afastou o cabelo dele da testa, sentindo a pele fria de seu rosto. A febre havia diminuído e sua respiração desacelerado para um ritmo uniforme, ainda um pouco superficial, mas melhorando. Os dedos dela traçaram as linhas profundas nos cantos dos olhos dele.

As rugas de riso. Ele as chamava de rugas de Clara.

Urow alegava que ela era a responsável pela maioria dessas rugas. Antes de conhecê-la, ele não tinha sorrido o suficiente para fazê-las. Clara sentiu as lágrimas emergindo e as conteve. Ela quase o perdeu. Só assim ele teria ido embora, arrancado dela pela morte. Por um instante, Clara fechou os olhos e se atreveu a imaginar como seria se Urow não estivesse mais ali. O sorriso, a força, a voz dele, tudo desapareceria. A garganta dela doeu. Tentou engolir e não conseguiu, lutando contra um caroço duro atravessado em seu pescoço, até que finalmente explodiu de sua boca em um pequeno soluço. Nada mais iria ser o mesmo.

Deuses, como as pessoas sobrevivem a isso?

Ela abriu os olhos. Ele ainda estava respirando.

Meu Urow.

Ela piscou para afastar as lágrimas dos olhos e desviou o olhar para não chorar, olhou para as paredes do quarto. Feixes de ervas secas e pequenas prateleiras de madeira estavam espalhadas pelo ambiente.

Uma variedade de bugigangas enchia as prateleiras... uma vaca de cerâmica, pintada de vermelho escuro, um pequeno bule com estrelas vermelhas brilhantes e flores do pântano pintadas de verde-claro; uma pequena boneca com um alegre vestido amarelo e azul. Ela sempre quis uma menina, desde que deu à luz a Ry dezenove anos atrás, e então comprou a boneca, determinada que um dia a daria a sua filha. Seu olhar viajou para o berço. Ela finalmente teve seu desejo realizado. Teve três meninos primeiro e agora tinha sua menininha. Tudo parecia estar indo muito bem...

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora