30 - Armadura de ressentimento

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Eu ia me encontrar com a Luiza, mas antes eu ia me munir.

Se eu não mantivesse meu ressentimento por ela em dia, provavelmente me jogaria em seus braços no primeiro “me desculpa” que ela balbuciasse.

Eu não estou orgulhosa de ter quebrado minha própria regra sobre minhas contas fakes e ido procurar por ViLu no Twitter, escolhido à dedo as conversas do lado cético que ainda a colocava como a vilã do nosso término de cinco anos atrás, e passado os dias até o show, lendo por horas comentários ácidos sobre a nova era de sua carreira.

Não tem nada melhor para alimentar o ranço de uma pessoa pública, do que ler comentários de pessoas anônimas que compartilham desse mesmo ranço que você!

Os posts que eu fiz e apaguei ainda estavam repercutindo e sendo usados por essa gente como prova do mal caratismo de Lu comigo – já que no ponto de vista deles, ela voltou a me seduzir só pra fazer um pink money gratuito e divulgar o novo álbum cheio de letras modinhas, pra depois me descartar novamente e eu estaria puta com isso, por isso lancei a indireta.

Essa gente era fã ou hater?

Os links do Zero também continuavam rodando pela bolha, mesmo que eu o tenha apagado. Os fãs que voltaram a subi-lo para download o estavam chamando de Inominável, para não serem encontrados por sua equipe.

Espertos!

Me senti acolhida entre os céticos, até curti algumas postagens com a qual meu rancor se identificou.

Mesmo que no fundo, eu estivesse ansiosa pelo encontro e meus sonhos com ela me traíssem todas as noites, até o dia do show, eu me sentia mais protegida e pronta para escutar o que ela tinha a dizer, dar meia volta e seguir minha vida.

Aquela não seria uma conversa de reconciliação, seria um ponto final para todas as coisas mal resolvidas entre nós, um fim definitivo.

O Curumim era uma arena com uma arquitetura oval moderna e capacidade para quinze mil pessoas. Os ingressos já estavam esgotados quando eu voltei de viagem – tentei comprar para poder chegar lá de peito estufado, bancando que não devia nada a ela, mas infelizmente pra mim, Lu já era uma potência musical que fazia as pessoas lutarem com unhas e dentes por um lugar em seu show.

Eu teria que me contentar em confiar que ela tivesse deixado um segurança à minha espera como da primeira vez e me sujeitar a ver as pessoas na fila me julgando por estar entrando pela janela.

Cheguei bem em cima da hora do show, ainda tinha uma fila enorme de pessoas entrando, animadas, ansiosas e barulhentas.

Lá estava o segurança à minha espera. Vitor, o brutamontes de terno preto, fez um sinal para que eu me aproximasse quando me reconheceu, me colocou para dentro pela entrada de funcionários e me levou para a frente do palco, sem dizer mais que “Boa noite, por aqui”.

Eu não queria ficar tão aparente para ela. Dessa vez, queria que ela entendesse que seria nos meus termos.

Pedi ao segurança para me colocar na pista, mais para o meio do espaço. Ele achou estranho, mas acatou meu pedido. Eu sabia que ele diria a ela que eu estava ali, de qualquer forma, além do mais, minha altura me permite ficar confortável para assistir, mesmo no meio de grandes aglomerações.

Mas se arrependimento matasse, até a hora do show começar, eu estaria morta!

Um calor insuportável, pessoas se acotovelando e um falatório que estava fazendo minha cabeça sobrecarregar.

Quando o show começou, a gritaria quase conseguiu abafar o som das caixas. Mesmo com minha altura considerável, havia uma montanha de telefones na minha cara, sendo estendidos o mais alto possível para gravarem o que acontecia no palco.

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