Senti algo vibrar debaixo da minha cara. E um frio que me fez tremer. Abri os olhos, sentindo a visão turva e uma dorzinha chata no fundo da cabeça. Esperei focar. Me dei conta de que havia pegado no sono em cima da escrivaninha.Eu não tinha uma escrivaninha.
Meu Deus, onde é que eu estou?
Me forcei para erguer meu rosto e observei o quarto por um momento. A memória foi voltando aos poucos.
Era trabalho, eu estava num camping de composição. Eu deveria estar trabalhando em algo quando peguei no sono. A dor no fundo da minha cabeça o gosto ruim da minha boca me indicavam que eu bebi demais na noite anterior.
Uma nova onda de frio me fez abraçar meus próprios braços. Eu estava nua da cintura pra cima. Provavelmente bebi demais mesmo, a quentura da bebida me fez arrancar tudo, enquanto tentava trabalhar.
O telefone ainda vibrava sobre a mesa e uma foto conhecida aparecia no visor. Era Luiza.
Meu instinto de atender foi mais rápido do que meu raciocínio, só me dei conta de que era uma chamada de vídeo quando vi seu rosto maquiado na tela.
Suas sobrancelhas se ergueram de surpresa, me lembrei da minha nudez e procurei ajeitar a câmera o mais rápido possível, mas era tarde demais, ela já estava rindo da situação.
— Bom dia, Victória. – havia um ar de deboche na sua voz risonha – Eu tô atrapalhando alguma coisa?
— Só o meu sono de ressaca, infelizmente. – esfreguei os olhos.
Estava sentindo meu pescoço esquentar de vergonha, mas eu iria ignorar essa situação.
— Ressaca, é? Sei. – Lu estava tentando segurar o riso e me olhando com desconfiança.
Estava fazendo de propósito pra me zuar e eu sabia disso. Era o troco da ligação de dois dias atrás.
Depois de duas semanas intensas, em que finalizamos o primeiro single e escrevemos mais duas músicas do meio do álbum, tivemos que interromper o fluxo da música número um do disco para que ela fosse até a cidade de Marina, no estado Litoral, gravar o feat com o tal MC Killa. Mas as ideias continuaram surgindo e não podíamos desperdiçar, então duas noites atrás, fiz uma chamada de vídeo para ela no fim da noite e a encontrei imersa em uma banheira de hidromassagem, coberta de espuma. Nada disso seria anormal se não tivesse um pé intruso aparecendo na ligação. Ela estava acompanhada quando me atendeu, mas negou quando eu insinuei só para implicar, e passou o resto da ligação fingindo que eu não sabia que havia interrompido alguma preliminar.
Três semanas de convivência e nossa intimidade de fazer brincadeiras da quinta série já havia sido restaurada.
— Você teve alguma nova ideia para a letra de “Aquela em que minha mãe me viu cantando e disse que eu seria uma estrela”? – resolvi tomar o foco da conversa.
— Ainda não. – respondeu – Mas eu preciso que você venha para cá hoje à noite.
— Para cá, aonde? Você não deveria estar no Litoral?
— Estou. Finalizamos a gravação, mas vou ficar até amanhã. Fabi Godoy está fazendo aniversário e estou na lista de convidados. Já avisei que vou acompanhada. Aliás, você tem algum problema com barcos? Eu não me lembro se chegamos a fazer algum passeio juntas. – franziu a testa, como se tentasse forçar a memória.
— Não fizemos e não tenho. – respondi – E não tem a menor possibilidade de eu sair do estado hoje, nem recursos pra chegar aí até a noite. Estou no meio de um camping de composição e só termino na terça.
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O Próximo Hit
RomanceVicky e Lu eram um casal apaixonado, até que uma oportunidade para o estrelato no mundo da música, as separou. Cinco anos se passaram e Vicky é uma compositora à beira de desistir de sua carreira, enquanto Lu é uma cantora pop em ascensão. Seus cam...