6 - Primeira Harmonia

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Não posso dizer que os sacrifícios de Luiza não lhe deram frutos.

Morava numa mansão, dessas com quilômetros de propriedade, cômodos que caberiam casas dentro, obras de arte nas paredes e móveis planejados que pareciam nunca terem sido usados.

Pelo menos se vender pra indústria havia lhe dado uma vida confortável.

Eu estava tentando não parecer surpresa, enquanto a acompanhava pelos corredores extensos, mas Bingo ao meu lado estava tão calmo que eu comecei a me perguntar quantas vezes ele já havia visitado aquela casa antes.

Pra mim, havia ficado claro, durante a viagem até ali, que a única pessoa que ela havia cortado de sua vida, tinha sido eu.

Afastei os pensamentos sentidos da minha cabeça, precisava me concentrar para o trabalho que deveríamos fazer.

Lu abriu a porta dos fundos do corredor e acendeu a luz, revelando um estúdio singelo de gravação.

Não era tão grande quanto o Sonar e perto do resto da casa, parecia até um armário de vassouras – um armário de vassouras no qual eu poderia viver bem.

— Bingo, minha mesa não é tão incrível quanto o do Sonar, mas acho que você vai se acostumar com ela. – apontou a mesa de som ao fundo.

O homem esfregou as mãos como se tivesse visto um brinquedo divertido.

— Perto das minhas, isso aqui é uma nave. – nos deixou para trás e adentrou à sala.

Lu se virou para mim e fez sinal para que eu entrasse na frente dela. Obedeci. Havia um sofá num canto, um microfone profissional no centro, uma coleção pequena de guitarras e violões e um piano de canto aos fundos.

— Cordas para animadas, teclas para melancólicas, né? – ela parou às minhas costas enquanto eu admirava seus instrumentos muito bem arrumados, parecendo intocados.

— Quantas vezes você realmente usou este lugar? – me virei para encará-la.

— Poucas. Me mudei há um ano e passo muito pouco tempo por aqui. – admitiu – Mas é tudo usável. Vocês tão com fome? Eu não pretendo sair daqui até a gente ter uma demo.

— Bom, se tiver um cafézinho eu aceito. – Bingo respondeu.

— Café pro Bingo. E pra você?

Neguei com a cabeça.

Luiza desapareceu pela porta. Me voltei para o engenheiro de som, aproveitando o momento a sós com ele:

— Então, você a convenceu a me incluir nessa por que motivo?

O homem olhou para mim e coçou o bigode.

— E porque acha que foi minha ideia?

Puxei uma cadeira para perto dele e sentei.

— Porque você está aqui.

— Foi surpresa para mim também. Ela disse que queria resgatar um pouco o clima de como era antes da fama, mas com aqueles dois carcereiros e o tal DJ, eu achei difícil disso acontecer. – ele admitiu.

— Pelo menos eu tenho um aliado nesse circo. Francamente, não sei o que estou fazendo aqui. Não sei o que ela quer com tudo isso e, seja lá o que for, tenho certeza que será convencida por aqueles dois a deixar pra lá, no fim das contas.

— Pelo menos dessa vez temos um contrato. De uma forma ou de outra, vão ter que nos pagar.

— A você, sim. Compositor só se fode nessas coisas.

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