[4518 palavras]
[Mansão Salah’Adin, quarto de Miguel Salah’Adin, terceiro andar, Dnial Mekhael St., Cidade do Cairo, Egito. 26 de junho, 03:03 a.m]
Félix Bociccio caminhava de um lado para o outro, roda unhas, xingava palavrões, suspirava e mordia os lábios; era um contraste feio com seu único amigo, que jazia atirado em uma cama, agora sem os sapatos, deitado com os pés cobertos por meias na parede, com as asas abertas pela primeira vez naquela casa. Não tinham muito mais para se preocupar, sendo que haviam no mínimo cinquenta Perseguidores rondando a casa ao lado de seus Sentinelas. Nem mesmo a família Salah’Adin ousaria subir para aquele quarto, que dois Perseguidores muito pouco amigáveis guardavam.
Mas em compensação dá posição relaxada, Miguel parecia estático.
— Você tem... certeza que viu os olhos rosa?
O Ministro suspirou longamente.
— Tenho. Assim que eles chamaram o garoto pra abrir um portal... mas... é impossível... — Miguel acariciou o cenho. — Eu matei o Renzo. Não faz sentido ele voltar sem o receptáculo. Ele deveria ter deixado o Renzo em paz, não deveria? Eu... vi aqueles olhos rosa... e-eu não estou vendo coisas. As alucinações pararam.
Félix continua caminhando em círculos com uma mão abaixo do queixo. Continua andando em círculos, sem tirar os olhos do chão.
— Não, isso eu também vi... eu também jurei que eles tinham dito o nome dele, mas... eu... não estive prestando atenção, olhei mais para o esconderijo. — O humanoide esfregou o rosto várias vezes em frenesi. — O portal abriu, mas... enquanto eles fugiam, eu... vi... o esconderijo. Ah, cara, que merda...
Miguel se girou para cima e se sentou.
— Tô com sede. Vem comigo, me diz o que achou no caminho.
Félix abriu a porta para Miguel, vendo-o passar por muitos guardas parrudos sem o menor problema, inclusive eles abriam as portas para ele; por um milagre, dessa vez, os Salah’Adin se reuniam na sala sem gritar ou atirar coisas uns nos outros, embebidos em seu silêncio incômodo e desconfortável; Miguel desfila imponente entre eles, com as asas relaxadas, se movendo tranquilamente, enquanto os pais o encaravam com um olhar apagado, talvez quase arrependido.
— Você tava falando sobre o esconderijo. — Relembra Miguel, enchendo um copo de água para si no dispenser de uma geladeira gigante. Não sai nem uma gota quando ele aperta várias vezes. — Sério, Veronica? — Ele murmura, de má vontade.
— Era um lugar escuro, mas com certeza era uma Fenda. Faz sentido eles pedirem pra algum tipo de Celestial, quem sabe até mesmo o Renzo de verdade ter aberto aquele portal. — Félix resmungou e abriu a outra porta, procurando por algo no congelador; não parou até encontrar pedras de gelo para colocar no copo dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cidade dos Anjos: O Conto da Rosa e Seus Espinhos
FantasyOlá... ainda tem alguém aí fora? Depois dos fatos da falha tentativa de unificação da Rebelião dos Celestiais levantada por Nikiel, o cerco começa a se fechar em torno daqueles que ele jurou proteção, deixando para trás perguntas que a resposta é tã...