18 | Rastros [parte 3]

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[?????????, Atualidade. Representação dos Salões Ministeriais, Catedral da Chancelaria; a informação precisa da representação está corrompida pela visão das memórias de Renzo Montanari]

— Eles estão falando comigo! — Comemorou Renzo, junto de Milano, saltitando de alegria, aos berros. Seus gritos ecoaram naquela versão bizarra e escura da Caredral Ministerial, espalhando-se pelos corredores vazios e brilhantes. — Eles sabem que eu ainda continuo aqui... eles receberam o llivro das mãos do Sammy, pai, nós vamos voltar pra casa! Lamiel e os Celestiais vão nos levar pra casa de novo!

Renzo queria saber mais sobre a Catedral. Por isso, suas memórias o levaram docemente ao que vira da catedral Ministerial, mesmo que seja por relance, os Salões, os quartos especiais, agora vazios e solitários em sua imensidão. Milano observava embasbacado toda aquela construção feita em cristal maciço e pedra da lua brilhante; mesmo naquele mundo tão desolado, falsamente copiando sua realidade de um modo obscuro e frio, sombrio, distorcendo as memórias através de medos e bloqueios, era um lugar bonito, transmitindo uma sensação de imponência mesmo sabendo que era tudo falso.

A atmosfera sombria parecia gelar os ossos dos dois humanos a trespasse seus limites.
Sua aura parecia emanar a sobrenaturalidade de sua representação real: algo ali mexia com os sentidos de pai e filho, como uma memória falsa, algo produto do efeito Mandela. Aquela igreja de alguma forma fundia-se profundamente com seus sentidos, enganava, com ventos que imitavam sussurros, pequenos guinchos e risadas que ecoavam em paredes de cristal translúcido. Duas vezes Renzo já decidira, depois de uma insone noite, buscar sua origem etérea, mas jamais chegara a uma resposta real que lhes convencesse que sua suposição era real. Uma dessas vezes, ele poderia jurar ter visto um vulto deslizar de forma lenta e segura até os confins da Ponte das Aves, escorrer pelas portas enormes da Catedral e desaparecer pelos limites do que seus olhos viam. Se era real, não estariam sozinhos naquela estrutura tão grande.
Mas se fosse mesmo real, por que não tentara contato? Por que não, de certa forma, aquela coisa não buscar ajuda, seja o que quer se fosse?

Renzo tinha uma teoria, mas para colocá-la em prática, precisaria de seu bem mais precioso, algo que não tinha naquele lugar: tempo.

E agora, com a luz que emanava do caderno, aos pés do Trono do Ministro, aonde Renzo se sentava agora naquela igreja replicada de suas memórias antigas, mastigando a caneta de ansiedade, seu tempo estava se esgotando. Ele tinha de escolher, e então...

Talvez haja uma forma dele voltar ao mundo dos vivos e tentar uma coisa com o que quer que seja que ele tenha encontrado ou despertado naquela igreja. Talvez não precise de muito mais tempo, apenas... de uma jogada de mestre.

Mas o grimório brilhava, ofuscava sua mente que trabalhava em um plano para decidir o que fazer. Decidir agora era fundamental.

Milano o tomou em um abraço de comemoração. Há dias, debruçado sobre a escadaria tentando descansar suas costas, o homem assistia ao filho demoradamente esboçando traços no grimório pesado e embolorado. Suas páginas ainda eram incógnitas naquele idioma tão estranho e agora, ao longe, perverso. Seus símbolos faziam a mente de ambos, pai e filho, a uma cena de quase desistência na tarefa árdua de sua tradução.

Cidade dos Anjos: O Conto da Rosa e Seus EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora