Existe um grande abismo entre se sentir sozinha e querer ficar sozinha.
No momento, eu optei pelos dois. Ignorar fazia parte da rotina depois de um certo tempo: Ir para o colégio, voltar para casa. Sempre pela mesma rota, sempre ouvindo as mesmas músicas, sempre andando. Demorava horas para completar o caminho, eu não queria ver Cassie, ou William, ou a Luna.
Voltar para cá sempre foi minha primeira opção, mas não era mais justo depois do que aconteceu. Eu sempre pensava como seria se eu voltasse para Los Alamos na condição que estava. Sozinha, por sinal. Mas não. Ele me abandonou, e com pessoas dessa vez.
Minha casa estava infectada por emoções, traumas e desespero. Aqueles três parecem que nunca vão se curar e nunca buscam por ajuda para tentar mudar algo sobre isso. E claro, eu me frustrava atoa.
— Eu deixei de ter medo daquele homem e daquelas pessoas. — Eu comentei com um sorriso fraco, em uma conversa franca com aquela psicóloga do colégio. Eu só precisava ser ouvida por alguém fora do meu círculo importuno. — Deixei de ter medo. Eu temo eles. Penso se o Remy LaBeau pensa em mim ou não, se eu sou uma grande coisa para ele como Zemo pareceu soar.
— Isso é medo, Elizabeth. — Ela respondeu.
— É mesmo? — Eu abaixei a cabeça e pensei sobre isso. Eu conseguia dormir a noite, eu não pensava nele desse jeito: de que ele iria aparecer de repente e me sequestrar e torturar.
Mas eu acho que é medo. Mas não é tão forte por causa do Homem de Ferro ou dos meus próprios poderes. Eu tinha a sensação de que ele não iria conseguir chegar perto de mim.
— E sobre o... — Eu levantei o olhar e ela respirou fundo, se ajeitando na cadeira. Eu pedi para não ouvir aquele nome, mas mesmo assim ela disse: — Harley Keener.
Faziam meses. Ou anos. Ou décadas. Eu não me lembrava direito. Ele parecia um sonho febril.
— Eu não sei. — Ela estreirou os olhos. — Eu esqueci o que aconteceu.
Eu não sabia se isso era bom. Me esquecer do que aconteceu naquele dia era um ótimo indicativo de trauma, mas também me deixava triste em saber que eu não conseguia mais ver o rosto do Harley nos míseros momentos felizes que tivemos em grupo.
Ela anotou algo no seu caderno.
— Seus amigos em Manhattan? — Ela perguntou e eu pensei um pouco no que falaria.
— Kamala está bem. Ela voltou para casa, mas é vigiada pelos Vingadores. Peter e Gwen ainda salvam Nova York de qualquer coisinha besta. — Eu sorri minimamente. Ela me olhou, eu a olhei, e no fundo da minha alma uma voz gritava para não trazer a tona a situação da Kitty. Ela estava bem, deveria estar, junto com os Vingadores e salvando o dia. — Eu não tenho notícias da Kitty, e eu acho que vai continuar assim por muito tempo.
E de fato fiquei. A situação foi ficando cada vez mais conturbada conforme os meses foram se tornando anos. O silêncio monótono dos Vingadores e de seus vilões era ensurdecedor. Ninguém fazia nada, ninguém falava nada, nos noticiários, Nova York estava vivendo sua melhor fase.
E assim, todo mundo envelheceu. Era 2032 quando tudo aconteceu, 16 anos depois da Guerra Civil dos Vingadores, o mundo se acalmou depois dali. Agora, em 2035, tudo parecia estranhamente maos calmo ainda.
Cassie fez 22 anos dias atrás, Scott nem ao menos ligou. Luna tinha feito 13 e começou a perguntar coisas sérias sobre Pietro. William silenciosamente fez 19 anos, sem dizer uma única palavra, seus sonhos aconteciam quase todos os dias, e estava começando a virar visões no seu cotidiano.
Harley faria 23, Kitty tinha 18.
Hoje, 10 de agosto de 2035, era meu aniversário de 19 anos. Ninguém sabia, além dos meus pais e Gabriel, mas nenhum deles me desejou felicidades. Foi passado em branco, como foi por muitos anos, mas nesse em específico, eu senti mais no meu coração e me destruiu.
— Ei. — Cassie apareceu na sala, com uma face aflita e respiração baixa, como se tivesse visto um fantasma. Eu estava sentada na poltrona da sala quando vi uma figura alta parando detrás dela, com um sorriso estranho no rosto.
— Oi, criança, feliz aniversário. — Eu não sabia como reagir no momento. Eu me levantei do sofá bem devagar, como se ele fosse me atacar, mesmo lembrando que ele foi uma das pessoas que nos salvou de Madripoor e que ele, agora, era um Vingador, querendo ou não.
— Loki. — Eu sorri do mesmo jeito que ele. — O que aconteceu?
— Vim trazer uma convidada para sua incrível festa. — Ele olhou em direção a porta e uma garota com quase a mesma idade da Luna entrou na sala. — Conheça a Lorna Dane, filha do Magneto, irmã da Wanda e do –
— Por que você continua falando?! — Eu ri soprado, lembrando do Tony.
— O que é isso? — Eu perguntei.
— Ela virou top 1 da lista depois que você saiu. — Loki respondeu. — Tony pediu para trazê-la para cá, o lugar mais seguro para ela.
— No meio do nada? — Cassie finalmente criou coragem para falar com outra pessoa além de mim, William ou Luna. Ela pensava que todo mundo fora da bolha iria reagir como Zemo ou o Soldado Invernal.
— Querida. — Loki soou debochado, como se ela contasse uma piada. — Tem três hex ao redor dessa casa: o meu, o da bruxa e o do amigo de vocês. Só vocês entram e só vocês saem. Claro que tem excessões, 33% desse hex é meu então eu posso sair e entrar com que eu quiser, mas lógico, o foco são vocês.
— O que é um hex? — Loki ignorou o que a menina queria saber e saiu sem dizer um mínimo tchau. E o olhei indo embora pela janela, em certo ponto, quando ele cruzou a cerca que dividia a propriedade da rua, ele sumiu como mágica.
Eu olhei para a garota, encarei Cassie, e respirei fundo me preparando para outro desafio: outra criança na casa. Luna era boazinha, Lorna não parecia ser.
Mas, depois que o tempo foi passando, Lorna se mostrou mais calada ainda do que a Luna. Cassie veio com a grande teoria de que pessoas ligadas ao Magneto eram comumente caladas. Aliás, Luna e Billy eram netos dele, querendo ou não, e Lorna era filha. E isso era difícil de se aceitar.
Estávamos a salvo, como Tony queria, e isso era o que importava para ele.
E eu me sentia incompleta, sentia falta do meu grupo, e tinha rancor de todas as pessoas dessa casa como se elas fossem o motivo de todo meu fracasso.
— Um dia, — Luna começou a falar quando desenhava algo na mesa da cozinha. Estava silêncio e a voz dela ecoou pela sala e cozinha. — um dia tempestuoso, Gambit irá aparecer como um raio.
— Quê?! — Cassie perguntou, se aproximando.
— Como um raio. — Ela então terminou o desenho e mostrou para Cassie. — Eu acho que inverti as cores do escudo do Capitão América. Está bonito?
Cassie pegou o desenho em mãos e olhou para mim pelo canto dos olhos.
Algo não estava certo. Alguma coisa aconteceu em Manhattan. E alguma coisa aconteceria aqui.
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A Filha de Tony Stark
ActionOnde Tony Stark tenta manter sua filha longe de Nick Fury e a S.H.I.E.L.D. - Avengers Fanfiction! - June 2, 2019!