Cinco

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A canoa deslizava sobre o riacho aparentemente calmo. Pequenos sapos coloridos estavam empoleirados nas folhas largas da Coroa-de-rainha. Em algum lugar à esquerda entre a vegetação, uma ave corredora andava com as suas longas pernas entre o junco, emitindo sons de cliques de sua garganta para afastar pássaros rivais.

Hoseok se apoiou na vara, discretamente apertando o casaco com mais força. O pacote de plástico rígido escondido no forro do casaco tocou em suas costelas. Ainda está aqui. Rastrear o tio Hugh demorou mais do que o planejado, ele se mudou e Hoseok perdeu dois dias tentando encontrar a nova casa dele. Apenas quatro dias o separavam da data do julgamento. Ele precisava se apressar. Se não aparecesse com os documentos a tempo, a família estaria arruinada. Hoseok tinha que se mover rápido, e rápido não seria fácil em uma canoa de pesca com um cabeça-dura do Weird, acostumado a andar só em terra firme, e que pensava que era o dono da embarcação.

Lorde Namjoon estava sentado na traseira da canoa. Musculoso, em forma, envolto em couro preto e mais bonito do que um homem tinha o direito de ser. A primeira vez que Hoseok o viu, quase ficou em choque. Ele tinha todo aquele porte grande, sombrio e letal. Agora, o homem tinha a expressão de alguém que acabou de comer espinafre estragado. Talvez tenha ficado chateado porque suas lindas calças de couro ficaram molhadas.

Lorde Namjoon era uma má notícia. Que ele era um Sangue azul do Weird estava claro como o dia, roupas caras, cabelo bem cuidado e excelentes armas. Ele sentiu uma faísca de magia quando aquela pequena besta disparou.

E ele atirou rápido, nem mesmo parou para mirar e ainda acertou aquele maldito peixe nas guelras. O homem tinha treinamento, o tipo de treinamento que os Sangues azuis do Weird recebiam quando queriam brincar de soldado. Excelente equilíbrio, ele andava no barco como se fosse em solo firme. Pés leves. Muito rápido.

Provavelmente muito forte, se o músculo em seus braços fosse uma indicação.

Más notícias. Por que não poderia ter sido outro Edege ou algum outro idiota do Broken para fazer essa viagem com ele? Não, tinha que ser o Senhor Calças-de-Couro aqui.

No Weird, nobres se especializavam em algo. Alguns iam para a universidade, como seu avô. Outros se dedicavam ao serviço público. E alguns se tornavam assassinos. Pelo que Hoseok pode perceber, o Lorde Namjoon era um daqueles Sangues azuis com multitalentos, que derrubam árvores com sua magia e lançam armas por todo o lugar ao menor sinal de perigo.

Hoseok roubou outro olhar. O Sangue azul estava inspecionando o Mire, então ele o olhou demoradamente. Ele tinha o cabelo mais bonito que Hoseok já vira em um homem, castanho escuro, quase preto e grosso como o pelo de uma zibelina, e caía até os ombros. Ele se perguntou o que ele faria se Hoseok jogasse um pouco de lama nele. Provavelmente o mataria. Ou pelo menos tentaria. Não que Hoseok tivesse qualquer intenção de deixá-lo vencer alguma luta. Habilidoso ou não, Namjoon não conseguiria parar a espada ou a magia dele.

Hoseok examinou o rosto dele. Queixo forte. Rosto estreito sem nenhum traço de suavidade, mandíbula quadrada, olhos castanhos brilhantes sob sobrancelhas pretas. Olhos interessantes, quase amarelo âmbar. Isso é o que se olhava em um oponente, os olhos. Os olhos diziam que tipo de pessoa você enfrentaria. Quando ele olhou nos olhos de Namjoon, viu um predador. Ele estava sentado ali, todo tranquilo, mas algo por trás daqueles olhos prometia violência. Hoseok sentiu isso da mesma forma que um assassino sente outro.

Más notícias.

Namjoon o pegou olhando e fez uma careta.

— Dê-me essa maldita coisa.

Hoseok se apoiou na vara.

— Não se preocupe, você terá a sua vez quando atingirmos uma corrente mais forte. Por enquanto, fique sentadinho aí e aprecie a paisagem. Olha, tem jacarés do Mire fofos para mantê-lo entretido.

Série Na Borda - Livro 2 - Lua do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora