CAPÍTULO ESPECIAL

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Vinte anos depois...

Olhava o homem à minha frente, cujo rosto estava bastante envelhecido, diante de muitas bebidas e drogas que consumia diariamente, esperando terminar de ler as observações que fiz em seu contrato estipulado, onde fecharemos um acordo entre as nossas empresas, além de que isso o tornaria mais um aliado à máfia portuguesa.

O que tem de pessoas buscando as regalias que a organização proporciona, não se pode contar. O problema é que a maioria delas não pensa nas consequências que isso lhe acarreta. E a cobrança delas é difícil de lidar.

- Estou de acordo! - O homem diz, depois de soltar uma lufada da fumaça do charuto para o ar.

- É claro que estaria! Já havia concordado antes, por que motivo mudaria agora? - Indaguei e ele me olhou curioso.

- Certo, menino! - Ergui uma sobrancelha em sua direção pela forma que falou comigo. - Relaxa, capo Marino. É que parece jovem demais para um cargo tão importante. Tem de estar bastante preparado para o ofício.

Odiava quando me tratavam como um moleque irresponsável apenas pela minha idade. Coisa que eu nunca fui. Desde sempre, aprendi com meus pais a ser um homem honrado, correto, justo e paciente. Um benefício que nossos inimigos tinham de mim e não valorizavam: a paciência.

- Minha capacidade não é medida pela minha idade, senhor Trivolli. As coisas que eu faço e os resultados que obtenho em minha gestão são as cartas de apresentação que trago e quanto a isso, nem você e nem ninguém pode contestar. - Falei, mantendo o contato visual. - Por isso, limite-se a assinar este papel, pois eu preciso ir. - Digo, prendendo seus olhos nos meus.

Todos diziam que meu olhar deixava as pessoas desconcertadas. Inclusive, dificilmente uma mentira contra mim era mantida, já que eu fazia a pessoa me olhar até que ficasse constrangida e me contasse. Não sei explicar o que é, mas sempre dá certo.

- Claro, senhor. - Sorriu desajeitado, assinando e servindo dois copos de bebidas para nós. - Vamos brindar.

- Eu não consumo bebidas alcoólicas. - Declinei e mais espantado ainda ele ficou. - Já fechamos e então vou embora. Espero não precisar voltar aqui para resolver pequenos problemas como este, já que um e-mail resolveria tudo.

- Eu não sou um homem muito dado a essas tecnologias, pequeno Gabriel. - Falou e apertei minha mão em punho, irritado com a forma que me chamou.

- Se parasse de usar essas drogas e deixasse de ser um bêbado, lhe sobraria tempo para aprender. - Levantei-me da cadeira e os homens que estavam comigo fizeram o mesmo.

Desde quando terminei minha faculdade de direito, segui os passos do meu pai, tomando à frente da organização portuguesa. Isso tal qual o meu primo Lukas, que passou a ser nosso chefe geral e comanda tudo dos Estado Unidos, como meu tio Lorenzo, que agora se aposentou do máfia, já fazia.

Meu primo, que se tornou um cardiologista como nosso avô, é um homem tão cruel quanto meu tio Lorenzo já foi. A mesma impaciência, irritabilidade e vício por musculação ele herdou. Na verdade, eles são a cópia um do outro.

Por outro lado, eu tento ser mais tranquilo e paciente com aqueles que acabam atravessando nosso caminho. Aprendi com minha mãe que todos merecem uma segunda chance, ainda que alguns não saibam aproveitá-la. E concordo com ela.

Fazer o correto e ser benevolente, independe do retorno que trará para si. É algo que todos deveriam fazer, sem esperar nada em troca, pois faz um bem danado a si mesmo. E eu tento ser assim.

Meu pai já é mais limitado em paciência e desde que comecei a treinar para tomar seu lugar na organização, me orientou a ficar bastante esperto com quem está ao nosso lado. Que nem todos, mesmo que parentes nossos, são dignos de nossa total confiança. Ele afirma isso devido ao que aconteceu com minha tia Helena há alguns anos, onde a própria irmã fez um verdadeiro inferno da sua vida.

REGENERAÇÃO MARINO II (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora