Vinte e Cinco

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John observou as portas duplas balançarem enquanto Aranha saía das entranhas do laboratório para o corredor inundado de luz solar. O homem forte piscou contra a luz e ergueu a mão para proteger os olhos.

Uma grossa pasta de couro estava na curva de seu braço direito, chamando a atenção de John. Ele não conseguiu deixar de olhar para a pasta.

— O fedor é realmente abominável — disse Aranha.

— Desculpe. Não tem jeito.

Aranha concordou.

— Acompanhe-me.

Eles caminharam lado a lado ao longo do corredor, a pasta balançando no braço de Aranha no mesmo ritmo suave dos passos do homem.

John tirou os olhos da pasta e olhou para o chão diante de seus pés. A pasta que Aranha carregava estava cheia de anotações traduzidas do diário, as memórias da mente de um gênio. John pensou nas coisas que ele poderia fazer, armado com aquela pasta. A própria ideia dos segredos que ela continha o deixou tonto. Ele dobrou os dedos das mãos para resistir à tentação de tocar na pasta. Quase podia sentir o couro liso contra as pontas dos dedos.

Trabalhar para Aranha foi difícil. O homem era razoável, mas apenas quando lhe era conveniente ser, compreendia as dificuldades, mas era completamente não afetado por elas. E exigia coisas impossíveis em um período de tempo impossível.

John fez o impossível. Uma fusão, e relativamente estável, em menos de um mês. Ele tinha se saído bem e Aranha parecia satisfeito com o seu trabalho.

No entanto, o fruto de seu trabalho, o prêmio, estava guardado dentro da pasta na dobra do braço de Aranha, e John sabia muito bem que não podia confiar na aparência de satisfação de Aranha.

— Identificamos três locais possíveis — disse Aranha. — Levaremos um dia ou mais para examiná-los e talvez outro dia para levar a equipe. Eu estarei fora por uma semana.

Fora. A palavra soou como um sino na cabeça de John. Aranha estará fora.

— Por que três locais, meu senhor?

— As notas do diário não são claras quanto as marcações. Um dos locais pode ser capaz de identificar a localização exata, mas decidi não arriscar a localização da unidade com alguém de fora. Eu vou levar quase todo mundo. Temos muito terreno a percorrer.

Uma alerta rompeu a melancolia nebulosa na cabeça de John. Aranha estava dizendo isso a ele de propósito.

— Estou deixando dois assassinos e um guardião para proteger a casa só por formalidade. Não há necessidade de proteção extra. Não há nada valioso aqui, exceto você e Posad, é claro, e, além disso, as armadilhas farão sozinhas a maior parte da proteção. Assim que a unidade for localizada e a extração for concluída, enviarei uma equipe para buscar você. Tenho certeza de que prefere descansar aqui a se arrastar na lama com o resto de nós. Espero que seu isolamento forçado não seja um problema.

John sorriu.

— Não, meu senhor. Estou precisando desesperadamente de descanso.

— Ahhhh. — Aranha acenou com a cabeça, olhos cinza neutros sob as sobrancelhas loiras. — Vou deixá-lo no conforto dos lençóis e do sono, então.

Eles saíram para a varanda do segundo andar. O vento trouxe umidade da planície inundada abaixo. John estremeceu.

— Lugar horrível.

— Para não dizer algo pior. — Aranha passou a mão esquerda ao longo da grade esculpida da varanda e sorriu, mostrando dentes afiados e regulares. O sorriso disparou um raio de alarme pelo pescoço de John até a ponta dos dedos. Ele bocejou, tentando esconder seu desconforto. — John, você está exausto. — Aranha deu um tapinha em seu ombro. — Vá para cama.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora