Uma xícara fumegante de chá. Estou observando como a fumaça sobe em espiral para não ter que encarar Luiza, sentada à minha frente, na ilha bem no meio da sua imensa cozinha.A frieza da pessoa de, depois de soltar a bomba do “precisamos falar sobre isso”, ter me arrastado para a cozinha com ela e ficado em absoluto silêncio enquanto nos fazia chá.
É, dá pra ver bem quem de nós superou e quem ainda vive atrelada ao passado, por aqui.
— Eu não te deixei, Victória, eu te vi desistindo da gente. – ela quebrou o silêncio.
A frase parecia pairar entre a gente.
— Te vi me julgando nas minhas escolhas, enquanto eu tentava nos arrastar juntas para cima. Você estava afundando por sua própria escolha e eu tinha as minhas escolhas pra fazer, só que eu só te dei as costas quando você virou as suas para mim, primeiro.
Claro, coloque a culpa na que fracassou na vida. Pouco importa se você pisou em tudo e em todos, fechou os olhos para coisas tortas, apenas para jogar o jogo deles. Obvio que a culpa era minha. Por que não seria?
— Você não está me escutando.
— Estou sim. – ergui meus olhos para ela, me arrependi, voltei a olhar par a xícara.
— Não está, não. Você está tão convicta de que fui a única vilã que está ignorando tudo o que estou dizendo.
— Você não vai me convencer de que fui a culpada da situação.
— E não foi. A gente tinha vinte anos, muito ego, muitas inseguranças. E, parando pra pensar nas coisas do seu ponto de vista, pode ter parecido mesmo que eu te troquei pela minha carreira.
— É, você tem razão.
Fiz menção de me levantar. Lu se inclinou sobre o balcão e segurou minha mão, me fazendo ficar.
— Eu não quero escutar que eu tenho razão.
Voltei a sentar, cruzei os braços sobre o balcão e apoiei meu queixo sobre eles.
— Por que você acha que eu abriria mão do que a gente tinha?
Ela me faria mesmo me humilhar daquela forma. Respirei fundo.
— Você sempre foi ambiciosa. E teve uma série de outras coisas que aconteceram, que você via de boca fechada.
— Eu precisava ficar de boca fechada naquele momento, Vicky. Era um meio pra um fim.
— Mas esse meio sempre passava por mim. Eu estava feliz com o que a gente tinha, com o que você estava conquistando sozinha sem tudo isso a sua volta.
— Mas eu não. Eu queria mais do que ter um público nichado e fazer apresentações pra quinhentas pessoas num barzinho.
— Esse é o ponto. Por isso, quando me mandaram embora, eu fui.
— Mas ninguém te mandou embora.
— Mandou, sim. – dei um sorriso triste.
— Quando?
Não acredito que ela ia fingir que não se lembrava do que aconteceu. Eu queria entender seus motivos para continuar ignorando todas as atitudes egoístas que teve comigo em prol de seguir o que os empresários queriam pra ela.
— Não faz diferença agora, Luiza. – desviei meu olhar, novamente.
— Quando? – repetiu a pergunta com firmeza.
A lembrança voltou à minha cabeça, sem que eu conseguisse controlar.
Sete por cento dos royalties. Eu estava sendo roubada pela própria equipe dela e ela estava vendo calada. Eu não ia ficar calada. Brigamos pela enésima vez naquela noite, eu estava com raiva de sua condescendência, ela estava cansada e não queria mais discutir. Me deixou falando sozinha e saiu pela porta, não voltou pra dormir.
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O Próximo Hit
RomanceVicky e Lu eram um casal apaixonado, até que uma oportunidade para o estrelato no mundo da música, as separou. Cinco anos se passaram e Vicky é uma compositora à beira de desistir de sua carreira, enquanto Lu é uma cantora pop em ascensão. Seus cam...