A Filha de Tony Stark

twenty seven

Elas ficaram caladas durante muito tempo, Kitty começou a apreciar as pessoas patinando sob o lago de gelo falso e Gwen prestava atenção aos prédios, como se Peter viesse pulando por eles.

Eu queria dizer tantas coisas. Mas também queria começar do zero novamente com elas, ainda mais com Kitty, nosso último momento juntas foi tão conturbado que era melhor não comentar ou trazer à tona em uma conversa com ela. Era melhor apenas recomeçar, e ser uma boa pessoa.

Gwen já era um caso à parte. Eu sentia que ela esqueceu alguns momentos da nossa pequena e conturbada aventura com os Vingadores, assim como eu não me lembrava de algumas coisas. Apenas flashs do que fizemos. O dia da Time Square, entretanto, eu me lembrava como se fosse ontem.

— Aliás, Elizabeth, aonde você irá ficar? — Gwen quebrou o silêncio quando parou de encarar os prédios ao nosso redor. Eu dei de ombros, pensando no caso.

Eu, ao sair do ônibus, pensei que iria dar de cara com Tony Stark, me perguntando do porquê de sair de Los Alamos. Mas não. Nada aconteceu. Os Vingadores se realocaram, não existia mais a Torre.

— Você pode me abrigar. Por uma noite. — Eu sorri para ela, e a mesma me encarou com um sorriso ladino, como se soubesse que eu iria falar aquilo.

— Como saberemos quem é o Homem Aranha? — Kitty, então, perguntou surpresa. — Não sabemos como ele é.

Isso estava me encucando. Como aquelas duas esqueceram completamente da presença do Peter na nossa trajetória como Jovens Vingadores? Era inacreditável. Em minha mente, Peter tinha feito algo cruel o suficiente para elas e até mesmo os Vingadores descartarem ele com tanto afinco.

— Nossa amiga aqui diz que sabe. — Gwen passou o braço pelos meus ombros. — Então, Elizabeth Potts Stark, como você conhece o Homem Aranha? — Ela parou na minha frente. — E não venha com esse papo de que ele fazia parte do grupo.

— Mas é essa a resposta! — Ela não pareceu convencida porém. — Pergunte ao Harley, se ele aparecer novamente, ele falará a mesma coisa.

Agora ela pareceu convencida com minha resposta.

Minutos se passaram, então, e a noite ficava mais fria. Kitty respirou fundo quando percebeu que algumas pessoas estavam indo embora.

— É inacreditável, Gwen, que você deixou sua família para encontrar esse garoto. — Ela comentou baixo. Gwen a encarou, não com raiva como sempre fazia conosco, mas sim com pena, pena de si mesma. — Se eu pelo menos tivesse alguém, como você tem...

— Você tem a nós, Kitty. — Eu respondi no mesmo tom de voz que ela.

— Não existe mais o nós nessa história. — Ela respondeu.

Eu levantei a cabeça, e enxerguei Peter Parker do outro lado do lago artificial. Ele andava devagar, com um casaco escuro e jeans. Andava com as mãos no bolso do casaco, e quando nos notou, começou a andar em nossa direção. Ele estava palido, cansado, parecia que tinha corrido uma maratona. Ele estava velho, e tinha perdido completamente a feição de adolescente que tinha quando nos conhecemos. Ele não parecia mais um garotinho assustado do Queens.

— Esse é o Homem Aranha, Gwen. — Sussurrei enquanto ele se aproximava cada vez mais. — Peter Parker.

As duas se viraram pra ele.

— Eu soube que você queria falar comigo, Gwen Stacy. — Ele comentou, com uma voz mais grave que o normal. Ele olhou brevemente para mim, mas não conseguiu desviar o olhar em nenhum momento da Kitty.

— Peter Parker! — Gwen disse com um entusiasmo, ele arregalou os olhos. — Como um zé ninguém como você tem poderes iguais o meu? — Ela soou grosseira ao falar. Ele recuou um pouco, e pareceu pensar em tudo o que aconteceu agora. — Qual sua história, Homem Aranha?

— Você é a Mulher Aranha, então? — Ele sorriu falsamente. — Eu deveria saber.

— Mulher Aranha? — Eu perguntei, e Kitty pareceu supresa também com o novo codinome. — Muito melhor que Gwen-Aranha.

— Célere agradece. — Kitty disse em um pequeno suspiro.

— Estamos em um momento muito confuso, Peter. Mais confuso para mim. — Eu comecei, ele me olhou no diretamente. — Eu soube que todo mundo esqueceu de você. De repente. Ninguém se lembra de você no grupo, sua parceira não lembra de você, Kitty não lembra.

— Mas você lembra. — Ele parecia surpreso, em completo choque. E foi quando ele me abraçou, apertado, como se eu fosse sumir para sempre. — Eu fiquei sozinho por três anos, Lizzie.

Eu o segurei de volta. Abraçar ele era estranho o suficiente para mim. Ele não me soltou, e nem fazia menção de que iria.

— O que aconteceu, Peter? — Eu perguntei, ainda no abraço. — Por que ninguém se lembra de você? O que você fez?

— É uma história muito longa. — Ele me soltou finalmente e segurou meus ombros. Ele respirou fundo, como se estivesse criando coragem para fazer algo. — Isso vai ser estranho para você. — E se virou para Kitty e a abraçou apertado, — Que bom que você está bem. Eu nunca pude saber para onde você foi. — mas rapidamente a soltou. — Você nem tanto. — E ignorou Gwen por completo.