twenty one

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— O que é um hex? — Lorna perguntou tarde demais, visando que nossa última conversa aconteceu na sua chegada, a uns meses atrás. — Quais os poderes de vocês? — Só estava eu e ela na sala, os outros estavam trancados no quarto.

Eu passava o dia todo sentada na poltrona da sala, as vezes olhando pela janela como uma idosa, as vezes encarando a mesa da cozinha vazia, sem ninguém para ocupá-la. Só me lembrava que tinha que me mexer quando alguém passava perto da mesa e me tirava dos meus pensamentos, sempre sendo a Cassie, me perguntando se eu havia comido ou tomado banho, e a resposta sempre era a mesma.

Sem querer, eu não respondi as perguntas da Lorna.

— Eu controlo o metal. — Ela começou a falar, como se eu estivesse com medo e receio de dizer quem somos para ela. — Eu estava em casa quando Nick Fury e Zemo apareceram, eles falaram tantas coisas que a minha mãe considerou deixarem me levar e eles me levaram.

— Sinto muito por ouvir isso. — Eu me pronunciei, ela sorriu. — Se ao menos Tony soubesse...

— Ah, ele sabia. Ele que me salvou. — Ela parecia nervosa ao lembrar do momento. — Ele, o Gavião Arqueiro e o Doutor Estranho. — Eu estranhei essa composição, mas não disse nada quando vi os olhos dela brilhando. — Estava muito escuro para ver direito e eles foram embora quando Loki apareceu, e agora eu estou aqui com você.

— E seu pai? Ele sabe de algo? Ele sabe o que está acontecendo? — Ela negou com a cabeça.

— Ele foi um bom pai no começo até Charles Xavier aparecer novamente na vida dele e praticamente levá-lo embora. — Ela disse com raiva. — Ele está banido, mesmo que ele não entenda isso, preso naquela ilha maldita cheia de monstros que querem nos dizimar. — Isso estava tomando um rumo completamente diferente do que eu pensava. Ela se calou, mas exalava dela uma raiva genuína daquelas pessoas que levaram ela e o pai dela. Era estranho conhecer uma pessoa que conhecia e considerava Magneto como Erik, um pai, e não como um mutante desbalanceado e raivoso, como Wanda ou Luna parecem soar ao falar sobre ele.

— Eu vivia aqui quando tudo aconteceu. — Disse, fazendo ela mudar de expressão e me encarar com olhar atento. — Sentava naquela cadeira, com a mesa cheia de livros. Eu amava estudar, amava ser a primeira da turma. Eu ia estudar História naquele dia. Ia estudar sobre meu avô, sobre o Capitão América, sobre Peggy Carter e a S.H.I.E.L.D.

Eu fiquei em silêncio, tentando me lembrar o resto da história. Lorna esperou pacientemente eu tentar colocar os pedaços de volta no lugar. A história sempre levava a um único caminho, me levava ao Harley, como se ele vivesse comigo desde sempre, desde a fazenda.

— Um laboratório subterrâneo explodiu. — Eu continuei, e ela arregalou os olhos. — Alguns cientistas estavam tentando fazer um túnel quântico. Não deu certo, explodiu e a explosão abrangeu uma área bem grande e eu fui a única pessoa sortuda que foi acertada.

Ela continuou em silêncio, mas eu sabia que ela queria falar algo. Eu a encarei, e ela parecia tão perplexa com a situação que eu pensei em parar por aqui, mas ela me instigou a continuar.

— Eu fico invisível, intangível, e tenho uma força descomunal que eu não consigo controlar. — Eu engoli em seco, pensando dos dias difíceis com esse poder. — Mas eu sofro deterioração quântica e isso dói muito. — E isso me destrói de dentro para fora, uma dor tão horrível que me fazia pensar se valia a pena continuar a acordar de manhã.

— Elizabeth, isso é angustiante de se ouvir. — Ela disse brevemente e de maneira calma, eu sorri como resposta mesmo ela não tendo a mínima ideia da dor.

— Eu usava uma roupa no começo, a roupa da Ava ajudava no básico, tornava a deterioração lenta, mas Tony insistiu que eu deveria ir para a escola, e isso foi o começo do fim pra mim. — Ela estreitou os olhos.

— Você ia trajada para a escola? — Ela tentou pensar em outra solução.

— Não. — Respondi, tentando pensar no resto da resposta. — Ava lutava com a roupa, era um traje completo, mas quando chegou até mim, era apenas um colante cinza, como a roupa do Homem Aranha.

— Então você saia de casa com outra roupa por cima. — Eu assenti, e ela entendeu. — Mas você não usa mais, usa?

— A última vez que eu tive uma recaída foi... — O rosto de Harley surgiu de repente na minha frente, como se ainda estivesse naquele jato, de joelhos em frente a Kate. — Eu me acostumei com a dor, e a deterioração nunca mais me deixou intangível.

— Você controla bem? — Ela perguntou. — Em momentos de estresse ou medo, eu saio do controle.

— Eu não sinto estresse ou medo faz muito tempo. — Eu a disse. — Eu não sei dizer se estou bem ou não comigo mesma.

A Filha de Tony StarkOnde histórias criam vida. Descubra agora