7 | Força motriz (parte 2)

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[Avenida Ptichka, Sibéria, Rússia, nº 13, terceiro andar; Residência da família Kristel. 14:43, aproximadamente sete meses atrás]
Nikita.

Nikita Romanov não estava tendo um dia muito aconchegante; agora mesmo, o garoto estava jogado em seu quarto, com seus fones de longos fios pretos explodindo música contra seus ouvidos

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Nikita Romanov não estava tendo um dia muito aconchegante; agora mesmo, o garoto estava jogado em seu quarto, com seus fones de longos fios pretos explodindo música contra seus ouvidos.

O mais novo dos irmãos Kristel estava tendo que lidar até hoje com a pressão da reprovação no colégio e com o clima pesado que se formou depois daquele dia nojento na margem do Volga; por mais que ele insista que Nikolai está vivo - e estranhamente bem, se regenerando e falando, até - os pais e toda a região parece haver caído em algum tipo de amnésia coletiva onde ninguém tem a menor ideia do que aconteceu.

Menos aquele garoto esquisito que encontrou na lanchonete, claro.

Ele tinha um domínio de idioma péssimo, horrível, tinha trejeitos que Nikita odiava, sempre que podia batia alguma carteira sem ser pego e sabia ser um malandro de primeira, mas depois de trocar algumas palavras com ele em uma segunda aparição na lanchonete, Nikita sabia que aquele garoto era só um pobre coitado que não tem pais - mesmo que passando por um horrível divórcio que nem ele - para pedir ajuda, não tem ninguém por ele. Acabou que a amiga de sua avó, que lhe cedeu um emprego, começou a dar comida por conta da casa pra ele em troca dele ficar limpando as mesas. Eles se aproximaram um pouco.

O nome do garoto era Gabriel Laurent.

Foi pensando naquele garoto sem casa que Nikita juntou a motivação suficiente pra lidar com mais um dia depressivo no Edifício Solar, um nome irônico para onde quando faz mais calor, o dia está com a temperatura inferior a 10ºC.
O garoto olhou as horas no relógio de parede do quarto que compartilhava com sua irmã Bianca; 14:57 e ele ainda não tinha levantado da cama, escovado os dentes ou feito alguma das tarefas que ele sabia que os pais iriam cobrar mais tarde. Revirando os olhos de esmeralda, hoje com olheiras e inchados, Nikita jogou seu cobertor para longe e desceu as escadas do beliche superior, se jogando no carpete. Ele calçou as sandálias e deixou seu quarto apertado e caótico para colocar as roupas sujas para lavar, ainda ouvindo as brigas e gritos de seus pais na área de serviço do apartamento pequeno.

Ele grunhiu por causa da briga, aumentou o volume da música, colocou o celular de tela quebrada no bolso da frente de suas calças de flanela xadrez surrada e franze os lábios, tentando se distrair.

O garoto vasculhou por toda a casa procurando pelas roupas de alguns dos irmãos que possivelmente ele iria lavar; mas de alguns anos para cá, a conta de Nikita sempre parava no número oito, não no nove, apesar de serem nove irmãos. A maioria já saiu da casa dos pais, mas três ainda moram lá: Bianca, a mais velha dos três que ainda mora com os pais porque tem dependência emocional e não tem um emprego, Alexei, um dos irmãos do meio que está com um dos braços quebrados e está em repouso de seus dois empregos, e Nikita, o caçula, que está de folga hoje porque Gabriel o está cobrindo.

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