Namjoon deslizou pelo pântano. Os ciprestes deram lugar aos pinheiros do Edge. Enormes troncos o rodeavam, negros e altos, como um mar de mastros que pertenciam a navios afundados sob o tapete de musgo azul.
Arvoredos densos enchiam os pinheiros, pontuados por samambaias da cor de ferrugem. Velhos salgueiros do pântano, com troncos claros e surpreendentes, projetavam-se através dos arbustos como velas brancas de cera. Aqui não era a sua Floresta. Era um lugar antigo e traiçoeiro, uma mistura caótica de morte e vida, fazendo Namjoon se sentir inquieto.
O cachorro ao seu lado parecia também não confiar muito no pântano. O idiota indolente e bem-humorado levantou as orelhas e seus olhos castanhos esquadrinharam a floresta com franca suspeita.
Uma brisa os tocou. Ambos sentiram o cheiro ao mesmo tempo e viraram à esquerda, seguindo a trilha de Cotovia.
Para onde aquela garota estava indo?
Namjoon saltou sobre um galho caído. Ele sinceramente esperava que Cotovia não estivesse se encontrando com algum monstro 'legal' na floresta e contando a ele todos os segredos da família dela.
Um grande carvalho branco se destacava na floresta, um gigante solitário enfeitado com musgos cabelo-de-donzela. As correntes de ar atingiram Namjoon com uma dúzia de odores de carniça, alguns antigos, outros novos.
Que diabos?
A impregnação do ar com o cheiro de carniça, o impossibilitava sentir qualquer outro cheiro. Xarope disparou em frente.
Cães. Criaturas estúpidas.
Namjoon se aproximou um pouco mais e viu uma dúzia de pequenos cadáveres peludos, pendurados nos galhos do grande carvalho. Dois esquilos, um coelho, uma coisa estranha que parecia um cruzamento entre um guaxinim e um arminho, uma criação própria do Edge, sem dúvida, peixes...
Uma forma magra passou pelos galhos acima dele. O pequeno rosto de Cotovia apareceu entre as folhas.
— Você não deveria estar aqui. Esta é a árvore onde vive o pequeno monstro — disse ela. — Esta é a comida do pequeno monstro e essa é a casa do pequeno monstro.
Ele olhou para onde ela apontou. Um abrigo caoticamente improvisado estava enfiado entre os galhos do carvalho, apenas algumas tábuas velhas pregadas desajeitadamente e amarradas, formando uma pequena plataforma com uma saliência. Uma pequena coisa amarela estava na beira da plataforma. Namjoon semicerrou os olhos. Um ursinho de pelúcia ao lado da besta de Peva.
Hoseok estava certo. Cotovia pensava que ela era um monstro. O pequeno.
Quem diabos era o grande monstro?
O ursinho de pelúcia olhou para ele com pequenos olhos negros. Olhar para tudo isso o deixou inquieto, como se estivesse a ponto de vomitar ou em sério perigo e não tivesse certeza de quando ou de onde o ataque viria. Ele queria tirar Cotovia e seu ursinho de pelúcia da árvore, levá-la para a casa, onde haveria calor e luz. Mas seus instintos lhe diziam que ela fugiria se ele tentasse.
Crianças humanas comuns não faziam isso e Cotovia não era uma metamorfa. Se fosse uma, ele já teria reconhecido e Hoseok não teria ficado surpreso com os olhos dele. Namjoon bateu na árvore.
— Posso subir?
Cotovia mordeu os lábios pensando.
— Eu posso confiar em você?
Ele deixou a luz da lua atingir seus olhos, fazendo-os brilhar.
— Sim. Eu também sou um monstro.
Os olhos de Cotovia se arregalaram. Ela olhou para ele em choque silencioso por um longo suspiro e acenou com a cabeça.
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Série Na Borda - Livro 2 - Lua do Pântano
FanficSérie: Na Borda Livro: 02 O Edge fica entre mundos, na fronteira entre o Broken, onde as pessoas fazem compras no Wal-mart e a magia faz parte só dos contos de fadas, e o Weird, onde os nobres Sangue azuis governam, os metamorfos vagam, e a força de...