8 - Águas internacionais

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Admito que gostei do meu vestido, fez até parecer que tenho curvas.

Mas não importava o quão excepcionalmente bonita e arrumada eu estava naquela noite, Luiza estava dez vezes mais incrível.

Eu sempre gostei de suas gordurinhas extras, mas preciso admitir que o corpo malhado caía bem nela. Não havia ficado com aquele aspecto endurecido como a maioria das pessoas, só havia deixado suas curvas mais bonitas. Juntando isso ao combo de lábios vermelhos bem desenhados, e o cabelo cor de rosa bem arrumado, ela parecia uma deusa e eu uma adolescente pronta para o baile.

Bom, eu não ligava. Estava ali contra a minha vontade e depois do climão que eu mesma coloquei entre nós duas mais cedo, eu só esperava que tudo corresse bem.

Nem Débora, nem Renan estavam conosco dessa vez, o carro luxuoso nos deixou na entrada do cais e caminhamos juntas até o imenso barco parado, a espera de todos os convidados entrarem para zarpar.

— Então, que tipo de festa eu posso esperar? – resolvi quebrar o gelo. – Vai ser tipo champanhe e caviar?

Luiza deu uma risadinha discreta.

— Caviar está fora de moda. Mas não se preocupe, a pompa vai acabar assim que estivermos bem longe da costa. Conhecendo bem a Fabiana, espero que sua ressaca esteja melhor. Amanhã você vai estar querendo morrer.

— E você conhece bem a Fabiana? – questionei. – Quer dizer, isso não é só mais um daqueles eventos onde convidam celebridades para sair em sites de fofoca? – consertei antes que ela imaginasse alguma insinuação.

— Sempre é. E não é ao mesmo tempo. A Fabi gosta de aparecer até a página dois. Mas o motivo pelo qual eu fiz questão que você viesse é que esse é um dos poucos eventos de zona segura em que muitos artistas se juntam num único lugar. – explicou, enquanto subíamos para o convés.

— Zona segura?

— Sem paparazzi, sem colunista, sem ego. – explicou – A Fabi é boa nisso. Aqui todo mundo pode ser comum o que me lembra... – parou de andar e virou-se de frente pra mim – Não comenta o que quer que você veja por aqui.

Dei uma risadinha seca.

— Parece até que estou prestes a viver um momento em De Olhos Bem Fechados. – caçoei.

— Depende com quem você for se meter. – ela achou graça da minha expressão assustada.

Me arrastou para dentro do salão e as horas seguintes foram cheias de cumprimentos e conversas breves e casuais.

Não era surpresa saber que Lu realmente conhecia todo mundo. Ela era uma artista de ponta. Uma carreira consolidada, muitos prêmios acumulados, uma série de êxitos nos charts. O surpreendente era ver o nível de intimidade genuína que havia ali, as pessoas realmente gostavam dela. Ou bem, do que ela mostrava para as pessoas.

Porque ela mudava a forma de falar com cada novo grupo que se apresentava. Mais contida para os mais velhos, mais solta para os mais jovens. Mais cordial com uns, mais intelectual com outros. Ela poderia ganhar uma eleição presidencial com essa lábia, mas preferia só ganhar os charts.

Eu não estava errada sobre virar o bibelô da magnífica Lu naquela noite, pelo menos enquanto o assunto música não surgia nas rodas. O primeiro a quebrar o gelo com isso, foi Amadeu.

O veterano da MPB já passava dos sessenta, mas tinha uma visão de mercado muito fresca. Ficou encantado quando soube que eu era compositora e eu fiquei surpresa do quanto conseguimos trocar uma ideia. Bater papo com o pessoal do rock foi ainda mais fácil, sempre tive uma veia no gênero.

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