O Próximo Hit

31 - O outro lado da moeda

Não havia sinal nem de Renan, nem de Débora quando o segurança abriu a porta do camarim e me colocou para dentro.

Estava vazio.

O homem me deixou ali sozinha e fechou a porta quando saiu.

Respirei fundo, sentindo meu coração martelar de doer no meu peito. Dava para ouvir de longe o show seguindo e eu sabia que deveria ter pelo menos mais uma hora até ele terminar.

Sentei numa das cadeiras dos fundos, puxei o telefone e fui para as redes sociais. Eu queria saber quanto tempo eu teria até minha aparição nos shows estar rodando pela bolha dos fãs.

Não demorou mais que dez minutos.

Virou assunto mais comentado nos trends topics, tanto o fato dela estar relembrando o Zero, quanto o fato de ter dedicado aquela música para mim.

ViLus já estavam traçando teorias e os céticos estavam em polvorosa. Agora estavam me atacando, dizendo o quão trouxa eu era se aceitasse aquela declaração forjada pra limpar a imagem dela.

Sério, fãs ou haters? Eu não conseguia entendê-los. Existe uma gente que vai para a internet só para criticar, realmente!

Mesmo de longe, eu escutei o fim do show. A ansiedade que eu estava controlando, explodiu quando comecei a contar quanto tempo ela demoraria para chegar até ali.

Respirei fundo, ajeitei minha postura e fingi o máximo de normalidade possível. Eu não queria que ela chegasse e me encontrasse tensa, feito um cachorrinho aguardando a volta do dono.

Ouvi vozes vindo pelo corredor.

— Não vou dar declaração nenhuma agora, já conversamos sobre isso. – era a voz de Lu.

— A equipe de marketing está enlouquecendo no meu WhatsApp faz uma hora, Luiza. – ouvi a voz de Débora – A gente não vai conseguir controlar esse furo por muito tempo, fãs flagraram a Victória e o vídeo furou a bolha.

— Melhor a gente controlar como essa história vai vazar. – era a voz de Renan, ele parecia menos nervoso que a outra – Ou você se posiciona, ou vão te posicionar como eles quiserem.

Os passos pareciam ter parado na porta.

— Olha, no momento, eu estou preocupada em resolver outra coisa, não o que falam ou deixam de falar de mim na mídia. Afinal, esse é o trabalho de vocês, não o meu. O meu é produzir arte e subir naquele palco para apresentá-la ao público. E durante cinco anos inteiros, eu abri mão de tudo na minha vida pra isso, exatamente pra não ter que ficar me preocupando se o que falam ou deixam de falar, vai atrapalhar o que realmente importa, que é a minha música. Eu acho que já cheguei neste lugar.

— Rá! É o que todo mundo acha até sair uma fofoca tendenciosa e estragar toda uma carreira! – Débora desdenhou.

— É pra resolver esse tipo de problema que vocês ficam com metade dos meus lucros, né? – seu tom de voz era inquisitivo.

Me deixou surpresa. Em todo o tempo que estive com ela, tanto no passado, como agora, nunca a vi falar com eles daquela forma.

A porta se abriu de súbito.

Luiza me encarou e eu sustentei seu olhar, fingindo estar muito calma com a situação. Ignorei completamente o frio na minha barriga e o arrepio na minha espinha. Vi de relance a expressão desgostosa no rosto de Débora e o cansaço no rosto de Renan.

— Preciso de privacidade agora. – ela anunciou aos dois, sem encará-los – Falo com vocês depois.

Fechou a porta na cara deles, sem pedir licença.