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A Queda


Já tinham se passado alguns dias desde que o Hudson decidiu terminar aquilo que não estava definido entre nós. Durante esse tempo, a rotina era sempre a mesma.

Me sentia um robot, agindo totalmente no automático, com o corpo e a mente cansada. 

Exceto, quando o senhor Erick aparecia de surpresa em casa nos dias em que mamãe ficava no hospital até tarde, ou de plantão. Se não trazia alguma coisa, vinha pedir algo emprestado e acabava por passar algum tempo comigo. E nesse tempo notei que os olhares que ele direcionava a mim não eram nada amistosos, eram olhares desejosos e cheios de segundas intenções.

Era estranho ver o pai do garoto que mexe tanto comigo tentando investir em mim. O Erick é bonito, muito bonito. Mas ainda assim é muito mais velho e com idade suficiente para ser meu pai , me relacionar com ele é a última coisa que passaria pela minha cabeça.

No trabalho estava tudo uma bosta. Queria entender o porquê de sentir tanta angústia quando o Hudson age com frieza sendo que o que tivemos nem durou muito , eu sequer gosto dele como amigo , quem dirá qualquer outra coisa. Jessy pareceu ter entendido que havia alguma coisa estranha, pois começou a nos dar tarefas diferentes. Sendo sincera, ficava até difícil recomendar um livro para alguém com o humor de merda que habitava em mim naqueles dias e eu me sentia horrível por não conseguir ajudar as pessoas a encontrar livros que as fizessem lembrar do motivo que as fez gostar da leitura.

Na escola, estava tudo uma merda. Minhas notas estavam ótimas, mas tirando isso era tudo uma merda. Derek parecia ter dado um tempo do lance de tentar voltar a me fazer cair no mesmo jogo ou talvez até tenha desistido. Não sabia como me sentir em relação a aquilo. Estavam espalhando rumores sobre o que tive com o Hudson , Sophie ainda estava com a ideia de encontrar o remetente das cartas mas eu não estava mais com a mesma esperança depois de ter eliminado dez nomes da lista e nenhum deles sendo o meu "querido amigo". 

Sobre as cartas, não recebi mais nenhuma. Depois da terceira não recebi mais nenhuma , e de certo modo senti falta daquilo. Meio que as palavras do remetente me traziam algum conforto , e precisei chegar ao fundo do poço para entender.

Me custava admitir para mim mesma que o afastamento do Hudson foi o principal motivo para o meu desânimo , mas infelizmente era a verdade e a minha consciência tratava de me lembrar sempre disso.

Pensei em enviar algumas mensagens, ligar. Mas não consegui, sempre que olhava para o número do telefone dele eu congelava e desistia. Pensei em ir para casa dele no meio da noite, pensei em falar com ele na livraria. Mas não consegui , travava sempre e sentia meus batimentos cardíacos acelerarem mais que um carro de corridas do filme "Velozes e Furiosos" então optava sempre pela opção mais fácil, recuava e ignorava o maldito sentimento.

— O que está fazendo , menina Clarkson? — o professor de filosofia perguntou se aproximando da minha carteira.

Olhei para a página rabiscada do meu caderno sabendo que daria problema.

Aquele professor nunca gostou de mim porque eu sempre o contrário quando percebo que ele está errado. E os professores odeiam sentir que estão sendo desafiados por alunos.

— Ah — limpei a voz , de nervoso ao notar que toda a turma estava olhando para mim — Nada professor.

— Então o que tem a me dizer sobre os princípios da razão? — perguntou cruzando os braços com o olhar desafiador.

Dear RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora