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Dear Rose



Eu estou aqui,
Sem rumo, travada e perdida
Hoje me deu medo da vida...Iguaria – Luísa Sonza





O que eu fiz após descobrir que Hudson era o remetente das cartas?

Não sabia o que fazer, não sabia o que pensar.

Naquela tarde, o observei de longe na escola, tentando entender o motivo dele ter decidido começar a enviar cartas para mim. Mas não conseguia pensar em nada coerente que servisse de motivo para tal.

Por isso me mantive afastada procurando razões para não acreditar que era ele, a pessoa que me confortava com palavras aconchegantes e conselhos que de certa forma me fizeram mudar certos aspectos em mim.

Por quê ele faria isso?

Sequer consegui prestar atenção nas aulas, tentando organizar meus pensamentos.

Mas em determinado momento, foi anunciado que teria uma palestra de conscientização do estupro. Sabia que estavam fazendo aquilo porque tinha acontecido comigo.

Algumas pessoas tentaram falar comigo, usando palavras motivacionais e dizendo que foi bom não ter acontecido algo pior. E por mais que parecesse que tinham boas intenções, me senti desconfortável.

Finalmente, no momento de volta para casa, ainda com o assunto do Hudson na cabeça, me atrasei demais para sair da turma e organizar todo o meu material no cacifo. Tinha demorado tanto que quando saí da escola o pátio estava quase vazio.

De longe, pude ver David Hudson se aproximar de sua moto. Sem pensar muito, corri para alcançá-lo.

— David! — gritei quando vi que ele estava prestes a subir na moto.

Ele virou para trás, fazendo com que seu olhar fosse de encontro com o meu. Seus olhos estavam esperançosos, dava para notar apesar da distância.

— É você! — falei assim que me aproximei fazendo-o franzir o cenho — Você é "o meu querido amigo" — fiz aspas com os dedos.

Ele deu um passo para trás, talvez involuntariamente, e suas expressões faciais mudaram.

Então Sophie estava certa?

— De onde você tirou isso? — tentou mentir com um sorriso amarelo.

— Não adianta mentir para mim, Hudson!— alertei — Por quê fez isso?

Apesar de tudo o que as pessoas faziam comigo eu ainda tentava entender, talvez fosse tolice da minha parte, mas eu tinha a esperança de que as pessoas tivessem motivos fortes para agir de tal forma.

— Como você descobriu? — ele perguntou ignorando a minha pergunta.

— Eu fiz uma pergunta antes de você, responda —  disse impaciente.

— Não tive más intenções Rose, então por quê está tão brava?

Mordí o lábio inferior, tentando conter todos os xingamentos que passaram em minha cabeça naquele momento.

— Você escondeu isso de mim, por qual outra razão teria o feito se não fosse algo mau? — usei a lógica.

Sabia que nenhuma das cartas tinha me atingido de forma maldosa, apesar de ter tido medo nas primeiras por causa do modo como ele falava sobre mim e parecia saber de tudo o que acontecia comigo.

— Eu só queria te ajudar.

Por quê ele parecia estar magoado sendo que a enganada da história era eu?

Dear RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora